Desmistificar a RECAUCHUTAGEM!
A reconstrução de um pneu usado, vulgo recauchutagem, é um processo rigoroso e com alto controlo de qualidade.
Em termos ambientais (hierarquia de gestão de resíduos), desde que técnica e economicamente viável, a reconstrução é a melhor solução. É uma forma de aproveitar uma grande parte do pneu original, desde que estruturalmente em bom estado, obtendo-se um produto equivalente ao original e mais económico.
No que diz respeito à legislação existente sobre a utilização de pneus recauchutados, o REGULAMENTO (UE) 2020/740 (transposto para o direito nacional pelo Decreto-Lei n.º 60/2021), refere que atendendo à importância que os pneus recauchutados têm no mercado de pneus para veículos pesados, nomeadamente pelo aumento da sua vida útil e no contributo para os objetivos da economia circular, vem incluir no seu âmbito este tipo de pneus, o que se concretizará operacionalmente quando estiver disponível um método de ensaio adequado para medir o desempenho desses pneus.
Relativamente à preparação para reutilização, em 2023, foram recauchutadas 1702 toneladas (ou seja, somente 2% do total recolhido) e reutilizadas 799 toneladas de pneus usados no âmbito do SGPU – Sistema Integrado de Gestão de Pneus Usados.
No entanto, se compararmos os valores atuais de recauchutagem com anos anteriores verificamos estar a existir uma diminuição drástica. Por exemplo, há 10 anos eram recauchutadas cerca de 13 mil toneladas e, recuando mais no tempo, em 2007 quase 25,5 mil toneladas!
Para além da urgente necessidade de criação do método de ensaio adequado para medir o desempenho de um pneu recauchutado (Decreto-Lei n.º 60/2021) importa manter os potencias consumidores informados, e que a confiança em pneus recauchutados cresça.
Com efeito, apresenta-se a seguir os procedimentos para a reconstrução/recauchutagem de pneus usados (com base no documento referido na bibliografia da AEP).
Figura 1 Principais operações do processo produtivo da recauchutagem
Descreve-se de seguida cada uma delas.
Receção e armazenagem
As carcaças dos pneus são identificadas pelas suas características e armazenadas até à inspeção.
Inspeção
As carcaças de pneus são sujeitas a uma análise pormenorizada do seu estado de conservação. Esta operação pode ser realizada utilizando máquinas específicas que ajudam a expor as diferentes partes do pneu, permitindo assim identificar a existência de falhas, defeitos superficiais ou objetos estranhos. As carcaças em boas condições podem seguir diretamente para o processo de fabrico ou, em alguns casos, serem sujeitas a reparações.
Raspagem ou grosagem
Esta operação consiste na raspagem da superfície da carcaça para remover a banda de borracha remanescente, de forma a definir a geometria da carcaça e preparar a textura da superfície para receber a nova borracha. Nesta operação poderão ser ainda efetuadas ligeiras reparações, corrigindo pequenos defeitos da carcaça.
Aplicação de cola ou cimentação
A cola é aplicada na carcaça, previamente preparada, aumentando desta forma a adesão da banda de borracha que colocada na carcaça, formará o novo piso do pneu. A cola é constituída por uma mistura de borracha e solvente.
Enchimento ou aplicação do piso
A aplicação do novo piso na carcaça é feita de acordo com o tipo de vulcanização a que se destina. No processo a frio, a banda de borracha pré-moldada é colocada na carcaça e procede-se à sua calcação para melhorar a adesão. No processo a quente, a banda de borracha não vulcanizada é aplicada na carcaça, seguindo depois para o processo de vulcanização por prensa onde adquire a sua forma final.
Vulcanização
No processo a frio é necessário introduzir o pneu em envelopes de borracha, onde por ação do vácuo se promove a adesão do piso à carcaça. O conjunto é introduzido nos autoclaves e sujeito a um ciclo de pressão e temperatura. No processo a quente, o pneu é introduzido em moldes aquecidos por vapor, adquirindo o perfil de piso pretendido. Devido à temperatura atingida (cerca de 150ºC), a borracha passa por uma transformação química, onde são formadas ligações por pontes de enxofre que conferem à borracha as suas propriedades finais de elastómero.
Inspeção final
Procede-se ao exame rigoroso dos pneus para deteção de eventuais defeitos de moldagem ocorridos no processo de vulcanização. Verifica-se, também, se o pneu obedece às especificações técnicas requeridas.
Acabamentos
São eliminadas as rebarbas/picos resultantes da moldagem e procede-se à pintura da superfície do pneu
Rotulagem e expedição
Após identificação do pneu de acordo com as suas características, procede-se ao seu armazenamento.
É importante combater a desinformação. Confirma-se que a reconstrução/recauchutagem de pneus usados permite obter um produto seguro, económico e amigo do Ambiente. A ZERO, no ano passado, publicou um pequeno artigo onde desmistificou os pedaços/tiras de pneus que é frequente se encontrarem nas estradas. Que tal rever o “PNEUS: Caça ao Crocodilo!”?
Sítios e documentos consultados
Manual de boas práticas: indústria da borracha e das matérias plásticas: segurança e saúde no trabalho/Projecto Prevenir – Prevenção como Solução; elab. Eurisko – Estudos, Porjectos e Consultoria; coord. Associação Empresarial de Portugal. – Leça da Palmeira: AEP, 2011
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Recauchutagem. Valorpneu. Obtido 11 de agosto de 2024, de https://recauchutagem.valorpneu.pt/
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PNEUS: Caça ao Crocodilo! (2023, agosto 1). Associação Sistema Terrestre Sustentável. Obtido 11 de agosto de 2024, de https://zero.ong/blog/pneus-caca-ao-crocodilo/
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Artigo da autoria de Pedro Carteiro