Infraestruturas cinzentas vs Infraestruturas verdes

Os desafios complexos derivados da crise climática, da crise de biodiversidade e do crescimento populacional, com que todos os governos em redor do planeta se debatem hoje em dia, são solucionados muitas vezes recorrendo a instrumentos de gestão e planeamento do território, como infraestruturas cinzentas e verdes.
Às infraestruturas de engenharia convencionais, também designadas por infraestruturas cinzentas, como por exemplo, barragens e diques, canais de drenagem de cimento, estradas e pontes, estações de tratamento de esgoto, paredões, etc., juntam-se agora alternativas inovadoras inspiradas nos serviços de ecossistemas providenciados pela natureza, chamadas Infraestruturas baseadas na Natureza (IbN). Essas Infraestruturas são Soluções baseadas na Natureza (SbN) que envolvem a proteção, restauro, gestão melhorada ou criação de ecossistemas naturais e semi-naturais para fornecer serviços relevantes para o funcionamento das infraestruturas. Por outras palavras, as IbN abrangem tanto os ecossistemas naturais como florestas, mangais, matos ripícolas, zonas húmidas e prados, como as infraestruturas que combinam estruturas de engenharia artificial com elementos e processos naturais.
As infraestruturas verdes são um tipo de IbN que envolvem, principalmente, soluções baseadas no uso de vegetação. Alguns exemplos são: telhados e paredes verdes, parques e florestas urbanas, corredores verdes, jardins de chuva, margens naturais restauradas de rios, bioswales, pavimentos permeáveis, etc.
Entre infraestruturas cinzentas e infraestruturas verdes, dois conceitos centrais da gestão territorial, qual é o mais sustentável?
Reconhece-se cada vez mais que as infraestruturas de engenharia convencionais ou cinzentas apresentam deficiências. Estas, para além de terem um elevado custo de construção e manutenção, geralmente desempenham uma única função (transporte ou drenagem, etc.) e não prestam serviços económicos, ambientais e sociais adicionais; não têm capacidade para se ajustarem às consequências da alteração das condições ao longo do tempo; conduzem a um maior consumo de energia e de recursos; têm grande impacto ambiental, como o agravamento das alterações climáticas, através da queima de mais combustíveis fósseis, impermeabilização do solo e destruição de ecossistemas.
Exemplo de recuperação de uma linha de água e combate à erosão com recurso a infraestrutura cinzenta:
Por outro lado, as infraestruturas verdes são consideradas abordagens mais sustentáveis que utilizam processos e elementos naturais para enfrentar desafios urbanos e ambientais complexos (complexos porque envolvem fatores sociais, económicos e ecológicos que exigem soluções integradas), como alterações climáticas, segurança hídrica, perda de biodiversidade e fragmentação dos habitats, degradação da qualidade de vida urbana, etc. Em contraste com as infraestruturas cinzentas, as infraestruturas verdes podem assegurar múltiplas funções e benefícios num mesmo espaço:
- Ambientais: melhoria da qualidade do ar, prevenção de inundações, sequestro de carbono, arrefecimento das zonas urbanas, apoio à biodiversidade, mitigação e adaptação às alterações climáticas;
- Sociais: melhoria da qualidade de vida, fortalecimento de laços comunitários, melhoria da estética dos espaços;
- Económicas: criação de emprego, valorização dos imóveis.
Exemplo de recuperação de uma linha de água e combate à erosão com recurso a infraestrutura verde (SBN)
Em suma, as infraestruturas verdes são projetadas para serem mais eficientes, economicamente viáveis, mais flexíveis e resilientes em relação à adaptação climática, capazes de providenciar vários serviços de ecossistema, que resultam na melhoria da qualidade de vida e resiliência das comunidades, do que as infraestruturas cinzentas.
No entanto, as infraestruturas verdes e cinzentas não são incompatíveis, mas devem ser complementares. É fundamental integrar as duas, criando infraestruturas híbridas, que combinam as estruturas artificiais ou “cinzentas” com Soluções baseadas na Natureza, aproveitando assim os pontos fortes de ambas:
- Aumento da eficácia das soluções técnicas;
- Redução dos custos ambientais e energéticos;
- Criação de cidades mais resilientes, inclusivas e adaptadas às mudanças climáticas.
Em conclusão, a Natureza não só tem a capacidade de nos ajudar a combater as alterações climáticas, mas também de suportar as nossas economias. À medida que os governos em redor do planeta se debatem com a crise climática, tornou-se evidente que construir com a natureza em vez de apenas a explorar ajuda a resolver muitos dos desafios urgentes.