Início » Portos de Lisboa e do Funchal nos 5º e 10º lugares dos portos europeus com maiores emissões de enxofre por navios de cruzeiro
Estudo divulgado pela ZERO aponta 6.º lugar de Portugal entre os países europeus com maiores níveis de poluição por óxidos de enxofre emitidos pelos navios de cruzeiro
A ZERO divulga hoje um novo estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente de que faz parte, e que procura verificar a evolução da poluição atmosférica e das emissões de gases de efeito de estufa (GEE) provenientes dos navios de cruzeiro relativamente aos níveis pré-pandemia de 2019 (link no final). Para tal, são analisadas as emissões de diferentes poluentes atmosféricos como os óxidos de enxofre (SOx), óxidos de azoto (NOx) e partículas finas (PM2.5) e de gases de efeito estufa (GEE) como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e carbono negro (BC).
Esta análise é crucial para evidenciar o impacte exponencial da poluição associada à indústria dos navios de cruzeiro de luxo: comparando com 2019, o número de navios de cruzeiro, o tempo que despenderam nos portos e o combustível consumido, aumentaram todos cerca de 24%, o que resultou num agravamento das emissões de SOx em 9%, de NOx em 18 % e de partículas finas em 25%. Valerá a pena lembrar que estes poluentes são responsáveis por doenças cardiovasculares e respiratórias e contribuem para a acidificação e eutrofização do oceano, com consequências negativas para o equilíbrio dos ecossistemas. De um modo geral, o transporte marítimo é responsável por cerca de 3% das emissões globais de GEE e por cerca de 250 mil mortes prematuras e cerca de 6,4 milhões de casos de asma infantil por ano em todo o mundo.
Os dados de 2022 revelam que o turismo de cruzeiro voltou em força após um breve período de baixa atividade durante a pandemia e, com ele, trouxe níveis de poluição que ultrapassam já os níveis pré-pandemia. Com efeito, em 202,2 os 218 navios de cruzeiro que navegaram na Europa emitiram mais óxidos de enxofre do que o equivalente a mil milhões de carros.
Em termos absolutos, Portugal mantém o sexto lugar entre os países europeus com maiores níveis de poluição por SOx emitido pelos navios de cruzeiro depois de Itália, Espanha, Grécia, Noruega e França, emitindo os navios cerca de 20 vezes mais que os automóveis em circulação. Na Europa, os navios de cruzeiro emitiram 4,4 vezes mais SOx do que os 291 milhões de automóveis em circulação, não obstante a introdução, pela Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla inglesa), de um limite global ao teor máximo de enxofre no combustível utilizado pelos navios que navegam fora das Áreas de Emissões Controladas (ECAs, na sigla inglesa) que passou de 3,5% para 0,5% em 2020 (Sulphur 2020). De notar que nos portos da Europa, o teor de enxofre do combustível é limitado a 0,1% (1000 ppm), mesmo assim 100 vezes mais que os limites impostos ao combustível dos automóveis (10 ppm).
Portos de Lisboa e do Funchal no top 10 dos portos com maiores níveis de poluição associada a navios de cruzeiro
O porto de Barcelona lidera o ranking de portos com maiores níveis de poluição associada a navios de cruzeiro, seguido pelo porto de Civitavecchia em Roma e pelo porto de Piraeus em Atenas. O porto de Lisboa figura em quinto lugar e o porto do Funchal completa o top 10. As emissões de óxidos de enxofre associadas a navios de cruzeiro no porto de Lisboa foram superiores em 2022, em comparação com o ano de 2019, pré-pandemia.
À semelhança do que revelou o relatório anterior (publicado em 2019), também em 2022 Lisboa foi o porto europeu com maior tráfego de navios de cruzeiro (108), seguido de Málaga (107), Barcelona (106) e Civitavecchia (103). O porto do Funchal registou 96 escalas de navios de cruzeiro, um aumento acentuado relativamente a 2019, altura em que registou cerca de 75 escalas e que contribuiu para elevar os níveis de poluição atmosférica catapultando o Funchal para o 10.º lugar no ranking dos portos mais expostos à poluição por SOx dos navios de cruzeiro (15.º em 2019).
Em Lisboa, os navios de cruzeiro emitiram 2,44 vezes mais SOx do que os cerca de 374 mil veículos de passageiros registados na cidade (cerca de 11 toneladas comparativamente a 4,5 toneladas, respetivamente). Já no que diz respeito às emissões de NOx, os navios de cruzeiro que escalaram no porto de Lisboa emitiram cerca de 278 toneladas, 12% do que os automóveis emitiram em Lisboa.
É urgente limitar a poluição oriunda de navios de cruzeiros com a adoção de medidas mais rigorosas nos portos portugueses e europeus
Veneza demonstra claramente que é possível agir eficazmente para colmatar os impactes negativos desta indústria de luxo altamente poluidora. Se em 2019, o porto de Veneza angariou o infeliz título de porto de cruzeiros mais poluído da Europa, em 2022 caiu a pique para a 41.ª posição após ter banido a entrada de grandes navios de cruzeiro no porto em 2021. Esta medida conduziu a uma redução de cerca de 80% nas emissões de SOx dos navios de cruzeiro. Se até Veneza, muitas vezes considerada como o rosto da propaganda para o turismo de cruzeiro em massa, consegue implementar uma medida restritiva deste género em prol da saúde pública e do ambiente, urge questionar sobre o poderá impedir outras grandes cidades portuárias de lhe seguir o exemplo?
Efetivamente, a proibição da entrada de grandes navios de cruzeiro em porto é uma medida eficaz para minimizar a poluição atmosférica a eles associada, mas não será a única. É crucial implementar o mais rapidamente possível as obrigações estabelecidas pelo Regulamento relativo à criação de uma infraestrutura para combustíveis alternativos (AFIR) no que se refere ao fornecimento de eletricidade da rede em terra (SSE, na sigla inglesa) aos navios de cruzeiro até 2030. Sabe-se que o Porto de Lisboa já iniciou os trabalhos no sentido de disponibilizar eletricidade aos navios de cruzeiro já a partir de 2026, mas será sobremaneira importante que os restantes portos portugueses envidem os esforços necessários para garantir as mesmas condições.
De facto, é essencial apoiar o desenvolvimento e implantação de combustíveis verdadeiramente limpos, renováveis e de origem não biológica, nomeadamente a partir do hidrogénio verde. O estudo realizado pelo T&E recomenda ainda a ampliação das Áreas de Emissões Controladas (ECA) a todos os mares dos países da União Europeia (UE) e do Reino Unido. Neste sentido, a ZERO acolhe positivamente todo o trabalho desenvolvido por Portugal no sentido de vir a implementar uma ECA (incluindo SOx, NOx e PM) no Atlântico Nordeste que deverá cobrir as ZEE dos países litorais desde Portugal à Gronelândia.
Falsas soluções como o gás fóssil aumentam o impacte ambiental e climático destes grandes monstros poluidores
Por outro lado, para a ZERO é fundamental criar um afastamento face a falsas soluções que têm sido adotadas pela maior parte dos operadores de cruzeiros, como a gigante MSC, como forma de impulsionar as suas campanhas de propaganda verde enganosas. Desde logo, a utilização de alargada de sistemas de limpeza de gases de escape (comumente conhecidos como scrubbers, na designação inglesa) como forma de cumprir com os requisitos regulamentares ao nível da UE e da IMO, contribui para um aumento das emissões de partículas finas em cerca de 61% quando utilizados com combustível pesado (HFO, na sigla inglesa) com teor de enxofre de 2,6% por oposição a óleo gás marinho (MGO, na sigla inglesa) destilado com teor de enxofre de 0,1%. Além disso, as descargas de águas residuais redistribuem os poluentes para o oceano, transformando poluição atmosférica em poluição marinha, o que para a ZERO é inaceitável.
A ZERO considera ser muito positivo que os portos portugueses tenham já adotado uma proibição à utilização de scrubbers em circuito aberto após a entrada no porto, ao longo do canal de navegação, na atracagem e até que o navio deixe o porto. Ainda assim, esta proibição deverá ser alargada também aos scrubbers de circuito fechado e aplicada a todos os mares europeus.
Além disso, a aposta errónea no gás fóssil liquefeito (GNL) como combustível alternativo tem sido a arma de propaganda verde mais utilizada pelos operadores de cruzeiro, já que reduz efetivamente as emissões de poluentes atmosféricos. Contudo, em termos climáticos, o GNL é mais danoso do que os combustíveis pesados devido às fugas de metano que ocorrem nos motores a quatro tempos frequentemente utilizados pelos navios de cruzeiro. Tal acontece mesmo quando se usa biogás (gás natural renovável). O metano é um GEE com um potencial de aquecimento 80 vezes superior ao do CO2 num período de 20 anos e o estudo do T&E revela que as emissões de metano aumentaram em cinco vezes entre 2019 e 2022, sendo que todos os navios movidos a GNL em águas europeias em 2022 emitiram tanto metano quanto 62 000 vacas.
É imperativo que os operadores de cruzeiro se abstenham de perpetuar a utilização do gás fóssil rotulando-o falsamente de verde e invistam em alternativas verdadeiramente limpas, internalizando-se os custos associados à sua grande pegada ecológica. Da perspetiva dos portos, a ZERO urge as autoridades portuárias a evitar quaisquer novos investimentos em infraestruturas de abastecimento de gás fóssil, canalizando esforços e investimento para o fornecimento de combustíveis renováveis de origem não biológica.
Link para o estudo: https://www.transportenvironment.org/wp-content/uploads/2023/06/The-return-of-the-cruise-June-2023.pdf
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