Início » Objetivos climáticos da União Europeia estão em risco devido à queima de florestas para energia
Um novo relatório publicado pela Partnership for Policy Integrity (PFPI) [1] mostra que a União Europeia, incluindo Portugal, está a perder os seus sumidouros de carbono florestal a um ritmo alarmante, e o aumento do corte de florestas para produção de energia de forma a atingir as metas de energias renováveis é uma das principais razões para tal.
Com base em dados governamentais sobre a utilização de biomassa e o estado atual do sumidouro de carbono nos Estados-Membros da UE, contata-se que a queima da floresta, um importante aliado no sequestro de carbono, revela como a política de biomassa florestal da UE está a minar o clima, o restauro da natureza e os objetivos de qualidade do ar.
A conclusão desta investigação é que muitos Estados-Membros, e a UE como um todo, não conseguirão cumprir os seus objetivos em matéria de clima, natureza e qualidade do ar, a menos que os líderes europeus reformem as políticas de energias renováveis que estão a conduzir à degradação das florestas.
A partir dos dados apresentados para Portugal, tendo em consideração somente os dados da última década, existem quatro importantes fontes quanto à produção de biomassa: madeira, pellets de madeira, licor negro e outros resíduos. A madeira e os pellets de madeira com um valor equivalente a mais de 6 milhões de toneladas, representam mais de 50% de toda a biomassa.
É notório que, nos últimos 10 anos, houve um incremento na utilização de biomassa em diversos setores, sendo este mais relevante ao nível da produção de energia no setor industrial, seja ela numa componente de produção de eletricidade ou num misto de produção de eletricidade e calor. O consumo de biomassa no setor residencial tem-se mantido estável.
Quando se olha para o consumo de energias renováveis nos setores dos transportes, eletricidade, aquecimento e arrefecimento, aproximadamente 40% resulta da queima de biomassa, com o setor residencial a corresponder a 15%. Quando se olha para a importância da biomassa para a produção de eletricidade, cerca de 10% da eletricidade produzida em 2020 teve origem na queima de biomassa.
À semelhança do que já tinha sido mencionado anteriormente no relatório da ZERO [2], Portugal é um país essencialmente produtor e exportador de pellets de madeira para países da UE como a Dinamarca e os Países Baixos, onde são utilizadas como combustível em centrais de biomassa e em centrais a carvão recentemente convertidas para biomassa.
O papel dos decisores políticos da União Europeia
No passado mês de setembro, o Parlamento Europeu votou um conjunto de alterações à Diretiva das Energias Renováveis (RED), onde se incluem de forma tímida alterações na política de biomassa na União Europeia, nomeadamente uma redução gradual da queima de biomassa lenhosa primária proveniente diretamente das florestas.
Na fase de negociações que está a decorrer, dos Trílogos envolvendo negociadores do Conselho Europeu, Comissão e Parlamento, resultará na aprovação de uma nova redação da Diretiva das Energias Renováveis, a qual se espera que seja ambiciosa e que verdadeiramente contribua para a sustentabilidade, com a efetiva redução de emissões e promovendo o importante papel das florestas na resolução desta crise climática. Para que tal seja uma realidade, é fundamental que os Estados-Membros, entre os quais Portugal, tenham um papel ativo defendendo:
Notas:
[1] Link para o relatório: https://forestdefenders.eu/wp-content/uploads/2022/11/PFPI-Burning-up-the-carbon-sink-Nov-7-2022.pdf
[2] link para o barómetro: https://zero.ong/wp-content/uploads/2022/06/barometro-2022-pt-.pdf
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