Início » Inventário nacional continua por fazer e gestão de zonas húmidas precisa de um urgente “agitar de águas”
Comemora-se hoje, 2 de fevereiro o Dia Mundial das Zonas Húmidas, num contexto de enorme apreensão quanto ao evoluir das alterações climáticas, mas também de preocupação face ao estado de conservação dos habitats naturais e seminaturais relacionados com as zonas húmidas e perante perspetivas de degradação adicional pelo incremento da pressão humana ligada à utilização dos territórios.
Neste contexto, a ZERO aproveitou o momento para efetuar nova leitura do último relatório entregue em 2021 por Portugal junto do Secretariado da Convenção de Ramsar e concluiu que esta é uma área da política pública de conservação da natureza que continua negligenciada, tendo em conta as cinco dificuldades identificadas e as também cinco prioridades comunicadas.
Ao nível das dificuldades, podem-se referir as seguintes:
Ainda neste rol de problemas, mas também identificada como uma prioridade a solucionar até à entrega do próximo relatório, é particularmente incompreensível a situação da Região Autónoma Madeira que, volvidos mais de 25 anos sobre a designação dos primeiros Sítios Ramsar portugueses – a Ria Formosa e o Estuário do Tejo em 1980 – ainda nem sequer indicou qualquer Sítio para designação no âmbito da Convenção de Ramsar. De salientar que a Região Autónoma dos Açores tem 13 Sítios designados (12.900 ha), inclusive o de menor área, os Ilhéus das Formigas e Recife Dollabarat, com 7 ha, e o continente possui 18 (119.587 ha), incluindo o com maior área, o do Estuário do Sado, com 25.588 ha.
No que respeita às prioridades, percebe-se que se privilegie a elaboração de planos de gestão das Zonas Especiais de Conservação da Rede Natura 2000, sobretudo as que contêm no seu interior zonas húmidas (nomeadamente os sítios Ramsar), o controlo de espécies invasoras mais nocivas e a designação de novos sítios Ramsar, em particular no arquipélago da Madeira.
Já nos parece totalmente incompreensível não ser prioridade a realização do inventário nacional das zonas húmidas, a elaboração de um plano de mitigação dos efeitos das alterações climáticas nas zonas húmidas em geral e na hidrologia dos sítios Ramsar, com particular incidências nas áreas onde a agricultura intensiva tem potencial de contribuir para a degradação dos aquíferos que suportam estes ecossistemas, um plano de ação para a salvaguarda das turfeiras – muito provavelmente o mais ameaçado habitat natural existente em Portugal – e outros habitats de água doce, como os charcos temporários mediterrânicos ou as depressões intradunares.
Num momento em que existe mais uma tentativa por parte dos interesses associados à agricultura industrial em garantir a afetação de recursos financeiros públicos para a construção de mais barragens, através da estratégia “Água que nos une”, com a finalidade de expandir o regadio coletivo de iniciativa estatal em muitos milhares de hectares, a ZERO alerta para os impactes negativos dos aproveitamentos hidráulicos no fluxo de serviços dos ecossistemas proporcionados pelas zonas húmidas e, em particular, pelos cursos de água.
A drástica alteração dos regimes naturais afeta os caudais ecológicos, impedindo a continuidade dos habitats fluviais e o transporte de sedimentos até aos estuários e zonas costeiras, onde a chegada de água doce é essencial. O valor ecológico destas massas de água artificializadas é muito diminuto e não compensa a perda de zonas húmidas naturais.
A construção de mais barragens associadas ao regadio não resolve o problema cada vez mais recorrente da severidade das secas meteorológicas (redução temporária da precipitação face ao esperado) e da escassez hídrica (o problema é mais estrutural e resulta do excesso de consumo face às disponibilidades existentes).
O objetivo parece centrar-se no continuar a alimentar uma procura crescente muito dependente de um regime de precipitação cada vez mais irregular e das limitações da própria evaporação, de afluências que tendem a reduzir-se e do aumento previsível da evapotranspiração das culturas agrícolas em contexto de temperaturas mais elevadas e perante um modelo agrícola industrial totalmente dependente de rega.
Para além disso, em contexto de seca, há também que ter em conta uma adequada gestão dos aquíferos, uma vez que a maior parte das zonas húmidas estão muito dependentes das massas de água subterrâneas.
As zonas húmidas desempenham um papel essencial na vida na Terra. São responsáveis por fornecer quase toda a nossa água doce, garantindo alimentos e recursos fundamentais. O seu solo filtra e armazena a água naturalmente, tornando-as cruciais para a segurança hídrica, especialmente em regiões com precipitação limitada ou irregular.
A biodiversidade das zonas húmidas é impressionante: 40% de todas as espécies conhecidas de animais e plantas vivem e reproduzem-se nesses ecossistemas. Muitas espécies ameaçadas e endémicas dependem exclusivamente desses habitats para sobreviver.
Além disso, mais de um terço dos vertebrados, quase todos os anfíbios e metade dos peixes utilizam zonas húmidas de água doce. Esses ecossistemas também desempenham um papel fundamental nas migrações, servindo como locais de descanso, alimentação e reprodução para aves, peixes e outros animais migradores.
Além de fornecer alimentos, água limpa e medicamentos, as zonas húmidas ajudam a proteger contra doenças, garantindo ecossistemas saudáveis. São também uma defesa natural contra desastres, como tempestades, inundações e secas. A sua infraestrutura hídrica natural reduz os impactos de eventos extremos, absorvendo milhões de litros de água de cheia e mitigando os efeitos dos desastres naturais.
Esses ecossistemas armazenam mais carbono do que qualquer outro, desempenhando um papel essencial na estabilização do clima. Ao potenciar a resiliência ambiental, as zonas húmidas ajudam a mitigar as alterações climáticas e a proteger as comunidades. A sua preservação é fundamental para garantir um futuro sustentável para a humanidade e para todas as formas de vida que delas dependem.
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