Sobrepopulação: um problema para a crise climática?
A população humana mundial cresceu de 2 mil milhões de pessoas em 1927 para 8 mil milhões em 2022 e, de acordo as Nações Unidas, deve atingir cerca de 10,4 mil milhões em 2100.[1] Alguns apontam para uma sobrepopulação do planeta como a principal causadora do aquecimento global, uma vez que o planeta, alegadamente, não terá capacidade para sustentar a vida de tanta gente. Mas será isto mesmo verdade? A resposta é um claro não, e eis o porquê, descomplicado.
A sobrepopulação
A relação entre o aumento da população mundial e a crise climática assenta na ideia de que um número crescente de pessoas implica mais alimentos e consumo, e, portanto, mais exploração dos recursos do planeta e mais emissões. Houve de facto, como referimos anteriormente, um aumento exponencial da população mundial, assim como um aumento gigante das emissões de gases com efeito estufa para o ambiente (passámos de 6 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono em 1950 para cerca de 35 mil milhões atualmente[2]). Mas embora haja uma relação entre os dois fatores, não podemos dizer que o aumento da população corresponde ao aumento incomportável das emissões de dióxido de carbono, uma vez que o crescimento das emissões foi bem mais acentuado que o da população. Ou seja, a população é um fator que contribui para as emissões, mas não é o mais determinante.
Um termo falacioso
Na verdade, o próprio termo sobrepopulação é desde já valorativo e capcioso, pois pressupõe que há gente a mais no planeta quando na verdade o que existe é uma distribuição de uso de recursos desigual, com poucos a consumir muitos recursos e a serem responsáveis por muitas emissões, e muitos a consumir muito pouco. De acordo com a Oxfam, num relatório publicado em Novembro de 2023, os 1% mais ricos do mundo emitem tanto como os 5 mil milhões mais pobres que constituem 66% da população .[3] Em 2019, as emissões de dióxido de carbono destes 1% corresponderam a 16% das emissões totais no planeta. Ou seja, é este o cerne do problema – um sobreconsumo de recursos que gera emissões desmedidas por parte de uma pequena fatia da população.
Além disso, o argumento da sobrepopulação tende a culpabilizar as populações mais pobres (pois são as que têm mais filhos), apesar de serem estas as menos responsáveis pela emissão de dióxido de carbono, ao mesmo tempo que retira a responsabilidade aos verdadeiros poluidores. Uma distribuição mais equitativa e justa de recursos permitiria tirar muito milhões de pessoas da pobreza sem fazer aumentar as emissões.
Por isso, a ZERO defende que:
– Não é verdade que haja população a mais, mas sobretudo uma distribuição de recursos desigual.
– O foco deve estar em mudarmos padrões de consumo por forma a utilizarmos de forma sustentável e equitativa os recursos do planeta.
[1] https://population.un.org/wpp/Graphs/DemographicProfiles/Line/900
[2] https://ourworldindata.org/co2-emissions#:~:text=In%201950%20the%20world%20emitted,yet%20to%20reach%20their%20peak.
[3] https://www.oxfam.org/en/press-releases/richest-1-emit-much-planet-heating-pollution-two-thirds-humanity