Início » O que fazemos » Comunicados de imprensa » Mais de metade do prejuízo da aviação para o clima pode ser evitado com custos de 1,60 euros por passageiro
Ajustar os planos de voo dos aviões para evitar rastos de condensação (contrails) pode reduzir o efeito de aquecimento global causado por esses rastos em metade até 2040, com um custo médio de 1,60 euros por passageiro em viagens dentro da Europa e menos de 4 euros em viagens intercontinentais, segundo um novo estudo Federação Europeia de transportes e Ambiente (T&E), que a ZERO integra.
Os rastos de condensação criados pelos aviões – as linhas brancas no céu – têm um efeito de aquecimento do planeta, pois, tal como as nuvens, causam efeito de estufa, estimando-se que esse efeito seja tão importante quanto o das emissões de dióxido de carbono dos aviões. Contudo, este fenómeno, cuja importância foi recentemente focada na COP29(1), pode ser mitigado através de pequenos ajustes nas trajetórias de voo, nomeadamente de pequenas subidas ou descidas para evitar zonas atmosféricas frias e húmidas onde se formam os rastos.
Pequenos ajustes em 5% dos voos permitem reduzir em 80% o aquecimento causado pelos rastos de condensação
Apenas uma pequena parte dos voos – 3% a nível global e 5% na União Europeia – gera 80% do aquecimento total causado por rastos de condensação, ou seja, os ajustes nos planos de voo são necessários num número muito limitado de voos e apenas numa pequena parte das viagens. Nos voos sujeitos a ajuste, o consumo adicional de combustível é de 5% ou menos, e nas frotas inteiras de aviões das companhias é em média de cerca de 0,5% ao longo de um ano. Contudo, evitar os rastos de condensação tem um benefício no clima 15 a 40 vezes superior ao do malefício trazido pelo consumo extra de combustível. Estes benefícios aumentarão à medida que a tecnologia progride.
Uma solução climática muito barata
Como solução climática, evitar rastos de condensação é uma pechincha: custa menos do que um café no aeroporto. O estudo conclui que um voo intraeuropeu teria um custo extra médio de 1,60 euros (Barcelona a Berlim custaria mais 1,20 euros) e um voo transatlântico um custo extra médio de 4,30 euros (Paris – Nova Iorque, custaria mais 3,90 euros). Estes valores incluem o combustível adicional e todas as tecnologias associadas à prevenção da formação de rastos (sensores de humidade, informação de satélite, etc.). Por tonelada de dióxido de carbono equivalente evitada, essa solução é cerca de 15 vezes mais barata do que outras, como captura direta de carbono (DACCS, na sigla inglesa).
Legislação deve contemplar monitorização dos efeitos não-CO2 em todos os voos na UE já a partir de 2027
Companhias aéreas, start-ups e outros atores estão a posicionar-se para colocar a prevenção dos rastos de condensação em prática. Em 2023, foi realizado um teste(2) com mais de 70 voos, nos quais 54% da formação de rastos foi mitigada, com um acréscimo estimado de 0,3% no consumo de combustível por parte de todos os aviões envolvidos. Para garantir que a prevenção de rastos seja implementada em larga escala, os rastos de condensação devem ser monitorizados em todos os voos que partem ou chegam à UE a partir de 2027, e os reguladores devem preparar o espaço aéreo europeu para a adoção dessa prática. A UE deve ainda dar prioridade ao financiamento de investigação sobre a prevenção de rastos de condensação e oferecer incentivos às companhias aéreas e fabricantes que se mostrem proactivos nessa matéria, até que essas tecnologias se tornem padrão.
Neste contexto, em linha com as conclusões do estudo, a ZERO recomenda:
Por fim, é importante realçar que a prevenção de rastos de condensação é uma solução que pode ser implementada em larga escala na próxima década, desde que ações decisivas sejam desde já tomadas, mas, embora se verifiquem benefícios climáticos significativos daí advindos, essa prática não torna menos urgente a necessidade de reduzir as emissões de CO₂ do setor de aviação.
Sobre os rastos de condensação
Os efeitos não-CO₂ da aviação incluem os óxidos de azoto (NOx), dióxido de enxofre (SO2), os rastos de condensação, vapor de água e partículas. Os óxidos de azoto e os rastos de condensação provocam um aquecimento do clima pelo menos tanto quanto o CO₂ da aviação(3). Os rastos de condensação – criados por aeronaves que voam através de ar frio e húmido – constituem os efeitos não-CO₂ mais significativos da aviação. A maioria dos rastos dissipa-se em poucos minutos, mas em certas condições podem persistir na atmosfera, espalhar-se e transformar-se em nuvens artificiais com um efeito de aquecimento.
A geografia e a latitude do voo têm uma forte influência no fenómeno. Voos na América do Norte, Europa e a região do Atlântico Norte representaram mais de metade do aquecimento global causado por rastos de condensação em 2019. O horário do dia também influencia o efeito climático dos rastos. Os rastos formados por voos noturnos e no final da tarde têm a maior contribuição para o aquecimento. A sazonalidade também é importante: os rastos de condensação que mais aquecem tendem a ocorrer no inverno.
Em 2018, um estudo(4) estimou que a força radiativa efetiva (ERF, na sigla inglesa) histórica dos rastos de condensação foi maior do que o ERF do CO₂ histórico emitido pelo setor desde 1940.
Notas:
(2) https://blog.google/technology/ai/ai-airlines-contrails-climate-change/
(4) https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1352231020305689
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