Início » Portugal desperdiça cerca de 100 milhões de euros por ano em nutrientes e matéria orgânica que poderiam ser utilizados na agricultura
Quando os portugueses se deslocam ao contentor mais próximo para depositar os seus resíduos talvez não saibam que 40% do total daquilo que depositam corresponde a bioresíduos que podem ser valorizados para produção de energia (biogás) e de composto útil para a agricultura. Mas assim não acontece a mais de 70% da fracção orgânica dos resíduos sólidos urbanos, de acordo com dados utilizados pela ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável e disponbilizados pela ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos.
Num exercício realizado pela ZERO, constatou-se que por ano, das 1,86 milhões de toneladas dos bioresíduos presentes nos resíduos sólidos urbanos nacionais, mais de 1,3 milhões de toneladas continuam a ser encaminhados para aterro e para incineração, enquanto apenas 500 toneladas são valorizadas. A ZERO também apurou que terão sido produzidas 60 a 70 mil toneladas de composto por ano, números que carecem de fiabilidade porque nem toda a informação solicitada aos sistemas de gestão de resíduos urbanos (SGRU) foi disponibilizada ou foi considerada válida. Significa isto que, anualmente, é desperdiçado um enorme potencial de produção de energia renovável que poderia ser injectada na rede eléctrica nacional para consumo dos portugueses e que são inutilizados milhares de toneladas de nutrientes – e também matéria orgânica – que poderiam ser devolvidas aos solos.
No que respeita aos nutrientes, designadamente o azoto, o fósforo e o potássio – que são aqueles que as plantas necessitam em maior quantidade para completarem o seu ciclo biológico – e à matéria orgânica, a ZERO estima que sejam desperdiçados 100 milhões de euros por ano em matérias fertilizantes orgânicas que poderiam ser utilizadas a baixo custo pelos nossos agricultores, numa área em que o país tem uma balança de pagamentos deficitária (em 2014 registou-se um défice de 28 milhões de euros entre importações e exportações) (1). É importante salientar que as plantas que consumimos na nossa alimentação, e também com que alimentamos os animais, retiram do solo uma grande quantidade de nutrientes. A manutenção da fertilidade do solo baseia-se num princípio fundamental: os nutrientes extraídos do solo pelas raízes das plantas devem ser repostos, na exata medida, através da aplicação de fertilizantes ou da fixação biológica do azoto com leguminosas. De acordo com este príncípio estabelecido há mais de século e meio, é de todo desejável devolver ao solo os bioresíduos tratados e transformados em composto, de modo a repor os nutrientes e incorporar a matéria orgânica do solo. O fecho do ciclo dos nutrientes é determinante para que o solo possa desempenhar o seu papel como principal substrato onde se produzem os alimentos humanos e animais.
A ciclagem do fósforo é particularmente importante. As chamadas fosforites – a matéria-prima dos adubos fosfatados – são um recurso mineral não renovável. À semelhança do “pico do petróleo” (peak oil), o “pico do fósforo” (peak phosphorus) é uma preocupação global atual, porque o sistema agrícola mundial não alimenta 7 mil milhões de pessoas sem fósforo, e a escassez de fósforo só pode ser protelada no tempo através da sua reutilização na agricultura. O fecho dos ciclos de nutrientes através da transformação dos bioresíduos em composto tem igualmente uma inegável dimensão ética.
Como inverter esta situação?
Sendo esta situação demonstrativa da nossa insustentabilidade e ineficiência no uso de recursos naturais, a ZERO propõe várias medidas que podem promover a economia circular, interligando agricultura, alimentação e provenção e tratamento de resíduos:
(1) Tanto as fosforites como o potássio, são matérias-primas importadas para serem processadas em Portugal. O azoto é reduzido a amónia (NH3) com custos energéticos elevadíssimos, estimando-se que 1 a 2% da energia fóssil consumida anualmente é investida na fixação química do azoto atmosférico.
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