Cultivar sem Solo: É a Hidroponia uma aposta viável em contexto de alterações climáticas?
A produção agrícola é o segundo maior emissor de gases com efeitos de estufa no mundo, a seguir ao setor energético, sendo responsável por cerca de 13 por cento das emissões. Na procura de formas de sustento humano que não tenham tamanho impacto no ambiente, surge a técnica da hidroponia. A hidroponia é uma técnica de cultivo que não necessita do solo. As raízes estão suspensas e são alimentadas pelo contacto com uma água enriquecida com os nutrientes necessários ao seu crescimento. Mas será a hidroponia uma solução para reduzirmos a nossa pegada no planeta? Eis a sua resposta, descomplicada.
Que tipo de sistemas de hidroponia existem?
Há já inúmeros tipos de sistemas hidropónicos, que se diferenciam pela forma como fazem chegar a solução nutritiva às plantas. Por exemplo, existe a técnica do fluxo laminar, em que a solução nutritiva é bombeada de um reservatório para um tubo de cultivo onde o líquido entra em contato com as raízes das plantas, ou a técnica aeropónica, em que as plantas são colocadas numa estrutura vertical e são depois sujeitas a uma nebulização com a solução nutritiva. Existe ainda, entre outros, o sistema de pavio, em que as plantas estão imersas num substrato (isto é, um conjunto de elementos naturais que envolvem a planta e apoiam o seu desenvolvimento, como por exemplo a fibra de coco, argila expandida, terra vegetal, areia, entre outros) que se sobrepõe a um reservatório da solução nutritiva que o alimenta através de furos.
Quais as vantagens da Hidroponia?
A hidroponia utiliza de facto menos espaço para produzir grandes quantidades de produto quando comparada com a produção agrícola tradicional. Além disso, pode consumir também menos água e diminuir o uso de fertilizantes face à agricultura convencional, uma vez que a solução nutritiva fornece os nutrientes mais importantes para o crescimento das plantas de uma forma muito controlada.
Quais as desvantagens?
Apesar das vantagens enumeradas, o sistema de cultivo hidropónico acarreta igualmente um enorme custo energético. Para além disso, esta forma de cultivo exige um nível de conhecimento técnico que a maior parte dos cidadãos não possui, uma vez que depende de infraestruturas que permitam a criação de um ambiente controlado para as plantas. Ou seja, a ser utilizado numa escala relevante, este sistema destina-se maioritariamente à indústria pois esta é capaz de sustentar os custos desta mão de obra especializada ou dos materiais inputs fabricados a montante da produção por empresas especializadas.
É necessário ainda sublinhar que as plantas cultivadas num sistema hidropónico podem estar mais suscetíveis a doenças. Não só a partilha da água promove a rápida propagação de alguns tipos de patógenos, como o fato das plantas não estarem em contacto com o solo e com o meio exterior e, portanto, não estarem expostas a componentes biológicos que servem como barreira de proteção e auxiliares para o desenvolvimento, as torna mais vulneráveis.
A ZERO defende que:
– A hidroponia pode ser uma solução em casos circunscritos, mas não deve ser alvo de um investimento público. Na verdade, deveríamos cuidar dos ecossistemas existentes de forma sustentável e não desagregar o cultivo de plantas dos agroecossistemas, já que estes podem desempenhar múltiplas funções fundamentais para a natureza e para a sociedade.