O eucalipto tem lugar na floresta portuguesa?

O eucalipto é muitas vezes visto como o culpado pelos grandes incêndios que assolam Portugal. Mas será a árvore ou a gestão que fazemos dela? Mas afinal, será que o eucalipto tem lugar na floresta portuguesa? A resposta é sim, mas com regras, e eis o porquê, descomplicado.
Eucalipto — Importante fonte de rendimento
O eucalipto continua a ser, para muitos, uma importante fonte de rendimento que não pode ser desperdiçada. Continua também a alimentar uma indústria de pasta, papel e cartão em Portugal com impacto económico significativo. Apesar disso, não podemos deixar de reconhecer que é igualmente importante travar a expansão da área de plantações de eucalipto em Portugal. O país já possui a maior área relativa com estas plantações a nível mundial, sendo detentor da maior área absoluta a nível europeu e a quinta a nível global. No entanto, apresenta a produtividade média unitária mais deplorável e a maior área suscetível ao risco de incêndio e à propagação de pragas e de doenças. Ou seja, o problema não é a área do eucaliptal, mas sim a sua má gestão e o chamado passivo ambiental.
Eucalipto — O problema do passivo ambiental
O passivo ambiental são as áreas abandonadas depois do eucaliptal já ter servido o seu propósito económico e um novo corte ter deixado de ser rentável, tornando-o improdutivo. Também as áreas em que a espécie foi instalada sem que existissem as condições de solo e clima para que a mesma apresentasse uma produtividade adequada estão, por norma, sem qualquer gestão. Estima-se que as áreas de eucaliptal mal gerido e abandonado representam cerca de 2/3 da área total de eucalipto em Portugal, ou seja, 560 mil hectares de um total de ocupação oficial de 845 mil hectares – mas que rondará já, muito provavelmente, cerca de 1 milhão de hectares. Nas áreas abandonadas, o que resta dos eucaliptos acaba por se imiscuir com espécies arbustivas que também toleram os efeitos do fogo, como as urzes, as giestas ou os tojos, tornando-se num autêntico “barril de pólvora” para os incêndios.
A responsabilidade das empresas
Em vez de expandir a área do eucaliptal, é possível rearborizar (ação de reinstalar árvores de espécies florestais, por sementeira ou plantação, em terrenos que já tenham sido ocupados por floresta, nos últimos 10 anos), ou seja, deveriam reinstalar-se em áreas de eucaliptal já ocupadas por esta espécie em estado não produtivo. No caso da arborização de novas áreas com eucalipto, isto é, áreas que atualmente estão ocupadas por outras espécies, a legislação prevê como condição prévia a existência de uma compensação com a recuperação com outras espécies florestais de áreas onde o eucalipto tem menor produtividade. O problema é que a indústria não se responsabiliza pelos custos económicos e ambientais da sua ação num passado recente, uma vez que incentivou os proprietários rurais a investirem na plantação de eucaliptos, sem que houvesse garantias de que essas áreas viessem a ser rearborizadas com eucalipto ou que fossem convertidas em áreas com espécies autóctones. E a prova disso é que depois de instituído o mecanismo de compensação estão disponíveis apenas 45 áreas para esse efeito, totalizando estas uns escassos 4 167 hectares, criando um contexto em que os privados não assumem a responsabilidade de resolver o passivo existente e colocam pressão sobre as entidades públicas para a atribuição de um volume significativo de fundos públicos para o efeito.
A ZERO defende que:
– A ZERO é contra qualquer tentativa que promova a expansão da área de plantações de eucalipto em Portugal;
– O governo deve apoiar a ações de replantação, mas, sobretudo, de reconversão de grande parte de eucaliptal abandonado para outras ocupações dos solos, nomeadamente para ações de restauro dos ecossistemas, na aposta em sistemas agroflorestais e em espécies arbóreas autóctones de maior valor ecológico e económico.