O tráfico ilegal de HFCs ameaça o esforço global de combate às alterações climáticas
E Portugal está na mira deste crime organizado
A organização não governamental britânica Environmental Investigation Agency (EIA) tem persistentemente denunciado o crescente flagelo do comércio ilegal dos hidrofluorcarbonetos (HFC), gases fluorados com efeito estufa muito potente, utilizados maioritariamente na refrigeração e climatização. O relatório da mais recente investigação da EIA denuncia o agravamento deste problema e enfatiza a necessidade de uma resposta coesa, para atacar o problema na raiz, algo que a nossa vizinha Espanha tem posto em prática com sucesso, como ilustra a reportagem desta campanha.
Com o novo regulamento, que entrou em vigor este ano, e que introduz ainda mais restrições ao uso destas substâncias é apenas de esperar que o comercio ilegal, oportunista por natureza, escale. Portugal permanece às escuras no que toca ao tipo e quantidade destas substâncias que por aqui transitam ilegalmente, quer seja para consumo interno quer seja para atravessar fronteiras rumo a ‘nuestros hermanos’. Espanha, por outro lado, é um dos principais destinos desse tráfico ilegal, um país severamente castigado por seca e temperaturas extremas, mas que, ciente da importância destas substâncias para o clima, resolveu atacar o problema de frente.
O caso de sucesso espanhol revela a ‘fórmula mágica’: ação, capacitação e adaptação
Para começar, Espanha optou por taxar o comércio legal de acordo com o impacto climático da substância, quanto pior para o clima maior a taxa. Um ato corajoso e sem precedentes, claro está que se repercute no aumento do mercado paralelo, mas foi novamente aqui que Espanha também inovou. Conhecendo já a natureza e volume deste tráfico, este país passou a incluí-lo na classe de crime organizado o que permitiu atuar de forma muito mais peremptória e eficaz com os transgressores, eliminado circuitos completos que atuavam neste mercado paralelo e dissuadindo tantos outros.
O combate a este flagelo passa pois por mais ação e investimento, capacitando aqueles que estão na primeira linha de combate ao tráfico – fiscais, alfândegas e forças policiais, para lidar com este problema que se prevê que só se vá agravar.
O novo regulamento prevê mecanismos extra para, precisamente, combater este problema como o reforço de fiscalização alfandegária, monitorização mais eficaz das cotas legais e um maior escrutínio das empresas envolvidas em toda a cadeia de valor. Mas além destas medidas e recomendações precisamos de atuar sobre a informação no terreno que já temos, e para o qual este relatório tanto contribui, é preciso passar do conhecimento para a ação e atuar eficazmente.
Reportagem
https://www.youtube.com/watch?v=WZtClR19LW8&t=62s
Relatório
More Chilling Than Ever – Tackling Europe’s ongoing illegal trade in HFC climate super pollutants
Natasha Van Doorn