Início » 77% dos habitats de zonas húmidas estão ameaçados em Portugal
Tem de se garantir água para estes ecossistemas | Dia Internacional das Zonas Húmidas – 2 de fevereiro
Comemora-se a 2 de fevereiro o Dia Internacional das Zonas Húmidas, num contexto de enorme apreensão quanto ao evoluir da situação de seca, mas também de preocupação face ao estado de conservação dos habitats naturais e seminaturais relacionados com as zonas húmidas e perante perspetivas de degradação adicional pelo incremento da pressão humana ligada à utilização dos territórios.
Importa salientar que Portugal possui somente 1,8% do seu território ocupado por zonas húmidas e que apenas 31 Sítios foram designados para integrar a Convenção de Ramsar(1), totalizando cerca de 132.487 hectares, ou seja, 79% do total das zonas húmidas existentes em Portugal(2).
Ainda que estes habitats estejam protegidos por legislação, dados recentes comunicados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas à Comissão Europeia (no âmbito do Relatório dos Estados Membros sobre o estado de conservação de espécies e de habitats referente ao período 2013-2018) mostram que 77% dos habitats relacionados com as zonas húmidas de Portugal e Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira se encontram degradados, sendo que das 53 representações de 22 habitats, pelas 5 regiões biogeográficas(3), 40 estão em estado de conservação desfavorável.
A maior parte das representações de habitats de turfeiras, habitats de água doce, como os charcos temporários mediterrânicos, as depressões intradunares e mesmo os habitats costeiros, como os sapais, estão em mau estado de conservação – o que demonstra que conferir uma figura legal de proteção a um determinado local nem sempre significa uma garantia de conservação ou do seu uso sustentável.
Gestão da seca deve ter em conta a preservação das zonas húmidas
Num momento em que existe uma tentativa por parte dos interesses associados à agricultura industrial em garantir a afetação de recursos financeiros públicos para a construção de mais barragens com a finalidade de expandir o regadio coletivo de iniciativa estatal em mais 130 mil hectares, atualmente com maior expressão no sul do país, a ZERO alerta para os impactes negativos dos aproveitamentos hidráulicos no fluxo de serviços dos ecossistemas proporcionados pelas zonas húmidas e, em particular, pelos cursos de água. A drástica alteração dos regimes naturais afeta os caudais ecológicos, impedindo a continuidade dos habitats fluviais e o transporte de sedimentos até aos estuários e zonas costeiras, onde a chegada de água doce é essencial. O valor ecológico destas massas de água artificializadas é muito diminuto e não compensa a perda de zonas húmidas naturais. A construção de mais barragens associadas ao regadio não resolve o problema cada vez mais recorrente da severidade das secas meteorológicas (redução temporária da precipitação face ao esperado) e da escassez hídrica (é mais estrutural e resulta do excesso de consumo face às disponibilidades existentes). O objetivo parece centrar-se na alimentação de uma procura crescente muito dependente de um regime de precipitação cada vez mais irregular e das limitações da própria evaporação(4), de afluências que tendem a reduzir-se e do aumento previsível da evapotranspiração das culturas agrícolas em contexto de temperaturas mais elevadas e perante um modelo agrícola industrial totalmente dependente de rega.
Para além disso, em contexto de seca, há também que ter em conta uma adequada gestão dos aquíferos, uma vez que a maior parte das zonas húmidas estão muito dependentes das massas de água subterrâneas.
Porque são importantes as zonas húmidas?
Dados das albufeiras de Montargil e do Maranhão mostram que, em média, evaporam cerca de 2 litros por cada litro de precipitação registado em cada ano.
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