Prejuízo do não encerramento do Aeroporto Humberto Delgado

É urgente encerrar o aeroporto Humberto Delgado – porquê?

Cerca de 400.000 cidadãos de Lisboa, Loures e Almada sofrem com o funcionamento do aeroporto, não só pelo incómodo e e impacto na sua saúde, mas também em termos económicos (perda de produtividade, subvalorização do património imobiliário). 

O grupo de trabalho para o estudo e avaliação do tráfego noturno neste aeroporto, constituído em 2020 por despacho governamental, já tinha calculado que os custos do excesso de ruído entre as 23h00 e as 7h00 se tinham situado em 2019 nos 206 milhões de euros. O contador que a ZERO apresenta agora mostra os custos acumulados com o ruído desde 2015, com uma estimativa(1) destes custos para o total das 24 horas do dia, estimando o efeito económico da exposição crónica ao ruído.  À data do lançamento deste contador (dia 30 de outubro de 2023) os custos já atingiam o valor astronómico de quase 9 mil milhões de euros. 

9 histórias que representam cerca de 400.000 de Lisboa, Loures e Almada

Luís, Catarina, Michele, Lúcia, Clementina, Nuno, Laura, Isabel e  Carlos dão voz à centenas de milhares de cidadãos que sofrem com o impacto do ruído dos aviões nas suas vidas, enquanto residentes, trabalhadores ou estudantes nas imediações do aeroporto Humberto Delgado. Este aeroporto é um pesado fardo, é urgente encerrá-lo.

Conheça a história de cada um deles neste “Inferno dos Céus”.

Portela deveria estar desativada desde 2015 de acordo com última avaliação ambiental?

Sim.

Em 2015, o aeroporto deveria ter encerrado segundo o parecer de 2006 da Comissão de Avaliação Ambiental do plano de desenvolvimento desta infraestrutura, mas tal não aconteceu. Centenas de milhar de cidadãos, como consequência, são vítimas desse atraso e com graves consequências para a sua saúde, devido à exposição prolongada ao ruído dos aviões.

• O som constante das aeronaves pode levar a distúrbios do sono, interferindo na qualidade e na quantidade de descanso necessário para um funcionamento saudável do organismo.
• A exposição crónica ao ruído excessivo pode aumentar os níveis de stress, contribuindo para problemas cardiovasculares, como hipertensão e doenças cardíacas.
• O ruído constante das aeronaves pode afetar negativamente a saúde mental, podendo estar associado a distúrbios de ansiedade e depressão.
• Existem evidências de que a exposição prolongada ao ruído de aviões pode impactar negativamente a função cognitiva, especialmente em crianças, interferindo no desenvolvimento intelectual.

Portanto, mitigar os efeitos do ruído aeroportuário é crucial para preservar a saúde e o bem-estar das comunidades afetadas.

Os elevados custos associados ao ruído serão compensados pelos benefícios de ter um aeroporto no centro da cidade?

Não.

• Em primeiro lugar, a ZERO considera que o valor da saúde humana e de um ambiente são e livre de ruído excessivo são supremos e não têm compensação possível por quaisquer ganhos monetários hipotéticos relacionados com a presença de um grande aeroporto dentro de uma cidade.
• Segundo, dada a intensa crise habitacional que se vive na Área Metropolitana de Lisboa, é necessário assinalar que seria sempre duvidoso qualquer benefício advindo de um suposto aumento do número de turistas por via da proximidade do aeroporto ao centro da cidade.
• Terceiro, de acordo com a uma análise estatística feita pela ZERO, no âmbito do acompanhamento do procedimento de Avaliação Ambiental Estratégica em curso, com base em dados do Eurostat para o período de 2009 a 2019 em mais de 75 aeroportos europeus, não existe qualquer correlação estatística entre a proximidade de aeroportos ao centro da principal cidade que servem e o crescimento de passageiros transportados nesse período(2).

Quando podemos encerrar o aeroporto da Portela e reduzir as mortes prematuras associadas ao ruído aeronáutico?

De acordo com o último relatório da Comissão Técnica Independente, o tempo necessário para que pelo menos a primeira fase do futuro aeroporto de Lisboa possa estar concluída é de cinco a sete anos, o que significa, para os atuais níveis de afetação do atual aeroporto, 6.500 a 9.100 milhões de euros de custos sociais acrescidos além dos já contabilizados.

Desde 1990, pelo menos seis grandes aeroportos dentro ou muito próximo de grandes cidades europeias foram relocalizados, desativados ou viram a sua atividade reduzida a níveis residuais, nomeadamente em Munique (1992), Oslo (1998), Atenas (2001), Berlim (Tempelhof em 2008 e Tegel em 2020) e Istambul (2022).

Está na hora de fazer o mesmo em Lisboa, acabando de vez com os custos sociais incomportáveis do aeroporto Humberto Delgado – estes custos, só desde 2015, dariam para pagar dois novos aeroportos em local adequado com o menor impacto possível sobre a saúde humana, e quando encerrar, esta infraestrutura somará várias dezenas de milhões de euros em prejuízo irrecuperável para os cidadãos afetados.

(1) Os valores foram calculados em função dos critérios de exposição máxima estabelecidos pelo Regulamento Geral do Ruído (DL n.º 9/2007, de 17 de Janeiro) para receptores sensíveis inseridos em zonas classificadas como zona mista, expressos em dois indicadores de ruído, Lden e Ln. Estes indicadores exprimem-se em dB(A) e representam as médias dos níveis sonoros num período de um ano, o Lden referente ao nível sonoro no período das 24 horas do dia (Lden≤65dB(A)) e o Ln ao período nocturno das 23h00 às 7h00 (Ln≤55dB(A)). Nota metodológica disponível no Anexo I neste link.

(2) Informação completa com a análise estatística (Anexo II) aqui