Início » Acabam-se hoje os recursos renováveis de Portugal
Se todos vivessem como nós, a partir de amanhã o mundo começaria a usar o cartão de crédito ambiental
A ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, em parceria com a Global Footprint Network, atualiza os dados relativos à pegada ecológica.
Se cada pessoa no Planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, a humanidade exigiria o equivalente a 2,19 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos. Tal implicaria que a área produtiva disponível para regenerar recursos e absorver resíduos a nível mundial esgotar-se-ia neste dia 16 de junho. Nesse caso, seria necessário começar a usar recursos naturais que só deveriam ser utilizados a partir de 1 de janeiro de 2018.
Portugal é, há já muitos anos, deficitário na sua capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às atividades desenvolvidas (produção e consumo). A nossa pegada per capita é de 3,69 hectares globais, mas a nossa biocapacidade é de 1,27 hectares globais, com base em dados revistos para toda a série histórica desde 1961.
Todos os anos é apresentada uma estimativa sobre o dia em que a Humanidade atinge o limite do uso sustentável de recursos naturais disponíveis para esse ano, ou seja, o orçamento natural, habitualmente designado como Overshoot Day. Em 2017, o overshoot day mundial foi a 2 de agosto, sendo que o último ano em que conseguimos todos viver com o nosso orçamento natural anual foi em 1970.
Evitar usar o cartão de crédito ambiental é um investimento no nosso bem-estar e qualidade de vida. Viver com pleno respeito pelos generosos limites do Planeta Terra é a única forma de garantirmos um melhor futuro para todos.
Os resultados indicam que a biocapacidade por pessoa em Portugal se manteve no período 1961-2014 em 1,27 gha por pessoa. Por outro lado a pegada ecológica média per capita do país passou de 2,33 gha por pessoa em 1961 para 3,69 gha por pessoa em 2014 – um aumento de 58%. Ao longo dos anos, o deficit ecológico do país aumentou praticamente de forma contínua até ao início do século XXI, com uma tendência decrescente desde aí.
À escala mundial, Portugal é o 69º país com maior pegada ecológica por pessoa. Em termos totais, Portugal é o 61º país, com uma pegada de 38,4 milhões de hectares globais. Entre os países da União Europeia, Portugal tem a 4ª pegada mais baixa por pessoa, mas que é, ainda assim, muito superior à capacidade média por pessoa no planeta. Ou seja, se todos os países tivessem a mesma pegada ecológica que os portugueses seriam necessários 2,19 planetas. Em 2017, com base em dados de 2013, o número necessário de planetas era ligeiramente inferior: 2,17 planetas.
O consumo de alimentos (32% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) encontram-se entre as atividades humanas diárias que mais contribuem para a Pegada Ecológica de Portugal e constituem assim pontos críticos para intervenções de mitigação da Pegada.
Qual o significado da pegada ecológica?
A Contabilização da Pegada Ecológica tornou-se uma medida cada vez mais utilizada para dar relevo ao capital natural e à contabilidade ambiental e é frequentemente implementada em estudos de sustentabilidade para fornecer um primeiro rastreio macroecológico das necessidades metabólicas de uma determinada população, em comparação com a capacidade do ecossistema de fornecer serviços essenciais de suporte à vida.
Tal como um extrato bancário dá indicação das despesas e dos rendimentos, a Contabilização da Pegada Ecológica avalia as necessidades humanas de recursos renováveis e serviços essenciais (através de uma métrica chamada Pegada Ecológica) e compara-as com a capacidade da biosfera de fornecer tais recursos e serviços (através de uma métrica chamada biocapacidade). Tanto a procura como a oferta são expressas em unidades equivalentes a hectare (ou hectares globais – gha), que representam hectares com produtividade biológica média mundial. São considerados seis principais tipos de áreas bioprodutivas, cada uma fornecendo diferentes recursos e serviços de ecossistemas, conforme apresentado na figura abaixo.
O CONSUMO HUMANO É COMPARADO COM A PRODUÇÃO DA NATUREZA. A Pegada Ecológica mede o uso de terra cultivada, florestas, pastagens e áreas de pesca para o fornecimento de recursos e absorção de resíduos (dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis). A biocapacidade mede a quantidade de área biologicamente produtiva disponível para regenerar esses recursos e serviços.
A Contabilidade da Pegada Ecológica é aplicável a diferentes escalas, que vão de produtos a cidades e de países ao planeta como um todo. A Pegada Ecológica de cada cidade, estado ou nação pode ser comparada à sua biocapacidade, informando apenas sobre um aspeto fundamental da sustentabilidade – o quanto a sociedade humana exige da capacidade de regeneração da Terra e quanto está disponível – não sobre todos os aspetos da sustentabilidade nem sobre todas as preocupações ambientais. A tentativa de responder a esta questão de investigação científica em particular é motivada pela perceção – cada vez mais apoiada por um número crescente de estudos – de que a capacidade regenerativa da Terra se tornou o fator limitante para a prosperidade das economias e das sociedades humanas.
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