Início » Cedências na proibição de veículos a combustão após 2035 é erro grave para clima e saúde pública
A Comissão Europeia anunciou hoje a sua proposta de revisão do Regulamento (UE) 2019/631, considerado como um dos principais instrumentos da União Europeia para a descarbonização do transporte rodoviário. Nesta revisão, a Comissão desiste de proibir a venda de veículos novos movidos a combustíveis fósseis a partir de 2035, com um alcance de 100% de redução nas emissões de CO2. Em alternativa, a Comissão propõe agora que em 2035 o sector garanta somente 90% de redução das emissões, sendo que os restantes 10% deverão ser compensados na produção (uso de aço verde, por exemplo) ou na utilização recorrendo a combustíveis alternativos.
A ZERO entende que se trata de uma proposta que enfraquece significativamente os compromissos da União Europeia em matéria de saúde pública e de descarbonização do transporte rodoviário, entendendo-a como um dos maiores retrocessos nas políticas ambientais da UE nos últimos anos.
Os transportes representam 25% das emissões de gases com efeito de estufa na Europa e mais de 34% em Portugal, sendo que o transporte rodoviário é o sector da economia mais problemático. Este recuo compromete os objetivos da UE de neutralidade carbónica até 2050 e coloca em risco a meta intermédia de redução das emissões de CO₂ em 2030.
Por outro lado, a prorrogação das vendas de veículos a biocombustíveis ou combustíveis sintéticos implica emissões adicionais de poluentes atmosféricos, com consequências diretas para a saúde pública. Os óxidos de azoto (NOₓ) e as partículas finas (PM2,5) contribuem para doenças respiratórias e cardiovasculares, acidentes vasculares cerebrais e alguns tipos de cancro, afetando de forma particular crianças, idosos e populações urbanas. Cada ano extra de circulação de motores a combustão traduz-se em milhares de mortes prematuras evitáveis e aumenta significativamente a pressão sobre os sistemas de saúde.
As metas de redução de CO₂ para veículos impostas no regulamento que agora é alterado já estavam a impulsionar progressos significativos, promovendo a adoção de veículos elétricos, estimulando a inovação e incentivando novos investimentos. De facto, nos últimos anos a venda de veículos elétricos tem vindo a aumentar, sendo que em 2025 os fabricantes europeus registaram um aumento de 34% nas vendas de veículos elétricos a bateria em comparação com o ano anterior, e a quota de veículos 100% elétricos no total de vendas de automóveis novos na UE estava em torno dos 15 % em maio 2025).
Os construtores automóveis europeus comprometeram-se com centenas de milhares de milhões de euros em novos investimentos. O adiamento da meta de 2035 ameaça este ritmo de progresso, assim como a confiança de investidores, cedendo vantagem estratégica a concorrentes fora da Europa, numa altura em que nos países mais avançados da Ásia quase metade dos automóveis novos vendidos são 100% elétricos, acontecendo o mesmo com quase 25% dos camiões de longo curso.
Para a ZERO, a suficiência é um valor central: reduzir o número de veículos produzidos e em circulação é tão importante quanto a sua eletrificação. Embora a eletrificação, por si só, não resolva o congestionamento nem os problemas associados ao uso intensivo de recursos, é indispensável para garantir ar saudável e contribuir para a estabilização do clima, sobretudo no caso dos veículos de uso intensivo, como mercadorias, transporte coletivo e mobilidade partilhada.
Neste contexto, o Governo português e os deputados nacionais no Parlamento Europeu devem assumir plenamente a Estratégia Europeia para a Mobilidade Inteligente e Sustentável, assegurando que a mobilidade como serviço recebe incentivos adequados para reduzir o consumo de recursos, reforçar a incorporação tecnológica europeia e garantir uma transição energética mais justa para comunidades e trabalhadores.
O recuo nas metas de 2035 coloca em risco a credibilidade climática e a liderança tecnológica da União Europeia, desincentivando o investimento em veículos elétricos e infraestruturas, num momento em que outras economias avançam rapidamente. Este atraso compromete a competitividade industrial europeia e perpetua a dependência de combustíveis fósseis importados, com custos económicos e geopolíticos elevados.
A ZERO apela aos responsáveis políticos portugueses para que assumam uma posição firme e inequívoca contra qualquer recuo, tanto no Conselho como no Parlamento Europeu, no âmbito dos trílogos e das negociações que agora se seguem. Num momento de emergência climática, de crise de saúde pública associada à poluição do ar e de necessidade urgente de reduzir a dependência de combustíveis fósseis importados, ceder a pressões que atrasam o fim dos motores de combustão seria um erro grave e contrário aos compromissos climáticos europeus e nacionais. Portugal deve alinhar-se com os países que defendem a integridade do objetivo de 2035, rejeitar falsas soluções que prolonguem o uso de combustíveis fósseis e afirmar-se como uma voz ativa na defesa de uma transição justa, clara e credível para a mobilidade zero emissões.
| Cookie | Duração | Descrição |
|---|---|---|
| cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
| cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
| cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
| cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
| cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
| viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |