Início » Hidrogénio deve antecipar neutralidade carbónica mas Estratégia Nacional não está à altura do desafio
ZERO considera que estratégia tem muitos aspetos a clarificar e avaliar e ligação ao gás natural é demasiado preponderante.
Terminou ontem, dia 6 de julho, a consulta pública da Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2), relativamente á qual a ZERO entregou um extenso parecer. Após a justificada Declaração de Emergência Climática emitida pelo Parlamento Europeu e por vários Parlamentos nacionais e a proposta de Pacto Ecológico Europeu apresentada pela Comissão Europeia, seria desejável que a Estratégia Nacional para o Hidrogénio pudesse constituir uma forma decisiva de acelerar o processo de abandono progressivo do uso de combustíveis fósseis pela sociedade portuguesa. Apesar da Estratégia se relevar um contributo muito relevante, ela fica aquém de uma transição mais rápida, desejável e necessária, nomeadamente pela ligação demasiado forte ao uso do gás natural, combustível fóssil que tem de recuar mais rapidamente em linha com a necessidade cada vez mais evidente de antecipar a neutralidade carbónica às escalas nacional e europeia.
Necessidade de avaliar comparativamente eficiências e o custo-eficácia ao longo de todo o ciclo de vida
No entanto, é indispensável uma avaliação detalhada das vantagens e desvantagens na comparação entre o recurso à eletricidade renovável através de baterias e através do recurso ao hidrogénio. Há critérios indispensáveis de eficiência, de custo, de viabilidade tecnológica e de efeitos colaterais de uso do hidrogénio como vetor versus um uso direto da eletricidade renovável que têm necessariamente de ser ponderados, devendo também fazer-se uma análise de ciclo de vida em termos materiais e energéticos.
Para a ZERO, queimar hidrogénio numa central térmica ou em equipamentos domésticos em casa é, como princípio e nas condições atuais, errado, e não é uma solução de futuro por razões de eficiência comparativamente com o recurso a eletricidade 100% renovável diretamente injetada na rede de fontes de elevada potência, produzida de forma descentralizada ou mesmo a partir de uso de células de combustível de modo a assegurar o abastecimento de energia elétrica nos anos secos que com elevada probabilidade serão mais frequentes.
Perpetuar o uso de gás natural e a falta de avaliação dos custos da remodelação da rede de transporte
A linha condutora de toda a estratégia é a utilização do hidrogénio como uma forma de reduzir ligeiramente o impacte negativo em termos de emissões do gás natural através da incorporação de uma percentagem de hidrogénio na rede de transporte, sem nunca se chegar a perceber como poderemos descarbonizar por completo. Torna-se assim essencial e desde já quantificar os custos económicos mas também ambientais de uma rede dedicada. Por exemplo, a EN-H2 não propõe um calendário de desativação das centrais de ciclo combinado que hoje são alimentadas com gás fóssil importado e cujos processos de extração, transporte e liquefação comportam níveis elevados de emissões que não são contabilizadas nos inventários nacionais.
Aposta questionável na exportação
Para podermos avaliar a efetividade da EN-H2 e as possibilidades de exportação, uma vez satisfeitas as necessidades do território nacional, seria de esperar que fossem estimados os volumes de hidrogénio necessários por sector, em função de diferentes cenários de evolução tecno-económica e de análises acerca da relativa eficiência energética e material, custo-eficácia e impactos do ciclo de vida da utilização de hidrogénio em comparação com outras tecnologias. Ou seja muito antes de pensar em exportar hidrogénio é necessário utilizá-lo de modo a suprimir a utilização de combustíveis fósseis no território nacional.
Impactos a montante
À antecipação, em vários anos, das metas previstas no RNC 2050 para a produção de hidrogénio deveria corresponder uma concomitante antecipação das metas para a produção de energia elétrica a partir de fontes renováveis, nomeadamente solar e eólica, sob pena de, com o previsível e desejável aumento da eletrificação da energia final, não ser possível produzir excedentes que sejam disponibilizados para a produção de hidrogénio. Para fazer face à crescente eletrificação do sistema energético e à necessidade de produzir hidrogénio para os usos que se revelarem eficientes e custo eficazes ao longo do seu ciclo de vida, precisamos de um conjunto de princípios que permitam ordenar a instalação de sistemas fotovoltaicos de grandes dimensões que devem ocupar áreas sem interesse ecológico.
Elevados usos de água
O uso de água para a produção do hidrogénio é muito pouco discutido, sendo no entanto algo fundamental para implementar corretamente qualquer estratégia de hidrogénio. Não apenas a ciência ainda é limitada nas respostas relativamente ao uso de águas residuais como o volume disponível em Portugal é limitado. A dessalinização também não é uma via a prosseguir dados os elevados custos energéticos. Com um clima cada vez mais seco, esta preocupação tem de ser efetivamente endereçada.
Biomassa não pode servir para produzir hidrogénio
Para a ZERO, a única biomassa na componente florestal que seria admissível para utilizar na produção de hidrogénio é a biomassa residual e o seu potencial de aproveitamento está esgotado. Por outro lado, pensar em utilizar biomassa de qualidade neste processo, será algo completamente insensato, dado que a sua utilização deverá seguir a hierarquia de resíduos, sendo a valorização energética a última opção a tomar depois de estarem esgotadas todas as outras opções, nomeadamente a sua trituração e incorporação nos solos que em Portugal são maioritariamente pobres em matéria orgânica, seguida da utilização pela indústria.
Na perspetiva da ZERO, a incorporação do hidrogénio na nossa matriz energética e industrial, torna necessário garantir que:
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