Início » O que fazemos » Comunicados de imprensa » Rewilding Portugal e ZERO alertam que promoção do rewilding deve ser opção decisiva para o Plano Nacional de Restauro da Natureza
Aproveitando o facto de amanhã, dia 3 de março, se comemorar o Dia Mundial da Vida Selvagem, a Rewilding Portugal e a ZERO vêm alertar para a necessidade do futuro Plano Nacional de Restauro da Natureza, a preparar até agosto do próximo ano, prever que o rewilding figure como opção válida, de baixo custo e muito eficaz como medida para restaurar ecossistemas à escala da paisagem. De salientar que, entre outras medidas, o Regulamento (UE) 2024/1991 do Parlamento Europeu e do Conselho relativo ao Restauro da Natureza, determina um conjunto de metas e de medidas que visam a recuperação de habitats degradados e o combate à perda de biodiversidade no espaço europeu, com o objetivo de abranger, conjuntamente, pelo menos 30% das áreas terrestres e das áreas marinhas até 2030 e, até 2050, todos os ecossistemas que necessitam de restauro.
A abordagem rewilding ou renaturalização na sua tradução em português, reconhece a capacidade que a natureza tem para regenerar quando lhe é permitido o tempo e o espaço necessários para tal. O rewilding coloca o foco em restaurar processos naturais – e.g. ciclos de nutrientes, ciclos naturais do fogo, predação – e deixar que estes deem forma às paisagens terrestres e marinhas de forma dinâmica.
Porém, para consegui-lo, a abordagem rewilding trabalha lado a lado com as comunidades locais, para que o restauro dos ecossistemas beneficie a sociedade e crie economias baseadas na natureza que tragam novas oportunidades para os territórios. Seria, pois, necessário que se começasse por testar e avaliar um novo modelo de cogestão das Áreas Protegidas, em que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas passe a atuar como promotor, avaliador e fiscalizador das ações de conservação da biodiversidade, recorrendo à contratualização de entidades externas para executar a gestão. Esta foi uma das medidas propostas no estudo “Biodiversidade 2030”, encomendado pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática, e desenvolvido por uma equipa portuguesa de investigadores coordenada por Miguel Bastos Araújo, responsável pela Cátedra de Biodiversidade na Universidade de Évora.
Estudos recentes têm vindo a explorar a forma como certas espécies-chave podem realizar funções na paisagem que evitam custos de gestão humana. Por exemplo, um estudo sobre o potencial económico do regresso da cabra-montesa (Capra pyrenaica) a novas regiões de Portugal, concluiu que os benefícios associados à presença da espécie na paisagem superam os custos, e que os efeitos globais sobre a paisagem são positivos, favorecendo outras espécies ao mesmo tempo que criam novas oportunidades de ecoturismo. Adicionalmente, a presença de cabras-montesas noutras paisagens portuguesas – neste momento apenas estão presentes no Parque Nacional Peneda-Gerês – tem também o potencial de ajudar na prevenção de incêndios florestais.
Outro estudo recentemente publicado na revista Nature-Based Solutions avaliou o potencial impacto económico da reintrodução de castores em Portugal. O estudo mostra que o benefício económico pode ser significativo, sendo que ao fim de um ano, uma colónia de castores poderia levar a cabo intervenções de restauro fluvial que poupariam às entidades públicas e aos contribuintes valores entre os 240.000 euros e os três milhões de euros.
Em Portugal, o Grande Vale do Côa é um exemplo de paisagem que está em processo de renaturalização. Um bom exemplo que ilustra esta abordagem e que poderia ser replicado noutras áreas do país, como por exemplo em áreas já protegidas e em baldios. Para além dos benefícios do restauro ecológico, esta paisagem está também a beneficiar de um aumento de ecoturismo potenciado pela criação da Rede Côa Selvagem, uma rede com mais de 60 parceiros do setor turístico e de produtores locais que tem vindo a melhorar a oferta local, numa abordagem ambiciosa e com visão de futuro para o território. É urgente avaliar o potencial de rewilding em outras áreas de Portugal, Madeira e Açores, identificando oportunidades para dar resposta às metas da Lei de Restauro.
Importa salientar que também ao nível da criação de mais áreas marinhas protegidas, estando esta abordagem de rewilding presente, esta pode trazer resultados em pouco tempo, através da declaração de áreas sem extração, que em poucos anos revertem num aumento da biodiversidade dentro da área protegida e um aumento dos recursos pesqueiros fora da mesma, garantindo os objetivos de preservar 30% da superfície marinha protegida, dos quais 10% com proteção estrita.
Perante o contexto nacional, em que a degradação da qualidade dos habitats e declínio do estatuto de conservação e da abundância de múltiplas espécies continua sem abrandamento visível, o rewilding como abordagem de gestão da paisagem – combinada com a remuneração dos serviços de ecossistemas aos proprietários rurais – traz benefícios claros para recuperar paisagens degradadas e reforçar a qualidade de vida das populações locais, hoje prejudicada pelas políticas públicas.
Todavia, esta abordagem exige uma visão diferente dos decisores políticos que encaram os territórios predominantemente como espaços de extração de recursos naturais (água, madeira, massas minerais) e de produção de energia, sem a devida preocupação com os impactes ambientais resultantes da artificialização dos solos ou com a qualidade de vida das populações locais no longo prazo.
É, pois, necessária uma mudança de atitude face à conservação dos valores naturais e um olhar mais crítico ao que é, de facto, sustentabilidade.
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