Mitigação Climática Vs Adaptação Climática
O planeta e a Humanidade enfrentam atualmente uma das maiores ameaças – as alterações climáticas – com consequências desastrosas já visíveis a nível ambiental, social e económico. Devido às suas características geográficas, Portugal encontra-se entre os países europeus com maior vulnerabilidade a estas alterações.
Antes de responder ao duelo, um breve contexto da crise climática
O efeito de estufa é um processo natural que regula a temperatura na Terra, sendo necessário para manter a vida no planeta: parte da radiação que a Terra recebe do Sol é refletida de volta para a atmosfera onde é absorvida pelos gases com efeito de estufa (GEE), aquecendo a Terra permitindo que a água ocorra em estado líquido e a existência de vida.
No entanto, a libertação de gases com efeito de estufa (GEE) – dióxido de carbono, metano, óxido nitroso, gases fluorados – resultantes das atividades humanas está a perturbar o equilíbrio natural tornando o efeito de estufa mais forte, contribuindo assim para um aumento descontrolado da temperatura. As emissões de GEE têm aumentado exponencialmente em grande parte devido à queima de combustíveis fósseis, como o petróleo e o gás destinados à produção energética e transportes, mas também à desflorestação e à pecuária intensiva.
Atualmente, o aquecimento do planeta induzido pelo homem aumenta à taxa de 0,2ºC por década. Em 2019, a temperatura média mundial atingiu 1,1ºC acima dos níveis pré-industriais.
Há consenso científico de que o aumento de 2ºC em relação às temperaturas da época pré-industrial irá intensificar mudanças nos padrões meteorológicos, como os padrões de precipitação, a frequência e intensidade de eventos meteorológicos extremos como secas, ondas de calor, inundações, cheias e furacões. O impacto, a nível mundial, no ambiente natural e na saúde e bem-estar humanos poderá ser catastrófico.
Por este motivo, a comunidade internacional reconheceu a necessidade de manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC e de prosseguir os esforços para o limitar a 1,5ºC – através do Acordo de Paris.
Como prevenir e atenuar os impactos das alterações climáticas?
Existem atualmente duas linhas de ação para prevenir e atenuar os impactos das alterações climáticas: a mitigação e a adaptação climáticas. O que significam? Será uma delas melhor opção do que a outra?
Comecemos pela mitigação. A mitigação climática é uma ação de resposta às alterações climáticas que consiste em evitar ou reduzir a emissão de gases com efeito de estufa (GEE) para a atmosfera. Esta atenuação é conseguida quer reduzindo as fontes destes gases, quer aumentando o seu armazenamento, ou o sequestro de carbono.
E o que é adaptação climática? A adaptação climática é o processo de ajustamento aos efeitos atuais e futuros das alterações climáticas. Consiste em reduzir a vulnerabilidade aos efeitos negativos nos ecossistemas e na qualidade de vida das populações, tomando as medidas adequadas para evitar ou minimizar os danos, mas é também antecipar, planear, identificar e explorar as oportunidades que possam surgir dessas mudanças.
Então, no combate às alterações climáticas qual é a melhor opção: mitigar ou adaptar?
Na realidade, são as duas. A mitigação e adaptação climáticas são duas estratégias complementares no combate às alterações climáticas, cada uma das quais aplicada a um nível diferente. A mitigação aborda as causas das alterações climáticas, enquanto a adaptação aborda os seus efeitos, ou seja, o objetivo da primeira é limitar o aquecimento, o da segunda é aprender a viver com ele. São duas dinâmicas interdependentes: quanto mais as alterações climáticas forem mitigadas, menos radical e abrupta terá de ser a adaptação. E quanto melhor nos adaptamos às alterações, em melhores condições estaremos de as mitigar. Ambas são urgentes, pois dispomos de pouco tempo para limitar os danos do clima.
As alterações climáticas são um problema global sentido em escalas locais, que exige respostas concertadas a nível global e ações adequadas a nível local. As medidas de combate são necessariamente variáveis, pois a exposição às alterações não é idêntica para todos os países, existem regiões do globo mais vulneráveis do que outras. Estas desigualdades geográficas estão associadas a desigualdades económicas. “A capacidade adaptativa, que está intimamente ligada ao desenvolvimento socioeconómico, está desigualmente distribuída entre e dentro das sociedades”, salienta o IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas). Daí a necessidade absoluta de uma cooperação internacional e de uma distribuição justa dos custos. A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas e o Acordo de Paris asseguram a cooperação transfronteiriça para combater as alterações climáticas e garantir um futuro sustentável.
Como travar o aquecimento do planeta?
Essa é ‘A’ questão. É necessário alcançar um nível nulo de emissões líquidas de CO2 em todo o mundo. As nações comprometeram-se a alcançar até 2050 a neutralidade carbónica, ou seja, o balanço nulo entre os GEE emitidos e os GEE removidos por sumidouros.
Na realidade, é um ciclo: atenuar as alterações climáticas significa reduzir o fluxo de gases com efeito de estufa que retêm o calor na atmosfera. Para tal, é necessário reduzir os gases com efeito de estufa provenientes das principais fontes, como as centrais elétricas, as fábricas, os automóveis e as explorações agrícolas. As florestas, os oceanos e o solo também absorvem e armazenam estes gases (são sumidouros de carbono) e são uma parte importante da solução. Reduzir e evitar as nossas emissões exige que reformulemos tudo o que fazemos – desde a forma como alimentamos a nossa economia e cultivamos os nossos alimentos, à forma como viajamos e vivemos, e aos produtos que consumimos:
- Apostar na transição dos combustíveis fósseis para energias limpas e renováveis e melhorar a sua eficiência energética;
- Promover o transporte público e a mobilidade sustentável;
- Promover a indústria, a agricultura, a pesca e a pecuária como atividades económicas mais ecológicas e sustentáveis;
- Promover um estilo de vida sustentável: reduzir o desperdício alimentar, promover o consumo responsável a redução de resíduos através da regra dos 5 R’s (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar);
- Travar a desflorestação, utilizar a terra de forma sustentável e restaurar a natureza até chegarmos a um ponto em que a libertação de gases com efeito de estufa para a atmosfera seja equilibrada com a captura e armazenamento desses gases nas nossas florestas, oceanos e solos.
Que medidas de adaptação devem ser implementadas?
Paralelamente às medidas de mitigação para conter o aquecimento global, deve-se igualmente promover medidas de adaptação às mudanças climáticas, tais como:
- Construção de infraestruturas resistentes aos riscos e a utilização de soluções baseadas na natureza, como as planícies aluviais;
- Diversificar as variedades de cultivos para que se adaptem melhor a climas mais instáveis;
- Tornar as cidades mais ecológicas e energeticamente mais eficientes;
- Aumentar a capacidade de recolha e armazenamento da água da chuva;
- Relocalizar áreas habitacionais ameaçadas pela subida do nível das águas e pela erosão;
- Monitorizar e antecipar o aparecimento de novas doenças;
- Pesquisar e desenvolver soluções inovadoras para a prevenção e gestão de catástrofes naturais;
- Desenvolver protocolos de atuação no caso de emergências climática.