Reciclagem de têxteis: quais os desafios?
Entrou 2025 e entrou também em vigor a obrigatoriedade de os municípios portugueses fazerem a recolha seletiva de têxtil usado. A recolha seletiva de têxteis é um sistema que visa separar os resíduos têxteis (como roupas, tecidos e outros materiais) de outros tipos de resíduos na origem. O objetivo é garantir que esses materiais sejam reutilizados ou reciclados de forma adequada, reduzindo o desperdício e os impactos ambientais. Mas será a reciclagem dos têxteis assim tão simples? Eis a sua resposta, descomplicada.
Como se processa?
Depois da recolha dos materiais para reciclagem, estes são classificados consoante o tipo de material (fibras naturais ou sintéticas, por exemplo). Conforme o tipo de material, a sua decomposição pode ser feita mecanicamente (os têxteis são triturados em fibras e fiados, podendo ser usados como enchimento ou material de isolamento), ou quimicamente (muito usada para o poliéster por exemplo, decompondo o tecido para voltar à sua matéria-prima, que pode ser reutilizada em novas fibras). As fibras recicladas são muitas vezes misturadas com fibras virgens para melhorar a sua resistência e este novo fio volta a ser usado em novas peças.
Quais os entraves à reciclagem de têxteis?
A reciclagem deste tipo de material é sem dúvida importante, sobretudo tendo em conta o impacto que esta indústria tem no ambiente. Em Portugal, em 2023 foram produzidos 21,56 quilos per capita de resíduos têxteis, sendo que apenas cerca de 15 % dos resíduos têxteis são recolhidos seletivamente. No entanto, são vários os fatores que dificultam o desenvolvimento da reciclagem de têxteis.
Primeiramente, as peças são muitas vezes compostas de vários tipos de materiais, o que dificulta a sua separação e a reciclagem eficiente. As instalações necessárias para este tipo de reciclagem não estão disponíveis em todas as regiões do país, o que faz com que em algumas localizações, a probabilidade que este material acabe em aterros sanitários seja alta. Tecidos manchados ou contaminados com produtos químicos ou óleos são também difíceis de reciclar pois podem diminuir a qualidade das fibras recicladas ou danificar as máquinas que fazem a reciclagem. Finalmente, o investimento necessário no desenvolvimento de tecnologia capaz de fazer esta reciclagem de forma mais eficaz é insuficiente.
O que fazer?
A solução é (como é quase sempre) comprar menos e reutilizar. Trocar, doar e comprar em segunda mão são hábitos fundamentais. E quando adquirirmos novas peças, tentar que estas sejam de qualidade, respeitando também as instruções de lavagem e secagem para prolongar a vida útil de cada peça.
A ZERO defende que:
– Ainda que a reciclagem esteja longe de ser a principal solução para este setor, é preocupante ver como a maioria das marcas não assume ainda a sua responsabilidade pela gestão dos resíduos têxteis;
– É urgente aplicar uma abordagem adequada da responsabilidade alargada do produtor (RAP) ao setor dos têxteis, de forma a garantir que é quem coloca o produto no mercado que financia o sistema de encaminhamento (preferencialmente para reutilização) e tratamento dos resíduos quando estes chegam ao fim da sua vida;
– O foco deve estar na redução da produção, no incentivo a têxteis duráveis/reutilizáveis/reparáveis, na sua efetiva reutilização e na garantia de que a sua produção é feita a pensar também na sua reciclagem em ‘upcycling’, ou seja, fibra reciclada que possa ser usada para fazer novos têxteis.