Início » ZERO identifica apenas seis marcas de roupa que assumem responsabilidade parcial pelos resíduos que geram
A ZERO assinala a semana europeia da prevenção de resíduos, este ano dedicada ao tema do têxteis, divulgando os resultados de uma análise que efetuou às lojas online de 35 grandes marcas de roupa. Este trabalho revelou que apenas 6 marcas (17%) referem ter iniciativas de recolha para reciclagem.
Ainda que a reciclagem esteja longe de ser a principal solução para este setor, é preocupante ver como a maioria das marcas não assume ainda a sua quota parte de responsabilidade pela gestão deste fluxo de resíduos que, só nos resíduos urbanos, representa 3,45% do total de resíduos recolhidos. Segundo o Relatório Anual de Resíduos Urbanos, em 2021 foram recolhidas 176 400 toneladas de resíduos têxteis pelos sistemas de gestão de resíduos urbanos.
Este é um valor preocupante, mas representa apenas uma parte do problema, pois não estão aqui contabilizados os têxteis recolhidos de forma seletiva por entidades sem fins lucrativos.
A ZERO considera urgente a aplicação de uma abordagem adequada da responsabilidade alargada do produtor (RAP) ao setor dos têxteis, de forma a garantir que é quem coloca o produto no mercado que financia o sistema de encaminhamento e tratamento dos resíduos quando estes chegam ao fim da sua vida. Contudo, não podemos ter uma RAP assente apenas em “pagar para poluir”. É fundamental que o foco seja na redução da produção, no incentivo a têxteis duráveis/reutilizáveis/reparáveis e na garantia que a sua produção é feita a pensar também na sua reciclagem em upcycling, ou seja, fibra reciclada que possa ser usada para fazer novos têxteis.
Considerando que segundo a Diretiva Quadro de Resíduos os Estados Membros da União Europeia (UE) são obrigados a ter a recolha seletiva de têxteis operacional a 1 de janeiro de 2025 e que esta recolha só faz sentido no âmbito da aplicação da responsabilidade alargada do produtor, é urgente garantir o enquadramento legal que permita tornar o setor circular.
Principais características da responsabilidade alargada do produtor no setor dos têxteis
A responsabilidade alargada do produtor é uma abordagem já seguida para outros fluxos de resíduos, mas que pouco tem sido capaz de alterar o paradigma de produção e consumo e ainda está muito longe de ser eficaz a promover a reutilização e a reciclagem.
Para a ZERO, é fundamental não cometer o mesmo erro no setor dos têxteis, pelo que é fundamental que as seguintes orientações estejam presentes:
– Objetivos claros de redução, reutilização e reciclagem, autónomos entre si, de forma a garantir que o investimento financeiro e humano respeita a hierarquia de gestão de resíduos.
– Aplicação da ecomodulação, de forma a que o ecovalor – valor que as marcas que colocam os produtos no mercado têm de pagar por cada peça – desincentive a produção em quantidade, a baixa qualidade e a difícil reciclabilidade.
– Critérios mínimos de durabilidade, de reparabilidade e reciclabilidade, que, se não respeitados, impeçam o produto têxtil de ser comercializado.
– Percentagens fixas de alocação de parte do ecovalor à reutilização de têxteis, de forma a que esta prática seja prioritária e que a infraestrutura necessária seja montada para o efeito.
– Assegurar uma boa rede de recolha (não apenas nas cidades).
– Promover a reciclagem em sistema fechado – fibra para fibra (evitar o downcycling).
– A exportação de têxteis deve obrigar a triagem prévia (por exemplo, 40% das exportações de têxteis para o Gana são resíduos, muito embora sejam apresentadas como têxteis para reutilização).
– Transparência no processo de forma a garantir dados credíveis e informação clara e acessível, ao mesmo tempo que se cria um sistema robusto de verificação que previna a existência de marcas que não pagam o ecovalor ou que pagam apenas de uma parte do que colocam no mercado, por ausência de fiscalização eficaz.
– Devem ser incluídos têxteis para além do vestuário.
– Garantir acesso do setor social à roupa em segunda mão.
Qual a situação dos têxteis em Portugal e na União Europeia
Segundo dados europeus são produzidas 5,8 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano na UE, o que corresponde a cerca de 11 kg por pessoa/ano.
Segunda a caracterização de resíduos de Portugal Continental os têxteis representam 3,45% dos RU e tendo por base os dados do último Relatório anual de Resíduos Urbanos (RARU 2021), só nesse ano foram recolhidas 176 400 toneladas deste tipo de resíduos.
A nível europeu, o setor dos têxteis é o 4.º com maior impacte no ambiente e nas alterações climáticas e o 3.º com maior uso de recursos hídricos e solo. É importante ter presente que 80% dos impactos ocorrem fora do espaço da UE. Assenta, cada vez mais em fontes não renováveis – como o poliéster que é um recurso fóssil – e é uma das grandes fontes de libertação de microfibras (fibras sintéticas).
O contributo de cada um de nós!
– Menos é mais!
– Usar ao máximo o que já se tem ou…
– Atualizar (com ajuda externa ou não) ou…
– Doar/vender/trocar
– Comprar com qualidade
– Preferir peças monomaterial (mínimo de mistura de fibras) e preferencialmente de origem renovável
– Exigir mais das marcas, por exemplo, em termos da qualidade, do tipo de fibras usadas e da sua assunção da responsabilidade pela gestão dos produtos que colocam no mercado quando se transformam em resíduos.
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