Início » Corredores dedicados permitiriam que transporte público fosse mais rápido que carro nos principais eixos de acesso a Lisboa e Porto
Nesta Semana Europeia da Mobilidade que tem lugar entre 16 e 22 de setembro, para fazer uma avaliação da qualidade da mobilidade em Lisboa e Porto, a ZERO fez uma estimativa dos atuais tempos de viagem em transporte público (TP), de carro privado e de bicicleta, entre as cinco freguesias mais populosas de cada Área Metropolitana de Lisboa e Porto e os respetivos centros económicos — Saldanha, em Lisboa, e Casa da Música/Boavista, no Porto. O total das cinco freguesias analisadas em cada uma das áreas metropolitanas concentram entre 10% a 15% da sua população. Os resultados revelam que, na hora de ponta da manhã (entre as 6:00 e as 9:00), para a maior parte dos trajetos avaliados, o carro apresenta tempos de viagem menores e o transporte público obriga a mais de um transbordo, o que reduz em grande medida a atratividade dos modos coletivos, pelo que é urgente diminuir o tempo de viagem em transporte público e eliminar transbordos para estes trajetos. A criação de corredores exclusivos para autocarros na rede metropolitana de vias rápidas e autoestradas que se prolonguem até ao centro económico dos concelhos de Lisboa e Porto onde deverão ter prioridade semafórica, permite que possam ser operados serviços expresso e tornar o transporte público regular mais rápido do que o automóvel nas horas ponta, em especial nas ligações radiais estruturantes.
Os tempos de viagem foram estimados com base em rotas calculadas no Google Maps, entre as 6h e 9h — hora de ponta matinal — nas primeiras duas semanas de setembro de 2025. No caso do transporte público, foram incluídos todos os componentes da deslocação: caminhada inicial até à paragem ou estação, tempo médio de espera, transbordos e a caminhada final entre a última paragem e o destino. Para as viagens em automóvel, contabilizaram-se também o tempo de estacionamento (na ordem dos 8-12 min em centros urbanos), e o percurso a pé até ao destino. Para trajetos em bicicleta, adotamos 15 km/h como velocidade urbana de referência reconhecida por manuais europeus.
Em Lisboa, os resultados indicam que o transporte público continua mais lento do que a deslocação em automóvel privado, sobretudo para os municípios situados junto Linha de Cascais, exigindo em média cerca de três transbordos. Importa também salientar que, embora a bicicleta apresenta trajetos mais demorados devido às maiores distâncias, pode desempenhar um papel crucial como meio de acesso rápido e eficiente às estações de comboio e autocarro.
No caso da Área Metropolitana de Lisboa, deve salientar-se o facto de três das cinco freguesias mais populosas se encontrarem nos concelhos de Cascais e Oeiras entre a Linha de Cascais e a A5. Nestas freguesias, o tempo de viagem em carro privado é quase metade do tempo de viagem em transporte público, pelo que tem prioridade máxima a criação de uma via dedicada aos autocarros metropolitanos na A5 que possa prolongar-se e ter paragem em interfaces dentro da cidade de Lisboa como nas Amoreiras, Marquês de Pombal, Saldanha, Entrecampos e Campo Grande. Também no IC19 até ao Campo Grande, via segunda circular, se justifica a rápida criação de um corredor exclusivo para autocarros metropolitanos dado afastamento em relação às estações de comboio de partes densamente povoadas da Linha de Sintra e como forma de gerar alternativas à sobrelotação do serviço ferroviário que urge melhorar com novo material circulante e melhorias no sistema de sinalização e comunicação. Estes corredores, concebidos com paragens otimizadas, têm suporte na evidência de que a conjugação de prioridade semafórica com a redução do número de paragens pode encurtar entre 20% e 40% o tempo de viagem dos autocarros em rede.
Média dos tempos de viagem nos trajetos, entre as 6:00 e as 9:00, com destino ao Saldanha (Lisboa) | ||||
Origem (freguesia) | Transporte Público (min)
(inclui caminhar 7 min até paragem/estação e tempos de espera) |
Carro privado (min)
(inclui tempo de estacionamento de 10 min + caminhar 4 min) |
Bicicleta elétrica (min)
(velocidade média ≈15 km/h) |
Prioridade do corredores exclusivos para Bus |
Algueirão
Mem Martins |
53
(Comboio + Metro) |
51
(~37 min em condução) |
94 | Alto
(Corredor na IC19) |
Odivelas | 27
(Metro Linha amarela) |
37
(~23 min condução) |
35 | Médio
(Corredor na Calçada de Carriche) |
Cascais e Estoril | 85
(Bus + comboio + metro) |
54
(~40 min condução) |
116 | Muito Alto
(Corredor na A5) |
São Domingos de Rana | 77
(autocarro p/ estação de Cascais + Comboio + Metro) |
45
(~31 min em condução) |
86 | Muito Alto
(corredor A5) |
Oeiras/Paço de Arcos/Caxias | 72
(Bus + comboio + ,etro) |
34
(~20 min em condução) |
66 | Muito Alto
(corredor A5) |
Na Área Metropolitana do Porto, a bicicleta revela-se, em muitos percursos analisados, mais rápida do que o automóvel privado quando se inclui o tempo necessário para estacionar e caminhar até ao destino. A ZERO sublinha, por isso, o grande potencial da bicicleta como meio de transporte relevante entre Matosinhos/Leça da Palmeira, Senhora da Hora/São Mamede de Infesta e Mafamude/Vilar do Paraíso e o centro do Porto. Para concretizar esse potencial, é essencial criar um sistema de bicicletas partilhadas integrado no passe intermodal, desenvolver uma rede de ciclovias nas vias de maior tráfego e implementar medidas de acalmia de circulação. O sistema de partilha deverá privilegiar bicicletas elétricas, que se apresentam como a opção mais adequada para vencer os declives mais acentuados da cidade.
Salienta-se a muito alta prioridade ao estabelecimento de um corredor exclusivo para autocarros metropolitanos (que possa incorporar-se numa rede de corredores a determinar no Plano Metropolitano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMMUS) da Área Metropolitana do Porto (AMP) a realizar, que inclua a A43, a A20 e a saída no nó de Francos uma vez que os tempos de viagem em transporte público, entre o centro geográfico da freguesia de Gondomar, Valbom e Jovim e a Casa da Música, chegam a ser o dobro os tempos de viagem em carro privado.
De resto, o PMMUS da Área Metropolitana do Porto, deve traçar os corredores exclusivos para autocarros na área metropolitana que penetrem o concelho do Porto de modo permitir a existência de serviços expresso entre as freguesias mais populosa e o centro económico mais relevante da Área Metropolitana. Estes serviços deverão ser complementares e redundantes em relação à atual rede de metropolitano do Porto de modo a simultaneamente reduzir o espaço para o carro privado, responsável por 67% das viagens na Área Metropolitana do Porto, mais do que os 57% das viagens realizadas de automóvel privado na Área Metropolitana de Lisboa.
Média dos tempos de viagem nos trajetos, entre as 6:00 e as 9:00, com destino à Casa da Música (Porto) | ||||
Origem (freguesia) | Transporte Público (min)
(inclui caminhar 7 min até paragem/estação e tempos médios de espera) |
Carro privado (min)
(inclui tempo de estacionamento de 10 min + caminhar 4 min) |
Bicicleta elétrica (min)
(velocidade média ≈15 km/h) |
Prioridade do corredores exclusivos para Bus |
Matosinhos e Leça da Palmeira | 37 | 31
(~17 min em condução) |
29 | Alto
(A estudar) |
Senhora da Hora e São Mamede de Infesta | 29 | 26
(~12 min condução) |
14 | Alto
(A estudar) |
Mafamude e Vilar Paraíso | 39 | 32
(~18 min condução) |
24 | Alto
(A estudar) |
Rio Tinto | 43 | 34
(~20 min em condução) |
36 | Alto
(A estudar) |
Gondomar, Valbom e Jovim | 75 | 35
(~21 min em condução) |
44 | Muito Alto
(A43 + A20 + Francos) |
Não é possível garantir qualidade de vida nas cidades sem uma mobilidade verdadeiramente sustentável, assente no uso do TP, intercalado pela mobilidade ativa, e numa drástica redução do automóvel privado. O excesso de trânsito traz consigo várias consequências, desde impactos ambientais à saúde pública e ocupação do espaço público, mas é também uma das causas dos longos tempos de viagem do transporte público e da sua falta de fiabilidade horária — com autocarros frequentemente retidos no congestionamento devido à ausência de corredores exclusivos. Esta realidade é particularmente preocupante se tivermos em conta que o tempo de viagem é um dos fatores determinantes na escolha do modo de transporte, levando à escolha do automóvel privado por muitos cidadãos.
A transição para uma mobilidade verdadeiramente sustentável depende de um conjunto variado de medidas,
muitas das quais já contempladas no Plano de Mobilidade Metropolitana Sustentável (PMMUS) da Área Metropolitana de Lisboa. A ZERO destaca, entre essas, as medidas prioritárias com maior potencial de impacto, no sentido de diminuir os tempos de trajeto em TP e bicicleta:
Das cinco freguesias mais populosas de cada área metropolitana nenhuma se situa nos concelhos de Lisboa e Porto o que torna absolutamente crucial que a resposta à crise habitacional em curso passe pela reabilitação do edificado existente neste concelhos e a densificação nestes concelhos de oferta de habitação acessível reduzindo assim as necessidades deslocação e o consumo de recursos e energia nelas envolvido e ao mesmo tempo melhorando significativamente os padrões de mobilidade das áreas metropolitanas no seu conjunto
Importa ainda salientar que o último inquérito à mobilidade foi publicado há oito anos (data de 2017). É fundamental as autoridades publicarem, com uma periodicidade pelo menos anual, informação atualizada sobre os padrões de mobilidade nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto.
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