Início » Lisboa não se está a preparar para uma mobilidade sustentável
A Campanha Cidades Limpas, uma coligação de organizações europeias que a ZERO integra e que pugna por uma mobilidade urbana praticamente zero emissões até ao final da década, acaba de publicar o seu novo estudo, onde apresenta o ponto da situação face às soluções de mobilidade partilhada e de emissões zero existentes em 42 cidades europeias, incluindo Lisboa. O presente estudo vem complementar o anterior publicado em 2022, que analisou o desempenho das cidades quanto à adoção das medidas necessárias para descarbonizar totalmente os sistemas de transporte até 2030. Encorajar as cidades de toda a Europa a intensificarem os seus esforços no combate às alterações climáticas, à poluição do ar e à pobreza de mobilidade, através da criação de sistemas de transporte com emissões zero, é o objetivo final da campanha.
No estudo deste ano, intitulado ‘Obrigado por partilhar’, numa alusão à importância da mobilidade urbana partilhada, foram avaliadas 42 cidades europeias fazendo uso de uma metodologia própria para recolha e análise de dados à escala europeia. O estudo desenvolveu quatro indicadores quantitativos que refletem o estado atual da mobilidade partilhada e de emissões zero em cada uma das cidades: (1) bicicletas e trotinetes partilhadas, (2) automóveis elétricos partilhados, (3) autocarros emissões zero, (4) infraestruturas para carregamento de veículos elétricos. Os detalhes da metodologia podem ser encontrados no relatório técnico que acompanha o estudo.
O desempenho das cidades foi medido numa escala de 0 a 100%, e a cidade de Copenhaga, na Dinamarca, ficou em primeiro lugar na classificação geral com uma pontuação de 86,5%, uma cidade com um caminho sólido para uma mobilidade descarbonizada em 2030, representando um exemplo em termos de bons resultados nos quatro indicadores. Seguem-se as cidades de Oslo com 81,3% e Paris com 69,5%. Estas mesmas cidades já haviam ocupado o top cinco da seriação efetuada em 2022. No final da classificação geral está a área metropolitana de Manchester, com 8,3%, seguida de perto por Dublin com 8,8%. O estudo mostra que, em geral, as cidades precisam de melhorar muito nos indicadores avaliados, pois 35 das 42 cidades apresentam uma classificação C ou pior na escala de classes A-F.
Lisboa é a única cidade portuguesa avaliada no estudo. Com uma classificação geral de 49,8%, o que corresponde a um C, está no 10.º lugar da seriação, destacando-se pela positiva graças à ampla oferta de trotinetes e bicicletas partilhadas (avaliada a partir do número destes veículos por cada conjunto de 1.000 habitantes), bem como graças à infraestrutura de carregamento para automóveis elétricos (avaliada através da facilidade de acesso a estações de carregamento pelo público geral e pela potência de carregamento disponível).
Já nos indicadores de automóveis elétricos partilhados (que representa a disponibilidade de aluguer de carros elétricos partilhados a partir do número total destes veículos) e autocarros emissões zero (medido através da incorporação relativa de autocarros 100% elétricos na frota total de autocarros na cidade), Lisboa classifica muito mal ou mal.
A ZERO enaltece a boa classificação de Lisboa em termos de bicicletas e trotinetes partilhadas, mas mostra-se preocupada na medida em que a mobilidade numa cidade como Lisboa tem de estar estruturada em torno dos meios tradicionais de transporte público. Embora a mobilidade suave seja conveniente nas curtas distâncias e na conectividade no último quilómetro, pode não ser prática ou viável para viagens mais longas ou para pessoas com limitações de mobilidade. Os sistemas tradicionais de transportes públicos, como autocarros, elétricos e comboios, é que têm capacidade para transportar um maior número de pessoas de forma eficiente e são mais adequados para deslocações mais longas e para as horas de ponta. Por conseguinte, a ZERO entende que, embora a mobilidade suave seja importante no transporte urbano, é um complemento ao transporte público tradicional e não um substituto, e não pode servir para tapar buracos do transporte público nem para evitar o investimento em infraestruturas ou em meios de transporte, sendo que é disto, sobretudo, que a cidade carece. Por outro lado, é igualmente fundamental ter em conta a escassez ainda existente nalguns locais de infraestruturas próprias para o uso de bicicletas e trotinetes, o que faz que os seus utilizadores entrem, frequentemente, em conflito com os peões e com os próprios automóveis.
Em relação aos automóveis elétricos partilhados, trata-se de um modelo que oferece comodidade individual para deslocações pontuais, acessível, eficiente em termos de espaço e recursos da cidade, sem emissões locais, e por isso vantajoso do ponto de vista climático e da qualidade do ar. Infelizmente, Lisboa presentemente não tem nenhum destes serviços.
Em relação a autocarros emissões zero em Lisboa, a Carris, aquando do fecho do estudo (no final do primeiro trimestre de 2023), apenas possuía na sua frota um total de 15 autocarros elétricos, ou seja, 2,3% do total da frota, o que compara com cerca de duas dezenas de cidades que no estudo têm mais de 10% da sua frota de autocarros eletrificada. É um valor baixo, contudo, é de realçar o investimento anunciado pela operadora em novos autocarros elétricos até 2026, o que permitirá melhorar significativamente esta situação.
Em relação à infraestrutura de carregamento de veículos elétricos privados em Lisboa, é de saudar os bons resultados, mas não deve servir para perpetuar o uso do veículo individual na cidade em detrimento do uso do transporte público coletivo e dos meios de mobilidade suave. Os automóveis elétricos reduzem as emissões, mas há importantes desafios relacionados com uma ampla e densa rede de carregamento em meio urbano, com o congestionamento nas cidades e com a ocupação de espaço de estacionamento nas ruas que poderia servir para atividades mais nobres. São os sistemas de transporte público que podem acomodar eficazmente um grande número de passageiros, reduzir o congestionamento e contribuir para a sustentabilidade. Por isso, a ZERO entende que se deve dar enfoque num quadro institucional propício ao desenvolvimento da infraestrutura de carregamento de veículos públicos elétricos nas cidades, como autocarros, táxis, transporte a pedido e veículos elétricos partilhados.
Cerca de três em cada quatro europeus a viverem em cidades, e com a mobilidade urbana a representar quase um quarto dos gases com efeito de estufa provenientes dos transportes na União Europeia (UE), os centros urbanos e as políticas públicas seguidas pelos atuais decisores políticos e governantes das cidades são decisivos na mudança para um futuro ambientalmente sustentável. Este estudo da Campanha Cidades Limpas permite concluir que não só Lisboa, mas todas as cidades analisadas precisam de fazer melhorias significativas no seu sistema de transportes para conseguirem alcançar uma mobilidade com emissões zero até 2030.
Em relação a Lisboa, a ZERO recomenda que a cidade estabeleça um objetivo claro no que diz respeito ao sistema de mobilidade urbana e que acelere a implementação de medidas no sector dos transportes com vista ao alcance de emissões zero até 2030.
[1] https://zero.ong/?listas_ficheiros=estudo-clean-cities-campaign-2023
[3] https://zero.ong/?listas_ficheiros=relatorio-tecnico-estudo-clean-cities-campaign-2023
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