Compostagem doméstica: Vermicompostagem Vs. Bokashi Vs. Takakura
Os restos orgânicos, como restos de comida e cascas de frutas e legumes, têm um peso significativo na quantidade total de resíduos produzidos a nível doméstico. Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), em 2021, aproximadamente 45% de tudo o que foi no nosso saco de lixo correspondeu a resíduos orgânicos.
Se forem devidamente separados, os resíduos orgânicos (também chamados biorresíduos) têm um grande potencial de valorização, podendo ser utilizados como matéria-prima para melhorar a qualidade de solos. Concluindo, Portugal deita fora lixo de muito valor.
Através do processo de compostagem é possível fazer o aproveitamento destes resíduos. É um processo simples, económico e ecologicamente sustentável, que pode ser feito dentro de casa, pois os fenómenos que ocorrem não precisam de muito espaço nem de logística que atrapalhe a vida normal num apartamento.
A compostagem é um processo de degradação controlada de resíduos orgânicos, reciclando os nutrientes que podem assim ficar novamente disponíveis para as plantas. Permite o aproveitamento de alguns restos de comida e resíduos dos jardins e hortas que, por acção de microrganismos, são transformados em fertilizante natural rico em nutrientes, chamado composto. O composto é uma óptima alternativa aos fertilizantes químicos, pois promove a melhoria das condições do solo em termos de estrutura, porosidade, fertilidade, capacidade de retenção de água, arejamento e actividade microbiana e ainda permite reduzir a quantidade de resíduos que vão parar aos aterros. Só vantagens!
Existem vários métodos de compostagem que podem ser realizados em casa: método Takakura, método Bokashi e vermicompostagem. Qual o melhor método e o mais eficiente no tratamento dos resíduos orgânicos domésticos?
Método Takakura
Também conhecido por compostagem acelerada, utiliza um “fermento” microrganismos aeróbios que vão acelerar o processo de decomposição, podendo estar pronto em 30 dias. Não requer microrganismos fermentativos especiais, apenas aqueles que existem no nosso quotidiano nos resíduos orgânicos comuns na compostagem e na superfície das florestas como cascas de fruta, alimentos fermentados, leveduras, farelos, folhas em decomposição, etc.
Sendo um processo de fermentação aeróbia, os micro e macrorganismos envolvidos neste processo necessitam de um ambiente com circulação de ar, através do revolver da pilha de composto e da presença de orifícios ou frestas no compostor.
É o método mais económico de compostagem, pois para além de precisar de um tecido especial- tecido não tecido (TNT) – para a base do compostor, recorre a materiais quotidianos facilmente acessíveis. Numa fase inicial exige um pouco de investimento de paciência e tempo com a preparação dos “fermentos”, doce e salgado, e da base seca, para depois ser um processo de fácil gestão. Não necessita de materiais secos/castanhos que muitas vezes são o maior desafio para quem vive em cidades.
Método Bokashi
Bokashi é um termo japonês que significa matéria orgânica fermentada. Está dividido em 2 etapas. A primeira etapa é a fermentação anaeróbia dos resíduos dentro do compostor, depois do compostor estar cheio é preciso deixá-lo pelo menos 2 semanas fechado e em repouso para fermentar. Para esta etapa é necessário um equipamento adequado, geralmente um balde hermeticamente fechado, munido de uma torneira por onde sai o biofertilizante líquido, denominado “Chá” de Bokashi. A segunda etapa consiste em misturar os resíduos fermentados com a terra ou numa pilha de compostagem termofílica (compostagem de jardim), ocorrendo a decomposição propriamente dita.
A fermentação dos resíduos no compostor Bokashi permite que se coloque uma variedade de alimentos muito maior do que em qualquer outro tipo de compostagem, praticamente todos os resíduos orgânicos, incluindo produtos animais e comida, apenas com umas pequenas exceções, tais como ossos médios ou grandes, conchas de ostra ou caracóis, resíduos líquidos (sumos, leite e sopa), fezes e papel higiénico usado, medicamentos, pensos e beatas de cigarro. O compostor Bokashi é também, por norma, mais pequeno que todos os outros compostores, cabendo facilmente em qualquer apartamento ou até na bancada da cozinha. Destaca-se pelas vantagens de ser um método muito rápido , uma vez que o processo de fermentação permite acelerar a compostagem e, por exigir pouco espaço, o que é ideal para quem vive em casas pequenas ou caravanas.
Vermicompostagem
É uma técnica de compostagem que usa espécies comerciais de minhocas (das nossas espécies nativas, poucas são as que conseguem sobreviver no ambiente de alta concentração orgânica que se forma compostagem) para acelerar a decomposição da matéria orgânica, sendo as minhocas californianas vermelhas (Eisenia andrei) das mais utilizadas. Ao contrário da compostagem tradicional (compostagem termofílica), que pode levar meses para produzir um composto de qualidade, a vermicompostagem é um processo mais rápido e eficiente.
Neste processo, as minhocas alimentam-se dos resíduos orgânicos, trituram-nos e libertam um “muco” que acelera a decomposição através dos microrganismos. Dessa forma, o vermicomposto é produzido em menos tempo e tem uma qualidade superior ao composto tradicional. Este adubo resultante é rico em nutrientes essenciais para as plantas e tem uma estrutura que melhora a capacidade do solo de reter água e nutrientes. Além disso, também nos dá um biofertilizante líquido. A vermicompostagem é uma técnica acessível e versátil, que pode ser praticada em diferentes espaços, mesmo em espaços limitados como apartamentos e varandas. Tem ainda a vantagem de não haver necessidade de revolver a pilha, pois o arejamento activo é feito pelas próprias minhocas através do seu movimento pelo substrato, que promove o revolvimento do solo, trazendo oxigénio da superfície para dentro do substrato.
Sendo as minhocas um pouco mais exigentes, existem algumas restrições em relação aos resíduos utilizados, não sendo recomendado colocar nada cozinhado, cítrico ou ácido, de origem animal e nenhum resto vegetal com cheiro forte, como ervas aromáticas.
Por fim, qual o vencedor deste duelo sustentável?
Existe um método melhor e mais eficiente de realizar a compostagem doméstica?
Na verdade, não. O melhor método de compostagem é aquele que se adapta ao espaço que existe, ao bolso e à rotina de cada pessoa.
Através de qualquer um destes métodos a compostagem doméstica é acessível a todos, de forma simples, económica e até divertida. Um pequeno grande passo no combate ao flagelo que são os aterros sanitários e as incineradoras.