Início » ZERO divulga ranking sobre emissões em viagens empresariais: muito poucas empresas se comprometem a reduzir viagens de avião
ZERO apela às empresas portuguesas que mostrem mais consciência ambiental nas suas viagens – as nove avaliadas obtiveram classificação medíocre
Ranking Viajar Responsavelmente mostra que 84% das empresas não mostram empenho na redução das emissões das suas viagens
A ZERO, no âmbito da sua integração na Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E), a principal organização europeia para a mobilidade sustentável, divulga uma classificação de empresas mundiais referente às viagens empresariais de avião dos seus trabalhadores, em que, das 230 empresas analisadas, 193 estão mal posicionadas em termos de práticas de viagens sustentáveis – ou seja, 84%.
Esta seriação de empresas revela ainda que, nalgumas , já está em curso um trabalho para reduzir as suas emissões relacionadas com viagens, mas que é necessária mais ambição ambiental e tradução em ações concretas dessa ambição. Oito empresas, incluindo a Zurich Insurance Group, a Lloyds Banking e a Ernst & Young, são as que mais se destacam pela positiva, dados os seus planos de redução de emissões de viagens empresariais. A Zurich Insurance comprometeu-se a reduzir as viagens em trabalho em 70% até 2022, o Lloyds Banking em 50% até 2021 e a Ernst & Young em 35% até 2025, o que são exemplos de boas práticas que todas as demais empresas deveriam seguir.
Este ranking faz parte da nova iniciativa internacional da T&E Viajar Responsavelmente(1) que, em Portugal, é corporizada pela ZERO, em que as 230 empresas (americanas e europeias) são classificadas de acordo com nove indicadores relativos a planos de redução de emissões, relatórios de sustentabilidade e emissões de viagens aéreas. Esta análise lança luz sobre os esforços que muitas empresas de projecção mundial, entre as quais estão nove empresas Portuguesas, ainda têm de fazer para reduzir as suas emissões de viagens empresariais.
Empresas como a Vodafone, a Renault e a L’Oréal têm já estabelecidos objectivos globais de redução de emissões, mas sem se comprometerem em reduzir as emissões das viagens aéreas empresariais, apontando datas para isso. Estas empresas são encorajadas a assumir compromissos em matéria das suas viagens, em linha com as reduções experimentadas em 2020 e 2021 por força da pandemia, mas que lhes permitiu em larga medida continuar as suas actividades sem disrupção, ajudando assim a reduzir as emissões globais de gases com efeito de estufa para ajudar a cumprir o Acordo de Paris de o aquecimento global não ser superior a 1,5°C. As empresas Google, Facebook e Microsoft, entre outras, destacam-se pela negativa, devendo acelerar a sua transição energética. A tabela seguinte mostra as empresas mais bem e mais mal classificadas, numa escala de A a D.
Uma empresa que alcança a classificação mais elevada (A) é porque tem um compromisso de redução em termos absolutos das suas viagens aéreas, havendo mesmo empresas que visam uma redução de 50% ou mais até 2025. Estas empresas têm vindo a reportar as suas emissões em viagens empresariais desde há, pelo menos, um ano, dando o exemplo para outras empresas. Há oito empresas (3%) no ranking que atingem essa pontuação, com a empresa farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk no topo. Pelo contrário, as empresas mais mal classificadas (com D) não divulgam as suas emissões em viagens (ou mesmo emissões totais), são grandes emissores e não têm compromissos ou objectivos específicos de redução das emissões das viagens.
A ZERO e a T&E consideram que a pandemia foi a prova cabal de que as empresas quer na Europa quer nos EUA podem ser igualmente eficazes nas suas actividades fazendo menos viagens de avião e sendo responsáveis por menos emissões. Mais, a redução das viagens de negócios faz sentido económico para as empresas e contribui para o bem-estar dos seus empregados. Numa altura em que os líderes e cidadãos clamam pela redução da dependência do petróleo, viajar de forma responsável é uma forma fácil de o conseguir. Por isso, empresas como a Volkswagen, Google ou Microsoft, com poucas acções nesse sentido, têm de se emprenhar mais e cumprir a sua quota-parte num desígnio que deve ser de todos.
E as empresas portuguesas visadas? Todas com classificação medíocre, alerta a ZERO
A ZERO identificou todas as empresas portuguesas presentes no ranking, num total de nove empresas. Infelizmente, nenhuma delas classifica bem, pois não há classificações melhores que C, nem pontuações, numa escala até 12,5, melhores que 4, conforme mostra a lista abaixo, em que os lugares cimeiros correspondem às empresas mais bem posicionadas.
Note-se que há dois fatores importantes a contribuir para este panorama: a posição periférica de Portugal na Europa, que torna difícil em muitas viagens para a Europa a substituição do avião pelo comboio (que tem larga vantagem ambiental, dadas as emissões em ferrovia serem muito inferiores às aéreas); e a falta de ligações ferroviárias satisfatórias que poderiam ser usadas para substituir uma parte importante do tráfego aéreo empresarial, nomeadamente o doméstico continental (principalmente a ponte aérea Lisboa-Porto) e as ligações aéreas com Espanha (principalmente Madrid) – todo este tráfego aéreo poderia e deveria ser substituído pelo comboio. Por isso, é importante que o Governo dê às empresas condições para efectuarem esta mudança, investindo em ligações de comboio eficazes.
Mas isto não desculpa inteiramente as empresas portuguesas, pois a classificação é obtida com base em vários parâmetros para os quais a existência de alternativa ferroviária não tem influência – por exemplo, parâmetros relacionados com a simples existência de objectivos de redução de emissões e a respectiva data, ou o reporte de emissões das viagens aéreas. Por outro lado, as reduções nas emissões devem ser conseguidas não só através da mudança do modo de transporte, mas sobretudo através de viajar menos, mantendo apenas as viagens estritamente necessárias.
Iniciativa Viajar Responsavelmente apela à consciência ambiental nas empresas
A iniciativa Viajar Responsavelmente, da qual fazem parte a ZERO coligada com 12 parceiros no âmbito da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, surge num momento crucial para a indústria das viagens, uma vez que os voos empresariais regressaram no período pós-fase aguda da pandemia. Em 2019, as viagens de negócios no mundo inteiro representaram cerca de 15 a 20% de todas viagens aéreas, ou cerca de 154 milhões de toneladas de dióxido de carbono (MtCO2), isto é, cerca do triplo das emissões totais em Portugal (ou o sêxtuplo, se considerarmos o efeito não CO2 dessas viagens). Mas em 2020, com a pandemia, essas emissões baixaram drasticamente, e em muitos casos trata-se de uma redução perfeitamente viável de manter por parte das empresas. De facto, a redução das viagens empresariais é a forma mais fácil, rápida e eficaz de reduzir as emissões da aviação no curto prazo. Ao reduzir as viagens de negócios em 50%, reduzir-se-iam as emissões em 32,6 MtCO2 até 2030 na Europa, o que equivale a retirar 16 milhões de automóveis poluentes das estradas.
A ZERO no âmbito da iniciativa Viajar Responsavelmente apela às empresas que:
Neste âmbito, a ZERO endereçou pessoalmente às empresas portuguesas convites para se juntarem à iniciativa Viajar Responsavelmente.
Nota:
(1)Ranking disponível em https://zero.ong/wp-content/uploads/2022/05/Smart-Travel-Briefing-1.pdf
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