Início » ZERO – 10 anos, 10 vitórias pela sustentabilidade
Por Francisco Ferreira, Presidente da Associação ZERO
A ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável nasceu há precisamente uma década. A ZERO não nasceu para comentar a realidade, nasceu para a mudar. Desde o primeiro dia escolhemos um caminho exigente que resultou na presença de uma das vozes mais ativas da sociedade civil como organização não-governamental de ambiente: fazer propostas tecnicamente sólidas, acompanhar processos até ao detalhe, denunciar o que falha e, sobretudo, promover uma visão de um país com melhor qualidade de vida e bem-estar para todos nós. Comemorar os primeiros 10 anos é também celebrar os resultados que foram conseguidos através da iniciativa e do esforço da ZERO que hoje fazem parte da realidade do nosso país.
A ZERO procurou abranger as áreas que fazem o desenvolvimento sustentável: Sociedades sustentáveis e novas formas de economia; Água e oceano; Alterações climáticas, energia e mobilidade; Solo, gestão do território e Biodiversidade; Agricultura e florestas.
Uma das áreas fundamentais tem sido a ambição climática. A ZERO trabalhou arduamente junto do Parlamento, governo e partidos políticos para conseguir uma âncora essencial: a Lei de Bases do Clima. A sua aprovação em 2021 elevou o nível de exigência do país: consagrou princípios, objetivos e responsabilidades, incluindo o dever de planear e de implementar com coerência a política climática, abrindo caminho a metas mais ambiciosas. A ZERO acompanhou e continua a acompanhar a sua concretização, porque uma boa lei não pode ficar reduzida a promessas. Uma boa lei tem de se traduzir em decisões, investimentos e resultados mensuráveis. É neste enquadramento que se inscreve outra vitória: a antecipação da neutralidade climática para 2045, e a defesa de ir ainda mais longe. Encurtar para 2040 a neutralidade climática alinha Portugal com a ciência e com o objetivo global de não se ultrapassar um aquecimento de 1,5 ºC em relação à era pré-industrial. Ao longo dos últimos anos não desistimos e insistimos que antecipar metas é reduzir riscos, evitar custos futuros e acelerar a modernização da economia sustentável nos limites do Planeta. Nesta linha da descarbonização, vivemos um ponto de viragem que marcou a década: o encerramento antecipado das centrais a carvão para produção de eletricidade. Em janeiro de 2021, o fecho da central a carvão de Sines representou uma das maiores reduções imediatas de emissões alguma vez registadas em Portugal, retirando do sistema elétrico uma fonte histórica de poluição atmosférica. Meses depois, com o fim da central a carvão do Pego, Portugal fechou definitivamente um capítulo fóssil que durante anos foi um alerta-chave da ZERO e que pesou nas emissões nacionais e na saúde pública. Por fim, uma vitória tão óbvia quanto transformadora: integrar a alimentação na ação climática. A promoção de proteína vegetal e de dietas de baixo carbono no PNEC 2030 mostra maturidade política. Não se trata de impor escolhas individuais; trata-se de orientar o sistema — cantinas públicas, literacia alimentar, produção de leguminosas, consumidores — para opções mais saudáveis e com menor pegada ecológica. Num país onde a crise climática já se sente, reduzir emissões também passa pelo prato.
Numa ótica de prevenção, a ZERO investiu fortemente na transformação local e isso traduziu-se na implementação da abordagem Zero Resíduos em municípios portugueses. O que começou com compromissos pioneiros evoluiu para um programa com metas, envolvimento das comunidades e foco na prevenção, reutilização, recolha seletiva e compostagem. Ver mais cidades aderirem e assumirem metas de longo prazo mostra que a circularidade pode deixar de ser slogan e passar a política pública territorial. No mesmo eixo, uma vitória decisiva foi a aprovação do princípio do sistema de depósito com retorno para embalagens de bebidas descartáveis. A experiência internacional é clara: quando se cria um incentivo simples e uma infraestrutura acessível, sobe a recolha e melhora a qualidade do material, reduzindo lixo espalhado e pressão sobre aterro e incineração. A ZERO, com outras organizações, bateu-se para que o sistema fosse abrangente (incluindo plástico, metal e vidro) e para que não fosse capturado por burocracia e pelos interesses particulares de algumas partes que têm impedido maior ambição. Mesmo com atrasos na implementação, o país deu um passo certo ao consagrar este instrumento, agora é fazê-lo funcionar, sem desvirtuar o objetivo. Para que metas ambientais deixem de ser “recomendações”, é crucial responsabilizar quem falha. Por isso, outra conquista importante foi o estabelecimento do mecanismo de penalização através da Taxa de Gestão de Resíduos aplicada ao incumprimento de metas por entidades gestoras de fluxos específicos. A ZERO tem sido clara: quando a penalização é irrisória, torna-se racional incumprir. Defender uma TGR justa — suficientemente dissuasora — é defender um sistema onde cumprir é mais barato do que falhar. Também cedo percebemos que a sustentabilidade tem um lado duro: o da fiscalização e da legalidade ambiental. Foi isso que nos levou a denunciar a deposição ilegal de amianto em aterros que recebiam resíduos biodegradáveis. A lei já era clara, mas a prática não. A ZERO expôs a situação, insistiu formalmente e obrigou o Estado a reconhecer o óbvio: misturar amianto com resíduos orgânicos, nas mesmas células de aterro, é ilegal e perigoso, pelo risco de libertação de fibras para o ambiente e para os trabalhadores. Quando a tutela corrigiu a posição e as entidades responsáveis foram chamadas a atuar, ficou provado que a vigilância cívica também salva a saúde pública.
Outras áreas complementam a ação da ZERO. Uma dessas batalhas começou cedo e continua: o ruído e os impactes do tráfego aéreo sobre dezenas de milhar de pessoas na área de Lisboa. Defendemos um período de descanso noturno real, com proteção da saúde pública e, é significativo que, após anos de evidência e de pressão, o debate tenha evoluído para medidas concretas para a consagração de um cenário de proibição total dos voos entre a 01:00 e as 05:00 como mínimo indispensável. Esta é uma vitória centrada nas pessoas e na saúde pública, reconhecendo finalmente que mobilidade aérea não pode significar sofrimento permanente para quem vive sob a rota dos aviões.
O Atlântico também é parte da nossa sustentabilidade. A criação de uma Área de Emissões Controladas no Atlântico Nordeste é uma vitória com impacto direto na qualidade do ar costeiro e na saúde pública. A redução e emissões imposta aos navios (como enxofre e óxidos de azoto) significa menos poluição, menos deposição no oceano e menos doenças respiratórias nas populações litorais.
Dez anos, muitas vitórias e algumas derrotas lembrando que nada está concluído. Celebramos sim, com o olhar no futuro: a próxima década exigirá mais implementação e ainda mais coragem. A ZERO continuará a fazer o que a trouxe até aqui — transformar conhecimento em mobilização, mobilização em ação, e ação em mudança real.
| Cookie | Duração | Descrição |
|---|---|---|
| cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
| cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
| cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
| cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
| cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
| viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |