Produto a granel em saco Vs Produto embalado?
Sabias que se a população mundial atingir 9,8 mil milhões de pessoas até 2050, será necessário o equivalente a quase três planetas para fornecer os recursos naturais necessários para sustentar os estilos de vida atuais?
Atualmente, os nossos padrões de produção e de consumo não são sustentáveis, a rapidez com que esgotamos recursos naturais e matérias-primas disponíveis está a colocar em risco a sobrevivência das gerações vindouras.
O desperdício alimentar e a degradação dos ecossistemas naturais são um dos sinais de consumo excessivo. Aproximadamente 1/3 de toda a comida produzida para consumo humano é desperdiçada. Anualmente um número impressionante de 931 milhões de toneladas de alimentos (17% da produção total) acaba em aterros sanitários (FAO, 2019), apesar de um grande número da população mundial passar fome. Em 2022, segundo o Food Waste Index Report, do total de alimentos desperdiçados, 60% é gerado a nível doméstico. É urgente repensar e alterar os nossos hábitos de consumo, adotando um modelo de consumo consciente e responsável, que implica a transformação da nossa forma de comprar e usar bens e serviços.
Comecemos pelas embalagens
As embalagens são uma parte importante do nosso quotidiano. Ao assegurarem o acondicionamento e a preservação do produto ao longo das várias fases da cadeia alimentar, desempenham um papel no combate ao desperdício alimentar. No entanto, desde a produção até ao seu descarte as embalagens também têm um impacto significativo no meio ambiente. A sua produção requer o uso de recursos naturais, como água, energia e matérias-primas, o que resulta na emissão de gases com efeito de estufa, entre outros impactes ambientais. Além disso, o descarte inadequado das embalagens, a sua incineração ou deposição em aterro leva à poluição do solo e das massas de água, inclusive com substâncias químicasperigosas.
Segundo dados do Eurostat publicados em Outubro de 2023 sobre resíduos de embalagens, em 2021 foi atingido um novo recorde com a produção de 188,7 Kg de resíduos de embalagens per capita, um aumento de 6% em apenas um ano. Os mesmos dados indicam a estagnação das taxas de reciclagem desde 2010. O sector das embalagens é atualmente responsável por cerca de 59 milhões de toneladas de CO2eq e a produção de embalagens descartáveis é também um fator importante de pressão sobre a exploração de matérias-primas – utiliza 40% do plástico e 50% do papel na Europa.
Nas prateleiras dos supermercados deparamo-nos com a enorme quantidade de embalagens descartáveis. A utilização de frescos pré-embalados, legumes e frutas já cortados e lavados prontos a ir para o tacho ou para comer, oferecem uma solução aparentemente prática, mas que tem o seu reverso: muitas vezes nesta situação o preço ao quilo é muito superior; estamos a contribuir para uma maior produção de resíduos; a sua durabilidade é por norma mais reduzida.
Dados disponibilizados durante a European Week for Waste Reduction estimam que cada família descarta cerca de 10% dos produtos alimentares adquiridos e que muito frequentemente esses produtos não chegam a ser desembalados! É urgente reduzir esta.
E sobre a compra a granel?
A compra a granel, que permite comprar alimentos e bens domésticos a peso e sem pré-embalagem, é um dos pilares do movimento global Zero Waste, estando alinhada com o Objectivo de Desenvolvimento Sustentável 12 – Produção e Consumo Sustentáveis. O granel surge assim como fator de redução de desperdício, assumindo-se como uma forma de prevenção de geração de resíduos e do desperdício alimentar, incentivando uma lógica de economia circular.
Estamos finalmente capazes de responder ao duelo que nos trouxe aqui:
No momento de adquirir produtos qual é a escolha mais sustentável, consumir produtos a granel em sacos ou produtos pré-embalados?
A opção mais alinhada com um consumo consciente e mais sustentável é a compra de produtos a granel. Comprar a granel permite não só controlar melhor a quantidade que levamos para casa e reduzir o desperdício, como nos dá a possibilidade de usar as nossas próprias embalagens reutilizáveis, evitando-se assim o uso desnecessário de soluções descartáveis.
Provavelmente, as embalagens sempre farão parte do nosso dia-a-dia, mas podemos reduzir o seu impacto ambiental. É importante considerar a utilização de embalagens sustentáveis. Isso pode incluir embalagens biodegradáveis, reutilizáveis ou feitas a partir de materiais reciclados.
Porém, é importante ressaltar que a escolha de embalagens ecológicas não deve ser a única solução para o problema do impacto ambiental das embalagens. O consumo consciente, promover a reutilização e a redução do uso de embalagens em geral também são medidas importantes para diminuir o impacto negativo no ambiente.
Para finalizar, alguns conselhos práticos para comprar a granel:
– Antes de ir às compras verificar no frigorífico e na despensa o que está em falta e fazer uma lista de compras;
– Levar sempre as suas embalagens reutilizáveis higienizadas (frascos, caixas, sacos) para reencher, considerando o tipo de produtos que irá comprar. Desta forma, reduzirá quantidade de embalagens usada, mas também o tempo gasto, pois ao chegar a casa poderá guardar os alimentos diretamente, sem necessitar de colocar num novo recipiente;
– Levar caneta ou lápis para registar validades (estão sempre afixadas nos dispensadores);
– Recusar usar sacos de plástico ou papel de uso único. Vá guardando em casa asacos de pano, de papel ou de plástico, de diferentes dimensões, e/ou frascos e outros tipos de recipientes que possam ser reutilizados. Ter em conta que, para superalimentos, se usar sacos (qualquer que seja o material) há maior probabilidade de desperdiçar produto (mesmo que em pouca quantidade), porque ficarão sempre restos nos cantos. Aconselhamos, para esses casos, frascos ou caixas;
– Organizar os produtos comprados a granel na despensa, tendo em conta o prazo de validade. Colocá-los em frascos ajuda a ter uma melhor perceção do estado dos alimentos e das quantidades gastas.