Início » ZERO quer acompanhamento do Fundo Ambiental, melhor fiscalidade automóvel e economia circular no Orçamento para 2022
Sete propostas para tornar o Orçamento do Estado mais circular e reduzir as emissões de carbono
Como já é habitual, a ZERO partilhou há algumas semanas atrás com todos os grupos parlamentares e vários Ministérios as suas propostas para o Orçamento do Estado de 2022. Desta vez, a opção foi selecionar um conjunto limitado de propostas, assentes numa argumentação robusta, que se espera que agora possam vir a ser integradas no documento na discussão na especialidade e idealmente serem aprovadas.
No sentido de promover a transparência e garantir que os investimentos feitos respeitam os objetivos para os quais foi criado, é proposto que o Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS) passe a ter um papel mais interventivo no acompanhamento do Fundo Ambiental. Acabar com os subsídios perversos à incineração, promover opções reutilizáveis e incentivar a reparação de equipamentos são as propostas na área da economia circular. Na área da mobilidade, são as alterações à fiscalidade e o progressivo desaparecimento dos apoios aos veículos híbridos plug-in que merecem destaque.
AUMENTAR A TRANSPARÊNCIA DA GESTÃO DO FUNDO AMBIENTAL
Com vista a garantir uma maior eficácia da política de ambiente, o XXI Governo Constitucional (2015-2019) concentrou os recursos dos fundos anteriormente existentes, criando para tal um único Fundo Ambiental. Volvidos cinco anos sobre o funcionamento do Fundo Ambiental, são muitas as reservas e preocupações que a ZERO tem vindo a manifestar relativamente à gestão que está a ser efetuada.
Proposta
Perante um excessivo domínio da tutela do ambiente sobre a condução estratégica e as orientações de atribuição de apoios do Fundo Ambiental, a ZERO propõe a atribuição de uma nova competência ao Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (criado pelo Decreto-Lei n.º 221/97, de 20 de agosto, tendo o seu mandato e orgânica sido alterados e reforçados pelo Decreto-Lei n.º 136/2004, de 3 de junho), no sentido que este passe a ter um papel ativo na definição da política de alocação, anual e plurianual, de recursos financeiros, através de parecer vinculativo, como também anualmente se pronuncie sobre as contas e os relatórios de execução referentes ao ano anterior.
PROPOSTAS NA ÁREA DA ECONOMIA CIRCULAR
O Ministério do Ambiente e da Ação Climática decidiu, através da Secretaria de Estado da Energia, subsidiar até 2024 a incineração de resíduos urbanos efetuada na Lipor e na Valorsul, recorrendo para isso a verbas do Fundo Ambiental.
De acordo com a estimativa divulgada pela ERSE[1], estes subsídios aplicados a uma atividade contrária à economia circular atingirão um valor de cerca de 73 milhões de euros até 2024.
O uso de recursos públicos tão avultados para subsidiar uma operação de gestão de resíduos que não contribui para a Economia Circular e com elevadas emissões de gases com efeito de estufa é totalmente contrária aos interesses do país em termos de gestão de resíduos, de combate às alterações climáticas e ainda em termos de coesão nacional.
Proposta
A ZERO propõe que no Orçamento Geral do Estado para 2022 seja retirada a verba inserida no Fundo Ambiental destinada ao financiamento da incineração e que a mesma seja alocada ao apoio a ações e projetos que promovam uma economia circular.
No âmbito das discussões sobre o orçamento da União Europeia para o período entre 2021-2027 foi estabelecida, uma taxa de 0,80€ por quilograma ou 800,00€ por tonelada sobre as embalagens de plástico não recicladas em cada país. Dado que a taxa de reciclagem de embalagens de plástico em Portugal ronda os 35%, isso implica que 65% das embalagens de plástico colocadas no mercado português estão sujeitas à taxa europeia sobre embalagens de plástico não recicladas (cerca de 215 milhões de euros/ano).
Este custo, do nosso ponto de vista, tem de ser repercutido em quem opta por colocar embalagens de plástico no mercado, até como incentivo para prevenir a produção de resíduos.
Proposta
A ZERO propõe que seja aplicável às embalagens de plástico (independentemente dos polímeros usados) colocadas no mercado português uma taxa de 0,52€ por kg, equivalente a 520,00€ por tonelada, a partir de 1 de janeiro de 2022.
O valor da taxa que propomos decorre da multiplicação dos 65% (percentagem de embalagens de plástico não recicladas) pelo valor da taxa europeia prevista por kg/tonelada (0,80€ por quilograma ou 800,00€/ tonelada). Aplicando a taxa de 0,52€/kg ou de 520,00€/tonelada a 100% das embalagens de plástico colocadas no mercado, será angariado o valor necessário para pagar a contribuição portuguesa para esta taxa europeia.
Ainda que a economia circular seja apontada como o caminho a seguir, o facto é que as alterações legislativas mais recentes têm pecado por defeito na promoção de medidas eficazes que possam acelerar esta transição. É urgente dar sinais claros, de médio e longo prazo, sobre o caminho desejado.
Propostas
Em 2018, Portugal importou 5083,3 milhões de euros em equipamentos informáticos e produtos eletrónicos e óticos, além de 3091,2 milhões de euros em equipamento elétrico, perfazendo estas duas categorias 9% do valor total das importações de bens e serviços neste ano. É fundamental garantir que estes equipamentos tem uma vida útil tão longa quanto possível. A reparação é chave.
Proposta
A ZERO propõe que seja reduzida a taxa do IVA associado às reparações de equipamentos elétricos e eletrónicos, incluindo eletrodomésticos, alterando a mesma de 23% para os 6%, favorecendo o aumento do tempo útil de vida dos equipamentos e reduzindo a sua substituição antecipada. Para a ZERO esta é uma enorme oportunidade para formação e emprego no quadro de uma transição justa.
PROPOSTAS NA ÁREA DA MOBILIDADE
As emissões de CO2 dos transportes em Portugal têm vindo a subir nos últimos anos, desenquadradas das emissões totais da economia – desde 2013 e até ao período pré-pandemia, as emissões dos transportes subiram cerca de 12%, ao passo que as emissões totais se mantiveram idênticas (com oscilações pelo meio). Por este motivo, o peso dos transportes nas emissões totais, 28% na atualidade, tem vindo a subir fortemente, já acima das emissões do sector da energia.
Proposta
A ZERO entende que o critério cilindrada está obsoleto, e é redundante com o critério emissões de CO2, pois, em geral, carros com motores maiores têm mais emissões de CO2.
Para já, a ZERO propõe que o peso seja introduzido como terceiro critério no ISV, sob a forma de uma taxa em função do peso do automóvel, passando a mensagem de que é necessário considerar o impacto dos veículos mais pesados – que além de poluírem mais, provocam um maior desgaste nas estradas, acarretam maiores riscos para os peões em caso de atropelamento, são mais ruidosos, e têm uma pegada ecológica de fabrico maior.
Trata-se de uma taxa que não deve ser aplicada aos automóveis 100% elétricos (onde a bateria tem um peso assinalável) e, no caso dos híbridos plug-in, deve ser aplicada descontando o peso da bateria, de forma a não prejudicar por esta via os que tenham baterias maiores e por isso mais autonomia em modo elétrico. A ZERO sugere que a taxa seja progressiva e que se aplique a partir de um determinado valor de peso do automóvel, podendo começar nos 5 euros por kg adicional de peso a partir dos 1.400 kg de peso do veículo, e subindo para os 10 euros/kg a partir de um peso de 1.800 kg. A taxa pode ser desenhada numa lógica de impacto fiscal neutro, baixando o ISV nos carros abaixo do patamar de peso, beneficiando assim os automóveis mais leves ao mesmo tempo que se penalizam os mais pesados (lógica de bonus-malus).
Apesar os híbridos plug-in terem um desempenho ambiental mau, são vistos pelo Governo como “amigos do ambiente”, beneficiando de largos incentivos fiscais no Imposto Sobre Veículos (ISV), no Imposto Único de Circulação (IUC), no IVA e na tributação autónoma (no caso de empresas). A ZERO calcula que em Portugal os híbridos plug-in foram indevidamente apoiados com subsídios que terão ascendido em 2020 a mais de 43 milhões de euros.
Proposta
A ZERO entende que os benefícios estatais atribuídos aos híbridos plug-in, sob a forma de ajudas fiscais, devem progressivamente ser eliminados, reservando-os para automóveis 100% elétricos. Atualmente, os híbridos plug-in beneficiam de um desconto de 75% no ISV, que deverá baixar para os 25%; e as empresas só deverão poder rebater metade do IVA, ao invés da totalidade. A ZERO recomenda a aplicação das seguintes condições para estes automóveis acederem aos benefícios: (1) uma autonomia em modo elétrico mínima de 60 km (atualmente 50 km); e (2) acesso comprovado a pontos de carregamento, ou em casa ou no trabalho.
Por outro lado, a Zero propõe a reintrodução do incentivo ao abate de veículos em fim de vida, mas exclusivamente para apoio à compra de veículos 100% elétricos.
[1] https://www.erse.pt/media/12dj5kn2/parecer_projeto_portaria_tarifa_rsu.pdf
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