Início » O que fazemos » Comunicados de imprensa » ZERO considera insuficiente a proposta da Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar 2025+
A ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável considera que a proposta da nova Estratégia Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar (ENCDA 2025+), que esteve em consulta pública até ontem, dia 30 de outubro, representa uma oportunidade perdida para enfrentar de forma séria e estruturante um dos maiores desafios éticos, sociais e ambientais do país.
Apesar de reconhecer avanços positivos – como o diagnóstico da gravidade do desperdício alimentar em Portugal, a identificação do consumidor como principal gerador e a intenção de reforçar a medição e o reporte de dados –, a ZERO considera que o documento apresentado é insuficiente, tímido e excessivamente assente em medidas voluntaristas e de sensibilização, falhando em enfrentar as causas estruturais do problema.
Portugal desperdiça, em média, 184 kg de alimentos por habitante por ano, valor 45% acima da média europeia (127 kg/per capita*ano) e o terceiro mais elevado da UE. Perante este diagnóstico alarmante, a estratégia proposta não responde com a urgência e ambição necessárias. Em vez de assegurar o cumprimento das metas legais já estabelecidas no Novo Regime Geral da Gestão de Resíduos (Decreto-Lei n.º 102-D/2020) – que determina reduções obrigatórias de 25% até 2025 e 50% até 2030 –, a ENCDA 2025+ limita-se a descrevê-las sem as traduzir em medidas concretas, ignorando o seu caráter vinculativo.
Ao invés de propor mecanismos eficazes de fiscalização e cumprimento das metas em vigor, o documento retoma uma abordagem voluntarista e essencialmente pedagógica, repetindo modelos que já demonstraram ser ineficazes.
Em qualquer área, a prevenção da produção é sempre preferível a qualquer outra medida subsequente. Neste contexto, observa-se um desequilíbrio na hierarquia de prioridades da estratégia, que coloca a ênfase na doação de excedentes em detrimento da prevenção na origem. Pouco ou nada é dito sobre a necessidade de haver estratégias de redução por parte dos retalhistas e estabelecimentos do setor HORECA e setor do retalho, para os quais existem obrigações neste sentido no RGGR.
Embora as doações tenham valor social indiscutível, não podem substituir políticas estruturais de prevenção, sob pena de perpetuar a ineficiência da cadeia alimentar e desincentivar a redução do desperdício na produção e no retalho.
A sensibilização dos consumidores é essencial, mas a responsabilidade pelo desperdício alimentar não pode continuar a recair quase exclusivamente sobre as famílias. Embora a Estratégia reconheça, em teoria, que o problema ultrapassa o comportamento individual, as medidas previstas neste domínio concentram-se quase apenas em ações de sensibilização, literacia alimentar e iniciativas em meio escolar, ignorando a necessidade de regular práticas de mercado que alimentam o desperdício – como promoções agressivas, marketing enganador e formatos de embalagem inadequados.
Uma resposta eficaz deve agir sobre estas causas estruturais, aliando a educação do consumidor a mecanismos de regulação e responsabilização ao longo de toda a cadeia alimentar.
O desperdício alimentar não é um problema isolado, estando ligado a questões climáticas, agrícolas e de consumo sustentável. A ENCDA 2025+ não se articula com políticas nacionais essenciais, como o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) ou a Estratégia Nacional de Compras Públicas Ecológicas (ENCPE), e trata as emissões associadas ao desperdício (8 a 10% do total global) apenas como um dado de contexto, sem metas claras de redução ou ligação à ação climática – apesar de a redução do desperdício alimentar ser já reconhecida como a medida mais eficaz para limitar o aquecimento global a menos de 2°C até 2100.1
A estratégia concentra-se quase exclusivamente na gestão de desperdício a jusante – retalho, restauração e famílias –, ignorando fragilidades estruturais da cadeia alimentar e medidas para apoiar circuitos curtos agroalimentares, produção biológica ou métodos mais resilientes. Adicionalmente, desconsidera o papel do Estado e das autarquias como grandes compradores de alimentos, não definindo critérios obrigatórios de prevenção de desperdício nos contratos públicos (como os das cantinas, escolas e hospitais) nem exigindo aos fornecedores planos de redução ou aceitação de produtos fora de calibre e estética, que poderiam evitar o descarte desnecessário de alimentos perfeitamente consumíveis.
A estratégia apresenta outra lacuna: a inexistência de metas quantitativas e de um calendário de execução, adiando a definição de indicadores e prazos para subgrupos de trabalho futuros, comprometendo a transparência, impedindo o escrutínio público e político e enfraquecendo significativamente a capacidade de implementação e de responsabilização ao longo do processo.
Já existem metas estipuladas pela legislação europeia e decorrentes dos compromissos assumidos por Portugal (por exemplo, em relação aos objetivos do desenvolvimento sustentável) e já é tempo de termos uma calendarização das ações e dos seus contributos para que estas metas sejam atingidas, não para atingir metas por atingir, mas porque o cumprimento de metas é positivo para o país do ponto de vista ambiental, social e económico.
A ZERO defende que a ENCDA 2025+ deve ser revista e reforçada antes da aprovação, com base em seis eixos:
Em suma, a ZERO considera que a proposta atual da ENCDA 2025+ não reúne condições para aprovação e recomenda ao Governo uma revisão urgente e participada, que oriente a política nacional de combate ao desperdício alimentar da gestão de sintomas para a prevenção de causas, com uma abordagem integrada entre ambiente, agricultura, economia, consumo, resíduos e clima.
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