GreenWatch: Serão realmente sustentáveis as linhas eco de marcas de fast fashion?
Os impactes ambientais e sociais da fast fashion
A fast fashion é um modelo de negócio da indústria da moda caracterizado por ciclos rápidos de produção e consumo, com lançamentos frequentes de novas coleções. Devido à necessidade de produção rápida e a baixo custo, as marcas de fast fashion muitas vezes optam por processos de produção com graves impactos ambientais e sociais.
A produção em massa de têxteis consome uma quantidade significativa de recursos naturais, energia e água. Além disso, utilizam principalmente materiais de baixa qualidade, como as fibras sintéticas derivadas do petróleo, que são nada mais do que plásticos. Temos ainda a questão da poluição, seja da água devido à utilização de inúmeras substâncias químicas e às grandes necessidades de uso de água durante o processo de produção da fibra, ou do solo devido às grandes quantidades de roupas (muitas com pouco ou nenhum uso) exportadas para países em desenvolvimento e acumuladas em lixeiras. Pela quantidade de roupa produzida nestes rápidos ciclos de produção, todos estes problemas são significativos, sendo a indústria da moda uma das mais poluidoras a nível mundial. Além disso temos ainda graves questões sociais associadas, uma vez que a pressão por preços baixos geralmente leva estas empresas a recorrerem a mão de obra barata em países fora da UE, com condições de trabalho precárias.
As linhas ‘sustentáveis’ das marcas de fast fashion
Algumas marcas de fast fashion estão aparentemente a implementar medidas para reduzir o seu impacto ambiental e social. Assim apareceram linhas ‘sustentáveis’, que alegam a utilização de materiais como o algodão orgânico ou as fibras recicladas, a redução do consumo de água e energia nos seus processos de produção, a implementação de programas de reciclagem, e a promoção de condições de trabalho justas nas suas fábricas. No entanto, para além de termos de ter sentido crítico quanto à verdadeira sustentabilidade de algumas destas soluções, tal como as fibras de plástico reciclado de que falaremos mais à frente, muitas vezes estas alegações são vagas e não consubstanciadas.
Seria de facto louvável ver um esforço e uma transformação da indústria da moda no sentido de maior sustentabilidade ambiental e justiça social. Mas lembremo-nos que estas marcas continuam a manter grande parte do seu negócio fora do campo da sustentabilidade. Deste modo, estas linhas parecem visar corresponder a um novo nicho de mercado onde podem vender a ‘consciência ambiental e social’, a preços mais elevados comparativamente à sua coleção não sustentável.
A nova regulamentação europeia… e as linhas ‘sustentáveis’ que desapareceram
Em março de 2022, a Comissão Europeia apresentou a ‘Estratégia da UE em prol da Sustentabilidade e Circularidade dos Têxteis’, com o objetivo de facilitar a ‘transição da UE para uma economia circular, com um impacto neutro no clima, na qual os produtos sejam concebidos para serem duradouros, reutilizáveis, reparáveis, recicláveis e eficientes do ponto de vista energético’. A estratégia estabelece por exemplo mínimos obrigatórios para a inclusão de fibras recicladas nos têxteis. Este ano, a Comissão apresentou uma nova regulamentação https://www.europarl.europa.eu/legislative-train/theme-a-european-green-deal/file-eu-textiles-strategy que, mesmo antes de entrar em vigor, conseguiu eliminar das vitrines e websites as “alegações verdes não substanciadas”, ou seja, as promessas de que um produto é benéfico para o planeta quando na realidade não o é.
Assim desapareceram as linhas ‘sustentáveis’ ZARA Join Life, H&M Conscious e Mango Commited, por exemplo.
Um dos exemplos mais conhecidos foi o da coleção H&M Conscious Choice, que chegou a ser alvo de uma ação coletiva no final de 2022 nos EUA, uma vez que violava leis federais de Estados como o Missouri e a Califórnia. Na realidade, os produtos não continham nada sustentável, além de uma percentagem maior de poliéster reciclado em comparação com a sua coleção usual. O facto de ser sustentável para começar é duvidoso, uma vez que o poliéster é um plástico, derivado do petróleo, e a sua reciclagem não é uma verdadeira solução para o problema dos resíduos plásticos, porque apenas prolonga a sua utilização mas eventualmente acabará como resíduo, contribuindo também para a libertação de microfibras para o ambiente. Mas ainda considerando que é uma tentativa de responsabilidade ambiental da empresa, a questão é que estes produtos eram apresentados como “produtos fabricados de forma responsável” ou “fechando o círculo”, o que é uma terminologia vaga e enganosa. O que esta nova regulamentação da CE já não permite.
A Zara também esteve sob atenção mediática quando se associou a uma startup americana chamada LanzaTech, especializada em converter emissões de CO₂ em tecidos têxteis. Criaram uma coleção sob a marca Join Life, que seria a sua nova linha de produtos sustentáveis. No entanto, a Zara recebeu muitas críticas por usar esta espécie de fachada verde para continuar de facto um modelo de superprodução de roupas: comprar, usar, descartar e comprar nova coleção, por mais sustentáveis que sejam os materiais utilizados, o que também neste exemplo é questionável, uma vez que neste ciclo os productos rapidamente são resíduos e libertam novamente as emissões de CO₂ capturadas. No entanto, a ZARA manteve o nome Join Life como parte de sua política de sustentabilidade, mas não aplicada a coleções ou produtos específicos com a justificação de que 61% dos produtos do grupo já respeitam os requisitos Join Life . Assim, a explicação dada pela empresa permite-os manter uma imagem de sustentabilidade.
Existem marcas de moda realmente sustentáveis?
Para realmente abordar os desafios da sustentabilidade na moda, é necessário repensar todo o modelo de negócio no sentido do seu redimensionamento e maior foco na durabilidade, reparabilidade, reciclabilidade e não toxicidade dos produtos produzidos, a par com a adotação de práticas como o uso de materiais sustentáveis e recicláveis. O prolongamento da vida útil das roupas, através da reparação e dos mercados de troca de roupas usadas, e educar os consumidores sobre a importância de escolhas conscientes e principalmente, sobre a questão da suficiência, são também elementos fundamentais
Existem de facto marcas que têm compromissos sólidos com a sustentabilidade em toda a sua cadeia de produção. Podem ser consultadas por exemplo no site Good On You https://goodonyou.eco/, que faz uma análise criteriosa da sustentabilidade e transparência das marcas.
O nosso veredicto
Devido ao seu modelo de negócio e aos impactes ambientais e sociais associados, não é possível considerar uma linha de fast fashion com alguns critérios ambientais ligeramente melhores (por vezes discutíveis), verdadeiramente sustentável. O nosso veredicto é Não.