Início » ZERO apresenta “receita” ambiental baseada em “alimentos” contra a desertificação e para uma boa gestão da água
Comemora-se hoje, dia 5 de junho, o Dia Mundial do Ambiente, que este ano tem com tema o Restauro da Terra, Desertificação e Resiliência à Seca – #GeraçãoRestauração. Alertam-nos as Nações Unidas para o facto de que a Terra significa vida e que é o solo que pisamos que nos alimenta. Ainda assim, os nossos solos estão a degradar-se – em resultado do consumo insustentável, da agricultura industrial e da poluição – afetando negativamente 3,2 mil milhões de pessoas. Mas a Terra continua, sem sabermos até quando, tolerante: podemos restaurá-la, regenerando o solo, parar com as lavouras nos campos, plantando árvores e instalando cultivos mais diversificados acompanhados de boas práticas agrícolas, ao mesmo tempo que prevenimos as emissões poluentes e gerimos cuidadosamente as nossas águas superficiais e subterrâneas.
Numa altura em que Portugal atravessa um momento crítico quanto à gestão da água, em que a norma passou a ser a escassez hídrica – inexistência de disponibilidades para satisfazer a procura – na maior parte das bacias hidrográficas, acrescido da necessidade de travar o avanço da desertificação, a ZERO não pode deixar de fazer um alerta. Assim, neste Dia Mundial do Ambiente – com uma “pitada” de humor à mistura, mas sem minimizar a preocupação face aos problemas levantados – foi enviada aos responsáveis pelas tutelas do Ambiente e da Agricultura uma possível “receita” caseira que inclui alguns dos melhores ingredientes e um modo de preparação que só poderá conduzir a uma maior sustentabilidade e eficiência no uso dos recursos.
Ingredientes absolutamente necessários:
Começa-se por colocar sensatez na ambição do Programa Nacional de Regadios, colocando a marinar transvases e barragens que não só são uma falsa solução climática, como também induzirão aumentos de 5 a 10 vezes nos custos da água, traduzindo-se em efeitos nocivos e eventualmente irreversíveis. Importante colocar no forno até total cozedura uma avaliação ambiental estratégica prévia à continuação deste programa, não esquecendo uma nota de aroma a balanço das consequências das opções feitas.
Depois pega-se na gestão de resíduos urbanos, peneirando e tratando na origem os biorresíduos (40% do total dos resíduos produzidos), evitando emissões de metano e disponibilizando milhões de euros em matéria orgânica e nutrientes para a agricultura nacional. Ao preparado anterior, junta-se um punhado de coragem para investir na redução de perdas de água na agricultura que representam 35% das utilizações, na monitorização do seu uso, na penalização do desperdício por via da Taxa de Recursos Hídricos e na revisão do tarifário associado à agricultura.
Seguidamente, faz-se um bom refogado com alimentos provenientes de circuitos curtos agroalimentares, que favorecem a ligação entre agricultores e consumidores numa lógica de proximidade, com agroecologia à discrição, discriminando-a positivamente na aplicação dos fundos da Política Agrícola Comum e fazendo uma redução de apoios à agricultura de “mercado” financeirizada e orientada para a exportação não amiga do clima e do ambiente, bem capaz de ser um prato à parte num restaurante menos orientado para alimentar o bem comum. Dispor o refogado em fundação de solo vivo, rico em matéria orgânica, de génese, numa efetiva aplicação das boas práticas agrícolas, colmatando insosso tempero de falta de rede de extensão rural e a aplicação dos princípios da proteção integrada – estes envelhecidos já com 10 anos de aplicação obrigatória, precisando abrir-se a garrafa e servir de forma abundante e generalizada, não vá tão nobre licor azedar.
Junta-se-lhe um litro de água reutilizada – cuja utilização se encontra muito aquém do desejável, em particular na agricultura, situação que resulta da inexistência de um modelo de negócio que viabilize a sua valorização –, mais um litro de água conservada proveniente de um aquífero bem gerido e não poluído – persistem ainda muitas massas de água subterrâneas poluídas, em particular com azoto amoniacal e nitratos, e também existem outras cujas captações excessivas podem contribuir para a sua degradação – e, por último, adiciona-se um há muito escaldado Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação que tarda em ser revisto e panado com um envelope financeiro que auxilie na implementação de ações no terreno.
Por fim, mistura-se uma mão cheia de cereais produzidos em Zonas de Proteção Especial dedicadas à conservação das aves estepárias, como o sisão, a abetarda ou tartaranhão-caçador, apoiando condignamente os agricultores para que estes sejam os verdadeiros agentes de preservação destas espécies ameaçadas de extinção em Portugal e não, como agora, devido a políticas públicas erradas, obtenham fundos que perversamente são utilizados para flambear o seu ciclo de reprodução. De seguida, sem macerar muito tempo, implementa-se o Plano Nacional de Restauro da Natureza, adicionando-se o mais rapidamente possível quilogramas de ações de restauro de espécies e habitats, estabelecendo prioridades bem definidas. Não esquecer de servir acompanhado com o Cadastro Nacional dos Valores Naturais Classificados.
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