Início » Dia da Terra – Um olhar rápido por 36 anos de um Portugal natural ameaçado
A associação ambientalista ZERO pegou na nova ferramenta da Google Earth que, em progressão rápida (time-lapse), nos permite ver a evolução de diferentes locais do mundo entre 1984 e 2020. Em Portugal, descobriu espaços profundamente alterados. O impacto do crescimento urbanístico e as marcas de desastres naturais relacionados com as alterações climáticas são visíveis. No Dia da Terra, que se assinala nesta quinta-feira, a seleção da Zero mostra-nos, segundo a própria, “um Portugal natural ameaçado”.
Fonte: Público
De campos praticamente vazios, a estenderem-se até ao mar, a hectares e hectares de áreas cobertas com o plástico das estufas. Aqui, a paisagem alterou-se radicalmente, com a marca da agricultura intensiva. O que a imagem não mostra, mas a ZERO lembra, é que esta mudança foi acompanhada do uso de pesticidas, fertilizantes e de um grande consumo de água, que “põem em causa os valores naturais que deveriam estar salvaguardados”.
Duas imagens foram selecionadas para mostrar como os grandes incêndios de 2017, influenciados pelas alterações climáticas, mudaram a paisagem junto à costa e no interior do distrito de Leiria.
Do verde, passou-se ao castanho, sinónimo de território ardido e da floresta perdida. Os grandes incêndios de 2017, recorde-se, causaram a morte de mais de cem pessoas e devastaram milhares de hectares de floresta, incluindo o Pinhal de Leiria.
O desordenamento do território, com uma catadupa de construções a estenderem-se até aos limites da costa, é particularmente visível na imagem da península de Tróia. A ZERO lembra que parte da península está classificada como Reserva Natural do Estuário do Sado e área da Rede Natura 2000, mas que nem isso impediu que fosse ocupada “por um suposto turismo de segunda habitação, que ocupou zonas lunares e relevantes da costa portuguesa”.
O Algarve dos anos 80 e o de agora têm muito poucas semelhanças, sobretudo se olharmos para locais como Quarteira e Tavira, as duas áreas escolhidas pela Zero nesta região do país.
O crescimento de empreendimentos turísticos (hotéis e campos de golfe) mudou drasticamente a paisagem, de um território que, como salienta a associação, é “vulnerável à seca e onde o turismo de massas se veio a revelar pouco resiliente a crises como a da pandemia e, no futuro, às alterações climáticas”. O desenvolvimento que ali se vislumbra, diz, é “insustentável”.
Se olharmos para as regiões afetadas pela construção de barragens, como as de Alqueva e do Sabor, a influência destas estruturas na paisagem é absolutamente marcante.
“A bem da produção de eletricidade e/ou da agricultura intensiva”, cursos de água quase invisíveis transformam-se em bacias largas de água. Isto, diz a ZERO, deixou “submersos ecossistemas e paisagens únicas, áreas agrícolas e aldeias”.
De um mosaico em vários tons de verde, a paisagem entre a aldeia de Salvada e a de Quintos, a sul e oeste do Guadiana, no distrito de Beja, transformou-se numa zona de hiperconcentração de verde, rodeado pelo castanho de terreno seco e vazio em redor, descrevem os ambientalistas. É a agricultura intensiva de olival/amendoal que tomou conta da região a transformá-la por completo.
É difícil ainda não termos ouvido falar do problema da erosão costeira, que afeta Portugal. As imagens que esta ferramenta nos traz da zona Norte da Apúlia, em Esposende, são um exemplo claro dessa alteração.
Daqui a alguns anos, as praias que enchem as memórias e sonhos de muitos portugueses poderão deixar de existir, por força da falta de sedimentos que reponham a areia necessária. E ainda falta perceber exatamente como é que a projetada subida do nível do mar, causada pelas alterações climáticas, irá pesar nesta mudança. Por enquanto, o que já se perdeu fica claro nestas imagens.
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