Oceano: riscos, perigos e soluções
O que se passa com o nosso oceano e de que forma as alterações climáticas ameaçam o seu equilíbrio? O seu e o nosso, uma vez que o oceano desempenha um papel crucial na manutenção do nosso clima. Eis as respostas, descomplicadas.
O papel do oceano
Pela sua capacidade de absorver cerca de 90% do excesso de calor proveniente do sol e 25% do dióxido de carbono das atividades humanas, o oceano funciona como moderador contra as alterações climáticas. No entanto, esta absorção está a aproximar-se de um ponto de rutura, conduzindo a mudanças irreversíveis nos ecossistemas. O aquecimento está a alterar significativamente a química, biologia e física. Estas mudanças incluem variações na velocidade das correntes oceânicas, nos padrões de migração e reprodução das espécies marinhas e na abundância e saúde de habitats críticos, como os recifes de corais. Além disso, o aumento das concentrações de dióxido de carbono está a diminuir o pH do oceano, tornando-o mais ácido e afetando organismos que deixam de ser capazes de construir e manter os seus exoesqueletos e conchas, nomeadamente moluscos e crustáceos.
Os ataques
A sobrepesca e as práticas de pesca destrutivas, com destaque para a pesca de arrasto de fundo, estão a levar ao colapso de ecossistemas bentónicos vulneráveis, como recifes e corais de águas frias e jardins de esponjas, bem como à libertação de carbono armazenado nos fundos. Há algumas mudanças positivas no sentido de travar este fenómeno, como a adoção da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (conhecida como Acordo BBNJ ou Tratado do Alto-Mar), relativa à conservação e à utilização sustentável da biodiversidade marinha nas áreas não sujeitas à jurisdição nacional. Além disso, a União Europeia estabeleceu metas ambiciosas para aumentar a reciclagem de resíduos urbanos e de embalagens até 2030 com o intuito de fomentar a economia circular e reduzir a poluição por plástico, e os seus objetivos incidem sobre o aumento da reciclagem e redução na deposição em aterros.
A fraca defesa
No entanto, existem também causas de desânimo. As discussões sobre a regulamentação da mineração em mar profundo pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (International Seabed Authority – ISA) sugerem que esta possa priorizar o desenvolvimento económico em detrimento da conservação ambiental. Na verdade, é pouco conhecido o impacto destas atividades nos fundos marinhos, sendo necessário apostar muito na investigação.
Para além disso, existem inconsistências significativas nas políticas de conservação e desenvolvimento sustentável, entre os quais se incluem a permissão de métodos de pesca destrutivos dentro de áreas marinhas protegidas e a autorização de novas explorações de petróleo e gás por países que assumiram compromissos de conservação. Por fim, embora existam esforços para criar uma rede coesa de áreas marinhas protegidas e implementar mecanismos de gestão baseados no ecossistema, muitas vezes estas iniciativas não se traduzem em práticas eficazes devido à falta de recursos humanos, financeiros e regulamentares.
O caso das eólicas offshore
Tido como uma solução para a transição energética, é necessário também que o processo de implementação das eólicas offshore não seja feito à custa da degradação do ambiente e que seja conduzido considerando não apenas objetivos energéticos, mas também impactos ambientais e socioeconómicos. A verdade é que a pressão pela eliminação de combustíveis fósseis e cumprimento das metas, associado à complexidade do processo, pode levar à tendência da simplificação, desburocratização e perda de rigor, comprometendo o acautelamento de todos os impactos.