Início » As cidades europeias não se estão a preparar para um futuro limpo e Lisboa não é exceção
Campanha Cidades Limpas divulga ranking de 36 cidades europeias; Lisboa em 15º lugar deixa ZERO preocupada por má classificação em vários indicadores ambientais
Cidades devem criar um sistema de transportes urbanos com objetivos claros para 2030 que incluam emissões tendencialmente zero
A cidade de Lisboa e demais grandes cidades europeias não estão no bom caminho em termos ambientais e climáticos, desviando-se de uma trajetória que até 2030 deve proporcionar aos seus cidadãos um ar limpo, formas de transporte sustentáveis e ruas confortáveis e seguras. Esta é a conclusão de um estudo divulgado hoje pela Campanha Cidades Limpas, uma coligação de organizações europeias que a ZERO integra e que pugna junto dos decisores políticos e governantes das cidades por uma mobilidade praticamente zero emissões até ao final da década. Foram avaliadas 36 cidades europeias, ocupando Lisboa o 15.º lugar, ligeiramente acima do meio da tabela. No topo da seriação estão as cidades de Oslo, Amesterdão e Helsínquia, por esta ordem, enquanto os três últimos lugares são preenchidos por Varsóvia, Cracóvia e Nápoles.
Cerca de três em cada quatro europeus vivem em cidades, e a mobilidade urbana representa quase um quarto dos gases com efeito de estufa provenientes dos transportes na União Europeia (UE), o único sector cujas emissões aumentaram desde 1990, o que torna os centros urbanos decisivos na mudança para um futuro ambientalmente sustentável. O curso tomado coloca em perigo os esforços da UE para reduzir emissões, e tem consequências ao nível da qualidade do ar – a Comissão Europeia reconhece mesmo no seu plano de Poluição Zero, publicado em maio de 2021, que mais de 100 cidades em toda a união tinham ultrapassado os limites de qualidade do ar; entre estas cidades está Lisboa, sendo que a Comissão decidiu mesmo intentar em 2021 uma ação contra Portugal no Tribunal de Justiça da União Europeia devido à má qualidade do ar causada por níveis elevados de dióxido de azoto.
A investigação da Campanha Cidades Limpas agora divulgada mostra que são necessárias melhorias significativas para garantir que as cidades desempenham o seu papel no cumprimento do objetivo Poluição Zero. Estas melhorias incluem o estabelecimento de objetivos claros e vinculativos de mobilidade urbana com emissões praticamente zero até 2030 e a revisão da legislação europeia em conformidade.
Estudo é um alerta para os líderes das cidades de toda a Europa
O estudo analisou em que medida as cidades estão a adoptar as medidas necessárias para descarbonizar os seus sistemas de transporte até 2030 usando indicadores desenvolvidos de propósito para o efeito, permitindo classificar numericamente 36 cidades de modo a serem comparáveis.
Para isso, com base numa metodologia própria e numa recolha e análise de dados à escala europeia, foram usados 11 indicadores pertencentes a um conjunto de cinco categorias relacionados com a mobilidade ativa, incluindo a pé e em bicicleta, o espaço urbano, a segurança rodoviária, o custo dos transportes públicos, os níveis de congestionamento, a rede de carregamento de veículos eléctricos, as políticas urbanas, incluindo as de zonas de baixas e zero emissões, e a qualidade do ar. O desempenho das cidades foi medido numa escala de 0-100%, com os 100% a significar que se está a fazer estritamente o suficiente para alcançar uma mobilidade sem emissões até 2030; uma pontuação abaixo disso significa portanto que não estão a ser cumpridos esses mínimos e, quanto mais abaixo, pior.
A cidade de Oslo, na Noruega, ficou em primeiro lugar com uma pontuação de 71,5%, uma cidade com espaço amplo para andar a pé e de bicicleta, elevada segurança rodoviária e transportes públicos acessíveis. Seguiram-se Amesterdão com 65,5% e Helsínquia com 64,2%.
A cidade mais mal classificada do relatório foi Nápoles com 37,8%, logo abaixo de Cracóvia com 37,9%. Ao contrário de Oslo, estas cidades têm elevados níveis de congestionamento e falta de políticas públicas para reduzir a utilização de carros poluentes.
Lisboa mal classificada na circulação e segurança pedonais, tamanho da rede de ciclovias, congestão rodoviária, qualidade do ar e espaços verdes
A cidade de Lisboa, a única cidade portuguesa a entrar no estudo, ficou classificada no geral com 53,5%, o que corresponde ao 15º lugar da classificação e a um valor ligeiramente melhor que a classificação média (51,7%) das cidades.
A tabela seguinte resume a classificação de Lisboa em termos dos vários indicadores que compõem esta avaliação (medidos numa escala 0-10).
Tabela 1 – Classificação da cidade de Lisboa nos vários indicadores
A ZERO enaltece a boa classificação de Lisboa em termos de:
Pelo contrário, a ZERO mostra-se preocupada em relação à má classificação de Lisboa em termos de:
ZERO recomenda que cidades portuguesas estabeleçam meta de mobilidade com emissões quase zero até 2030 começando já nos seus centros históricos
Este estudo permite concluir que todas as cidades analisadas precisam de fazer melhorias significativas em várias áreas para terem uma hipótese de alcançar uma mobilidade com emissões zero tão rapidamente quanto possível e com objetivos claros para 2030, começando desde já pelas suas áreas mais centrais. Com esta finalidade, a ZERO, no âmbito Campanha Cidades Limpas, recomenda que:
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Foto: Quentin Guyot
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