ZERO complementou a análise dos dados da qualidade do ar que tem vindo a fazer desde o estado de alerta em março de 2020, identificando agora mais um recorde na Avenida da Liberdade.
A ZERO tem vindo a acompanhar em detalhe a evolução da qualidade do ar nas cidades de Lisboa e Porto, recorrendo às concentrações de dióxido de azoto (NO2) medidas nas estações de monitorização da qualidade do ar geridas pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional e cujos dados provisórios são disponibilizados pela Agência Portuguesa do Ambiente.
O dióxido de azoto é um excelente indicador da poluição associada à atividade humana e tem sido usado por diversas entidades e universidades à escala mundial para avaliar o impacte da quebra da atividade económica e da mobilidade na qualidade do ar associadas às medidas restritivas impostas pelo controlo da pandemia de covid-19.
Nas cidades, o dióxido de azoto medido é principalmente consequência direta dos processos de combustão que têm lugar nos veículos, com maior responsabilidade dos que utilizam o gasóleo como combustível que apresentam maiores emissões comparativamente com os veículos a gasolina.
O dióxido de azoto em concentrações elevadas causa efeitos que vão desde a irritação dos olhos e garganta, até à afetação das vias respiratórias, provocando diminuição da capacidade respiratória, dores no peito, edema pulmonar e danos no sistema nervoso central e nos tecidos. Os grupos mais sensíveis como as crianças, os asmáticos e os indivíduos com bronquites crónicas são os mais afetados. Este poluente pode ainda aumentar a reatividade a alergénios de origem natural.
Uma semana no bom caminho em Lisboa mas em direção oposta no Porto
Em Lisboa, a concentração média de dióxido de azoto nos dias úteis da última semana, já em estado de calamidade (4 a 8 de maio), foi mais reduzida em todas as estações comparativamente com a média das concentrações nos dias úteis desde o estado de alerta até ao final do estado de emergência (16 de março a 30 de abril), valores estes que já estavam muito abaixo da média do verificado desde o início do ano até ao estado de alerta.
Média NO2 (ug/m3) entre 1 de janeiro 2020 e início do estado de alerta (dias úteis) | |||||
Av. Lib. | Entrecampos | Sta. Cruz Benfica | Restelo | Olivais | |
58 | 44 | 41 | 31 | 32 | |
Média NO2 (ug/m3) estado de alerta + emergência (dias úteis) | |||||
Av. Lib. | Entrecampos | Sta. Cruz Benfica | Restelo | Olivais | |
22 | 19 | 21 | 16 | 16 | |
1ª semana estado de calamidade (dias úteis) |
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Av. Lib. | Entrecampos | Sta. Cruz Benfica | Restelo | Olivais | |
20 | 14 | 14 | 10 | 8 |
No Porto, a ZERO avaliou a única das duas estações de monitorização de qualidade do ar que apenas tem dados disponíveis desde o início de abril – a estação localizada na Praça Francisco Sá Carneiro, próximo de Campanhã. É uma estação de tráfego que reflete a proximidade de semáforo, o que pode interferir nos dados. Neste caso, a média de concentrações nos dias úteis entre a última semana de estado de emergência e a passada semana aumentou 9 mg/m3, de 34 para 43 mg/m3. Estes valores são no entanto mais reduzidos do que as concentrações verificadas nas semanas de 13 a 17 de abril e de 20 a 24 de abril que foram de 54 e 56 mg/m3, respetivamente. O valor-limite anual de dióxido de azoto é de 40 mg/m3.
As condições meteorológicas são sempre determinantes para as concentrações verificadas mas recorrendo à variação do poluente noutras estações próximas às analisadas, a sua influência não foi considerável.
Um recorde de dois meses e dois períodos de excelente qualidade do ar aquando das maiores restrições
As concentrações de dióxido de azoto na estação de monitorização da Avenida da Liberdade continuam a apresentar sucessivos recordes em diversas análises. Neste caso, e considerando já um período mais longo iniciado a 16 de março de 2020 com o estado de alerta e até esta última sexta-feira, dia 8 de maio, foi possível identificar que a média da concentração deste poluente nunca havia sido tão baixa desde 1994 (ano em que a estação iniciou o seu funcionamento) durante tanto tempo (quase dois meses): 20,5mg/m3;
Em Lisboa, as concentrações de dióxido de azoto verificadas nos dois períodos de maior restrição (9 a 13 de abril – fim-de-semana da Páscoa e 1 a 3 de maio – fim-de-semana prolongado) foram particularmente baixas e sem grandes diferenças entre eles, quer nas estações junto a tráfego da Avenida da Liberdade e Entrecampos, quer nas zonas do Restelo e Olivais) (concentrações em microgramas por metro cúbico).
Média NO2 (ug/m3)
Fim de semana Páscoa | |||
Av. Lib. | Entrecampos | Restelo | Olivais |
13 | 18 | 14 | 9 |
Fim-de-semana 1 de maio | |||
Av. Lib. | Entrecampos | Restelo | Olivais |
12 | 10 | 13 | 10 |
Aprender com o impacto da crise
Sendo desejável a retoma do funcionamento da cidade de Lisboa, e face as estes valores recorde que assegurariam a salvaguarda da saúde pública de quem habita e trabalha no centro de Lisboa, a ZERO apela para a capacidade de implementarmos de forma justa e progressiva um conjunto de medidas que consigam no futuro garantir o cumprimento da legislação e melhorem a qualidade de vida numa das áreas mais nobres da cidade. A nova Zona de Emissões Reduzidas prevista pela Câmara Municipal de Lisboa é um elemento essencial num futuro próximo e logo que possível, a par de outras medidas que permitam assegurar uma boa qualidade do ar. No Porto é necessário resolver também estruturalmente os problemas de monitorização e qualidade do ar existentes.