Início » O que fazemos » Comunicados de imprensa » Análises ao sangue revelam que os políticos da UE também estão expostos aos químicos eternos, os PFAS
O Gabinete Europeu do Ambiente (EEB) e a ChemSec publicaram hoje os resultados de uma iniciativa que revela que os principais dirigentes europeus possuem os chamados químicos eternos nos seus organismos. Foram encontrados até sete PFAS em todas as pessoas testadas, numa gama de 3,24 a 24,66 µg/L. Cinco políticos excederam os limiares de “segurança” existentes. No entanto, estes níveis não diferem significativamente da exposição média dos europeus. Os testes mostram que ninguém está imune à presença de PFAS, nem mesmo os altos funcionários europeus.
Três vice-presidentes da Comissão Europeia, o Comissário responsável pelo Ambiente, o diretor da Agência Europeia do Ambiente e seis deputados do Parlamento Europeu [1], provenientes de um vasto leque de países [2], testaram a presença de 13 PFAS (substâncias per e polifluoroalquílicas) nos seus organismos.
Os resultados revelam uma realidade preocupante que demonstra as ainda grandes lacunas no controlo dos produtos químicos na Europa e a necessidade urgente de regulamentar estas substâncias perigosas: tal como uma grande parte da população europeia, todos os indivíduos testados estavam contaminados com PFAS. Mais de metade dos 13 “químicos eternos” analisados foram encontrados, nomeadamente PFOA, PFNA, PFDA, PFUnDA, PFHxS, PFHpS e PFOS. Em alguns casos, os níveis de exposição excederam os limiares de segurança existentes [3].
Os PFAS estão associados a uma série de problemas de saúde graves, incluindo cancro, infertilidade, malformações congénitas e perturbações do sistema imunitário. Estes resultados servem para confrontar os decisores políticos e os líderes políticos com a dura realidade. “A contaminação por PFAS não discrimina ninguém. Todos nós somos vítimas. Ninguém está imune à poluição química, independentemente do local ou da forma como vive”, sublinha Tatiana Santos, Diretora de Política de Produtos Químicos do EEB.
“Em junho, fiz uma análise ao sangue para verificar a possível presença de substâncias químicas tóxicas no meu sangue. Algumas semanas mais tarde, recebi os resultados. 7 dos 13 PFAS analisados foram encontrados no meu sangue. Os PFAS (ou “químicos eternos”) podem ser encontrados na nossa água, nas embalagens dos alimentos, nos cremes faciais… praticamente em tudo à nossa volta. (…) A Europa está a liderar o caminho, restringindo a sua utilização e investindo dinheiro em investigação e soluções para os substituir. Fiz este teste porque queria ajudar a aumentar a sensibilização para este simples facto: pode ainda demorar algum tempo até que os PFAS sejam totalmente substituídos, mas é o caminho certo a seguir”.
“Estas substâncias eternas estão em todo o lado. Invadem o nosso ambiente, os legumes cultivados em casa, o peixe e o nosso corpo, onde persistem para sempre. Os nossos cidadãos têm de ser protegidos contra isso. Temos de acabar com todas as emissões desta contaminação legalizada. Apelamos à Europa para que proíba totalmente a utilização destes produtos químicos. Nos Países Baixos, o fabricante de produtos químicos Chemours tem de deixar de envenenar os seus vizinhos e o ambiente. Se não tomar as medidas necessárias, não pode haver futuro para esta empresa no nosso país”.
Alguns dos sete PFAS encontrados nos decisores políticos já foram proibidos na Europa – o PFOA e o PFOS. Outros têm algumas utilizações regulamentadas (PFNA, PFDA, PFUnDA e PFHxS), enquanto o PFHpS ainda é permitido no mercado da UE. Apesar de a UE ter um dos sistemas de controlo de produtos químicos mais fortes do mundo, todos os europeus estão expostos a uma poluição química “muito elevada“. A produção, utilização e emissão contínuas de PFAS pela indústria química europeia, não obstante terem conhecimento dos seus perigos para a saúde há décadas, sublinha a inadequação das atuais medidas regulamentares. Foram documentados grandes escândalos de poluição por PFAS, em que a exposição é cerca de 100 vezes superior à média, em toda a UE, com casos na região de Veneto, em Itália; no “vale químico” de França, perto de Lyon; nos Países Baixos; na Flandres e na Valónia, na Bélgica, entre outros. As vítimas iniciaram batalhas legais, de que é exemplo o recente acórdão proferido em Ronneby, na Suécia, que revela que “os residentes foram expostos, através da água potável, a níveis elevados de PFAS no sangue” e “declara a empresa responsável pela indemnização por danos pessoais”.
No entanto, as pressões políticas e da indústria levaram a Comissão Europeia a bloquear a tão necessária reforma da desatualizada lei de controlo de produtos químicos da UE, o REACH (Regulamento sobre o Registo, Avaliação, Autorização e Restrição de Produtos Químicos), concebido em 2006 para salvaguardar a saúde humana e o ambiente dos riscos químicos. Embora cinco Estados-Membros tenham proposto a proibição dos PFAS em janeiro de 2023, a morosidade do processo implica que serão necessários anos para que estes produtos químicos perigosos sejam progressivamente eliminados em toda a Europa.
“Trata-se de um grave problema de poluição e de saúde pública, que não se limita às zonas altamente poluídas. Os PFAS são uma ameaça invisível que se infiltra nos alimentos que comemos, na água que bebemos e até nas nossas casas através de produtos do quotidiano. As autoridades estão, de facto, a dar prioridade à ganância da indústria em detrimento do bem-estar público. É mais do que tempo de os funcionários da UE agirem, protegerem as gerações futuras e responsabilizarem os poluidores pelos danos que causaram”, alerta Santos.
Partes da indústria estão a fazer “uma pressão agressiva” contra a proposta de proibição dos PFAS. Mas algumas empresas estão também a aguardar ansiosamente a proposta de restrição, manifestando publicamente o seu apoio a uma proibição abrangente. A proposta de restrição também estimulou muita inovação no sector. Para satisfazer as futuras exigências do mercado, estão constantemente a ser desenvolvidas alternativas mais seguras aos PFAS.
A iniciativa conjunta do EEB e da ChemSec, que testa os níveis de PFAS entre os políticos europeus, tem como objetivo aumentar a sensibilização e exortá-los a proteger a saúde pública e o ambiente desta ameaça generalizada, desbloqueando urgentemente a reforma da política sobre químicos e apoiando uma proibição abrangente dos PFAS.
“A única forma de lidar com esta crise é regulamentar estes produtos químicos como um grupo, o que deveria acontecer com a atual proposta de restrição da UE. Felizmente, já existem alternativas mais seguras para a maioria das utilizações dos PFAS. É apenas uma questão de lhes dar uma oportunidade”, comenta Anne-Sofie Bäckar, Directora Executiva da ChemSec.
“A poluição química é um problema generalizado na Europa, mas existem também oportunidades significativas para melhorar a situação. Para proteger as pessoas e a natureza, e para impulsionar a economia circular na Europa, devemos gerir os riscos dos produtos químicos em grupo, promover produtos químicos seguros e sustentáveis desde a conceção e eliminar gradualmente as substâncias mais nocivas.”
No âmbito da campanha Toxic Free Future (TFF), coordenada pelo EEB e que envolve nove ONG, entre elas a ZERO em Portugal, estão a ser realizados testes a mais representantes políticos.
[1] As pessoas testadas foram:
Frans Timmermans, anterior Vice-Presidente Executivo da Coimissão Europeia para o Pacto Ecológico Europeu
Margrethe Vestager, Vice-Presidente Executiva da Comissão Europeia para uma Europa à altura da Era Digital
Dubravka Šuica, Vice-Presidente da Comissão Europeia a cargo da Democracia e Demografia
Virginijus Sinkevičius, European Commissioner for Environment, Oceans and Fisheries
Leena Ylä-Mononen, Executive Director of the European Environment Agency
Heléne Fritzon, Membro do Parlamento Europeu
Jutta Paulus, Membro do Parlamento Europeu
Mohammed Chahim, Membro do Parlamento Europeu
Martin Hojsík, Membro do Parlamento Europeu
Nils Torvalds, Membro do Parlamento Europeu
Petar Vitanov, Membro do Parlamento Europeu
[2] Países de origem das pessoas testadas:
Bulgária
Croácia
Dinamarca
Finlândia
Alemanha
Lituânia
Holanda
Eslováquia
Suécia
[3] Atualmente, não é possível estabelecer níveis de exposição abaixo dos quais a segurança possa ser garantida com suficiente certeza ou determinar, a nível individual, se os PFAS afectarão a saúde agora ou no futuro. No entanto, para avaliar os potenciais impactos dos produtos químicos na saúde, os cientistas estabeleceram níveis de referência não regulamentares para o PFOA e os PFOS e para a exposição combinada de quatro PFAS para além dos quais não se podem excluir impactos na saúde.
O nível de referência do PFOA é de 2 μg/L
O nível de referência de PFOS é de 5 μg/L
O nível de referência dos níveis combinados de Σ(PFOA + PFNA + PFHxS + PFOS) é de 6,9 μg/L
Devido à insuficiência de dados toxicológicos, foram estabelecidos limites de controlo/ação para apenas dois PFAS, de entre 10 000: PFOA e PFOS, bem como para a combinação de quatro PFAS Σ(PFOA + PFNA + PFHxS + PFOS). Não existem dados toxicológicos suficientes para a grande maioria dos PFAS.
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