Início » ZERO estima redução de 52 mil toneladas de CO2 por dia em relação a março de 2019
Quebra nos consumos de gasóleo, gasolina e combustível para a aviação com paragem das centrais a carvão e ligeiro recuo do consumo de eletricidade conduziram a enorme redução de emissões de gases com efeito de estufa.
A crise económica associada ao novo coronavírus em conjugação com a paragem no uso de carvão para produção de eletricidade, conduziu a uma redução inédita e sem precedentes das emissões de gases com efeito de estufa em Portugal.
A ZERO, com base quer nos últimos dados divulgados na imprensa* relativos à quebra de consumo de gasóleo e gasolina (quebra de 60% nas vendas de gasolina e de 40% nas vendas de gasóleo), quer dos dados de março de 2019 proporcionados pela Direção-Geral de Energia e Geologia, estimou uma quebra de emissões associadas ao transporte rodoviário de 56% (de uma média de 48,3 mil toneladas de CO2 por dia para 21,2 mil toneladas de CO2 por dia).
Recorrendo aos dados das Redes Energéticas Nacionais (REN) relativos ao mês de março de 2020 e à comparação com o período homólogo, verifica-se um decréscimo de emissões de 373 mil toneladas de dióxido de carbono para o total de março, com um aumento de percentagem da produção renovável em relação ao total da produção de 64,2% para 73,5%. A paragem da central a carvão de Sines, já que a central do Pego no ano passado também já tinha estado praticamente parada todo o mês, traduziu-se numa redução de emissões de 515 mil toneladas de dióxido de carbono. Deve ainda considerar-se uma ligeira quebra do consumo de eletricidade da ordem dos 0,5% à escala mensal, mas que foi muito mais elevada na última quinzena. Neste quadro, as emissões médias diárias de CO2 recuaram de 26,7 mil toneladas dia para 14,7 mil toneladas dia.
No total dos setores do transporte rodoviário e da produção da eletricidade, verifica-se um recuo de 75 mil toneladas para 36 mil toneladas de dióxido de carbono por dia, isto é, uma redução da ordem dos 52%. O valor de redução de cerca de 40 mil toneladas de dióxido de carbono por dia, corresponde a 22% do total de emissões diárias médias de gases de efeito de estufa de Portugal em 2018 (informação mais recente).
No que respeita à aviação, apenas uma pequena fração é considerada da responsabilidade dos países (voos domésticos e as emissões do combustível associadas à aterragem e descolagem). Porém, se considerarmos o contributo para as alterações climáticas associado aos voos a partir de Portugal, tendo em conta um recuo de pelo menos 95% no número total de voos e as quantidades de jet-fuel consumidas em Portugal reportadas pela Direção Geral de Energia e Geologia, verifica-se uma redução de aproximadamente 12,7 mil toneladas de dióxido de carbono por dia (de 13,3 para 0,6 quando comparamos março de 2019 e o final de março de 2020).
Neste contexto, somando os dados do transporte rodoviário, do setor elétrico e da aviação, as emissões associadas a Portugal sofreram uma redução de pelo menos 52 mil toneladas de dióxido de carbono por dia, valor este muito significativo e que pode vir ainda a ser mais expressivo com o recuo de outros setores da atividade económica.
Dados de 2018 divulgados há poucos dias – Portugal reduziu as suas emissões em 4,5% entre 2017 e 2018
A ZERO analisou igualmente os dados mais recentes de emissões submetidos por Portugal à Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas** relativos ao ano de 2018. É de notar que os valores finais das emissões de gases com efeito de estufa de cada país são submetidos cerca de 14 meses depois de terminado o ano a que se reportam.
Entre os valores a salientar, e excluindo a floresta, refira-se o recuo das emissões de cerca de 70 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente para 67 milhões entre 2017 e 2018, uma redução de 4,5 %. Incorporando a floresta, e dadas as elevadíssimas emissões verificadas em 2017 devido aos incêndios, tendo a floresta nesse ano sido um emissor líquido em vez de sumidouro, houve um recuo de 80 para 61 milhões de toneladas – menos 24,5% – em 2018).
Num olhar mais atento, a ZERO sublinha alguns dos aspetos que considera mais relevantes na comparação entre 2017 e 2018 e que devem orientar políticas futuras rumo à neutralidade carbónica a atingir em 2050:
Redução das emissões é conjuntural mas na recuperação económica deve ser estrutural
Estamos a passar por uma catástrofe humana, de vidas perdidas, doenças generalizadas, dificuldades sociais sem precedentes, com muito desemprego a ter lugar. Portugal está a derrubar regras para reduzir o impacte do coronavírus, preparando pacotes de estímulo à economia. Por um lado há pedidos para resgatar companhias aéreas, empresas de navios de cruzeiro, o setor de combustíveis fósseis, e por outro lado é preciso apoiar as pequenas e médias empresas, os cidadãos que perderam os seus empregos ou fontes de rendimento ou ainda os necessários apoios ao setor de saúde.
A Europa, com o seu Pacto Ecológico, traça uma agenda verdadeiramente transformadora, impulsionando a descarbonização de nossas economias, criando milhões de empregos seguros e mudando de modelos de produção com uso intensivo de recursos lineares para modelos circulares mais sustentáveis que buscam zero desperdício. No caso de Portugal, com um ambicioso Plano Nacional de Energia e Clima e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica para 2050, para além dos projetos associados a Lisboa Capital Verde Europeia, torna-se ainda mais pertinente uma mudança de rumo no que a um futuro sustentável diz respeito.
* https://expresso.pt/coronavirus/2020-03-26-Coronavirus-afunda-vendas-de-combustiveis-mais-de-50-1
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