Andar de transportes públicos VS usar carro elétrico – qual a melhor opção?
Em Portugal, a mobilidade (de pessoas e de mercadorias) encontra-se entre as atividades humanas diárias que mais contribuem para a Pegada Ecológica do país com cerca de 18%, sendo o sector dos transportes responsáveis por quase 1/3 das emissões de gases com efeito de estufa do nosso país. O impacto dos transportes, principalmente do automóvel privado, em meio urbano é significativo, quer pela emissão de CO2 que agrava a crise climática, quer pela emissão de gases poluentes responsáveis pela deterioração da qualidade do ar, causando todos os anos a morte prematura a mais de 300 mil pessoas em toda a Europa e cerca de 6 mil em Portugal.
Portugal ainda é, em comparação com outros países da União Europeia (UE), um dos que mais usa o automóvel como modo de deslocação de passageiros com uma tendência que tem vindo a crescer (se excluirmos as deslocações a pé e bicicleta, cerca de 89% das deslocações terrestres, medidas em passageiros/Km são feitas em automóveis privados, de acordo com dados da Eurostat em 2016), comprometendo assim os objetivos de redução da dependência dos combustíveis fósseis e obtenção da neutralidade carbónica até 2040 (necessária para permitir a manutenção da subida da temperatura média global abaixo de 1,5º C), em resposta à emergência climática e à crise energética.
Felizmente, os Estados-membros da UE começam a considerar urgente tomar medidas e aumentar a expressão de alternativas mais verdes para o transporte individual e coletivo, tais como o uso de automóveis elétricos, dos transportes públicos e dos modos de mobilidade suave ou ativa, como andar a pé, de bicicleta ou trotinete.
Como medida essencial para alcançar os objetivos climáticos, a UE está a preparar-se para eletrificar o transporte rodoviário. Mas será a eletrificação do atual modelo de mobilidade a melhor alternativa para a deslocação individual e de passageiros? E os transportes públicos não são eles também poluentes? Qual é então a opção mais sustentável?
Consideremos o carro elétrico:
Um carro elétrico utiliza eletricidade da rede elétrica que fica armazenada em baterias. Como não ocorre nenhuma combustão interna para produzir energia, não produz emissões de CO2 no tubo de escape enquanto o usamos. Mas isso não significa que não tenha outros impactos ambientais:
– Emissões não negligenciáveis provenientes do sistema de travagem e pneus;
– A eletricidade proveniente da queima de combustíveis fósseis, carvão ou gás natural, o que aumenta muito a sua pegada ecológica. Na Europa, a percentagem de eletricidade obtida a partir de combustíveis fósseis ainda é muito elevada, embora a tendência seja de descida acentuada;
– As suas baterias necessitam de uma grande incorporação de metais raros (tais como lítio, cobalto, níquel, manganês) encontrados no interior da Terra misturados na rocha ou noutros materiais em percentagens muito baixas e cuja extração é extremamente consumidora de energia, poluente e com impactos severos na paisagem. Os planos da UE de eletrificação rodoviária vão requerer até 2050 cerca de 200 vezes mais metais raros do que os que consumiu em 2022, de acordo com um estudo efetuado pela Federação Europeia dos Transportes e Ambiente.
Sendo a indústria dos carros elétricos tão impactante ambientalmente, porque são eles apontados como parte da solução para descarbonizar o sector da mobilidade?
Na verdade, embora na fase de produção os carros elétricos emitam mais CO2 do que os carros a combustão, considerando todas as emissões diretas e indiretas que ocorrem em todo o ciclo de vida de um carro elétrico por comparação com todas as emissões ao longo do ciclo de vida de um carro a combustão, na Europa o elétrico pode emitir até menos 68% de CO2 do que os carros a gasolina ou gasóleo e a adoção de energias renováveis para produzir eletricidade pode ajudar a aumentar ainda mais esta diferença.
As vantagens da mobilidade elétrica para a saúde pública são ainda mais evidentes uma vez que não existem emissões no tubo de escape, não se produzindo poluentes com PM2.5, PM10, NOx ou COV.
E no que diz respeito aos transportes públicos?
De uma forma geral são considerados poluentes, então porque é que são recomendados como alternativa verde?
Por um lado, o transporte público, por ser um meio de transporte de massas, as emissões por passageiro acabam por ser muito menores comparativamente às emissões por passageiro num automóvel. Por outro lado, já existem formas de descarbonizar estes transportes, com a eletrificação dos autocarros ou autocarros movidos a hidrogénio.
Então qual a opção mais sustentável? Andar de carro eléctrico ou de transportes públicos?
Evitar a aquisição de um automóvel e andar de transportes públicos parece ser a melhor opção, pois de facto para cumprir os objetivos climáticos é indispensável recorrer a medidas que conduzam a uma redução significativa do número de carros em circulação e a sua utilização.
Isso passa por:
– Uma expansão e melhoria das redes dedicadas exclusivamente ao transporte público;
– Incentivos ao teletrabalho;
– Promoção dos modos suaves e da mobilidade partilhada integrando-os nos sistemas de bilhética unificados;
– Revisão da fiscalidade automóvel;
– Subsídios à utilização do transporte público.
A ZERO reforça a importância de um conjunto abrangente de políticas públicas eficientes que conduzam a uma redução significativa da utilização do automóvel privado e defende:
– A prioridade à utilização de transportes públicos e meios de mobilidade suave ou ativa;
– Sendo a necessidade de utilização do carro incontornável, o carro elétrico é uma opção menos má;
– Ao comprar um carro elétrico, escolha um em segunda mão adequado às suas necessidades diárias.