Energia renovável Biomassa VS. Natureza
Enquadramento
A biomassa florestal residual, é uma componente orgânica que pode ser valorizada energeticamente. Em teoria, pode ser útil para valorizar resíduos florestais ou industriais, sejam eles queimados em centrais de biomassa ou para a produção de pellets. Contudo, na prática, há motivos para crer que o uso de biomassa não é feito de forma sustentável nem se enquadra numa visão de descarbonização do setor energético.
Em Portugal, no ano de 2021, foram produzidas cerca de 815 000 toneladas de pellets, cuja produção exigiu mais de 1,5 milhões de toneladas de madeira. A estas acrescem mais de 3 milhões de toneladas ano, de biomassa florestal, que nem sempre correspondem a verdadeiros resíduos.
É de referir que, no caso das pellets, em 2021 mais de 500 000 toneladas, foram exportadas para países europeus, onde foram queimadas em centrais ineficientes para produzir eletricidade alegadamente renovável. Acontece que, a queima de biomassa florestal não é neutra em carbono, nem renovável e o corte de florestas para produção de energia está a colocar em causa a capacidade de sequestro de carbono das florestas em território europeu.
Posição ZERO
A ZERO é uma das mais de 200 organizações que a nível internacional estão preocupadas com a insustentabilidade resultante do corte de florestas para produção de energia. A biomassa florestal não é uma fonte de energia limpa, visto que a queima de biomassa florestal liberta rapidamente para a atmosfera grande quantidade de dióxido de carbono, o qual vai levar décadas ou até mesmo séculos até que as árvores cresçam e sequestrem esse carbono. O seu potencial renovável é questionável e medido em décadas ou mesmo séculos. Além disso, o abate de árvores compromete o potencial de mitigação de alterações climáticas do principal aliado, as florestas, que funcionam como um importante reservatório de carbono. Embora a legislação em vigor preveja apenas a queima de resíduos florestais e industriais, relatórios da ZERO de 2021 e 2022 alertam para a utilização de madeira de qualidade para a produção de energia.
A ZERO defende que os apoios e incentivos governamentais devem ser dirigidos para formas de produção de energia realmente sustentáveis.
Acresce que, a má localização de centrais de biomassa, como é exemplo da central do Fundão, é um foco de conflitos com as populações devido aos problemas de qualidade do ar e ruído, que degradam a qualidade de vida de quem ali reside.
Conflito biomassa vs natureza?
Para que a utilização de biomassa florestal no setor energético seja verdadeiramente sustentável é necessário garantir que são cumpridos um conjunto de pontos:
- Queimar única e exclusivamente resíduos. Para tal é necessário garantir que as centrais de queima de biomassa não queimam materiais que podem ser valorizados por outras indústrias na produção de produtos com valor acrescentado, assim como não promovam a queima de biomassa primária, que é retirada diretamente da floresta para valorização energética.
- Melhorar a fiscalização de forma a que se cumpram os critérios de sustentabilidade previstos na legislação em vigor.
- Realizar estudos que permitam averiguar com rigor o potencial do uso de resíduos florestais para produção de energia e qual o seu impacte na redução do risco de incêndios.
- Aprovar e publicar uma definição de biomassa florestal residual que verdadeiramente garanta que a utilização de biomassa florestal não resulta na queima de madeira e o desvio de matéria-prima de outras utilizações mais nobres.