ZERO lança recursos gratuitos para combater tabus e promover literacia menstrual junto de jovens

Falar de menstruação é necessário para garantir saúde, sustentabilidade e justiça social – nova sessão de formação dia 25 de outubro, no Porto

Apesar de fazer parte da vida de milhões de pessoas, a menstruação continua a ser um tema rodeado de silêncio, desconforto e desconhecimento. Esta realidade tem implicações diretas na saúde física e mental, na igualdade de género e na sustentabilidade ambiental, e exige uma resposta informada e inclusiva por parte sociedade.

Ao mesmo tempo, a utilização de soluções descartáveis, como os pensos e os tampões de uso único, colocam um enorme desafio ambiental, sendo um dos 10 itens mais encontrados em praias. São também produtos que normalmente têm na sua constituição plástico, para além de poderem conter substâncias químicas que colocam riscos à saúde e ao ambiente.

Para apoiar a mudança rumo a uma sociedade mais informada, compassiva e sustentável, a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável desenvolveu, em parceria com 7 parceiros europeus, um conjunto de recursos direcionados a quem quer fomentar este debate em diferentes contextos. Entre os recursos disponibilizados gratuitamente estão: um manual de enquadramento do tema (de apoio a formadores), um conjunto de atividades para levar ao debate do tema da menstruação sob diferentes ângulos e uma apresentação em PowerPoint que pode ser adaptada/reduzida para ir ao encontro das necessidades do momento.

O impacto ambiental e económico dos produtos menstruais

Para além das barreiras sociais e económicas, a menstruação tem também um impacto ambiental expressivo. Estima-se que uma pessoa que menstrua utilize, em média, 10.000 pensos ou 15.000 tampões descartáveis ao longo da vida, gerando cerca de 125 kg de resíduos que podem demorar séculos a decompor-se. Alternativas como o copo ou disco menstrual, as cuecas menstruais e os pensos reutilizáveis de pano reduzem o desperdício e permitem poupanças significativas.

Um estudo de mercado realizado pela ZERO em Portugal em 2024 mostrou que, apesar do custo inicial mais elevado, os produtos menstruais reutilizáveis são muito mais económicos a médio e longo prazo. Por exemplo, um copo menstrual custa cerca de 80€ ao longo de toda a vida menstrual (considerando que serão necessários cerca de 4 copos, visto que duram 10 anos), enquanto o gasto médio com pensos ou tampões descartáveis convencionais ultrapassa os 2.000€, e com produtos descartáveis orgânicos chega a quase 3.800€. Ou seja, ao optar por descartáveis convencionais, uma pessoa que menstrua pode gastar cerca de 26 vezes mais do que quem usa reutilizáveis, e até 47 vezes mais no caso dos produtos orgânicos.

Há avanços, mas os tabus persistem

Nos últimos anos, Portugal tem dado passos importantes — como a entrada em vigor, em abril de 2025, da licença menstrual para pessoas com diagnóstico médico de endometriose ou adenomioma (até três dias pagos por mês) e o início da distribuição gratuita de produtos menstruais em escolas e centros de saúde. Embora sejam maioritariamente descartáveis, esta medida constitui um avanço significativo no combate à pobreza menstrual e na garantia de acesso universal a produtos essenciais que, ao longo de uma vida a menstruar, representam um custo económico considerável.

Ainda assim, a menstruação permanece um tema invisível em muitos contextos educativos, profissionais e familiares. Desconstruir tabus e mitos que limitam o bem-estar e a liberdade de tantas pessoas que menstruam é, por isso, fundamental. Falar sobre menstruação com base em evidência científica, respeito e inclusão é garantir saúde pública, igualdade de oportunidades e escolhas mais sustentáveis.

Projeto MENSY: recursos gratuitos para educar e empoderar

A pensar nestes desafios, a ZERO, em colaboração com 7 parceiros europeus, está envolvida no projeto MENSY – Menstruação: Capacitação e Sustentabilidade, financiado pelo programa Erasmus+. O principal objetivo é combater mitos e tabus associados à menstruação, promovendo a disseminação de informação acessível e baseada em evidência, especialmente dirigida a jovens, com uma forte componente de sustentabilidade.

No âmbito do projeto, já se encontram disponíveis os seguintes recursos:

• Um manual informativo, com explicações claras sobre o ciclo menstrual, pobreza menstrual e opções de produtos menstruais sustentáveis;
• Uma apresentação em powerpoint (editável) que pode ser usada e adaptada pelos formadores;
• Um guião de atividades pensado para ser utilizado com grupos de jovens;

O projeto inclui ainda formações gratuitas destinadas a pessoas que trabalham com jovens ou que tenham interesse no tema. A próxima sessão de formação está agendada para 25 de outubro, no Porto (formulário de inscrição) e terá lugar na Pousada da Juventude do Porto. 

Até ao momento já foram formados 50 multiplicadores (pessoas que na sua atividade profissional ou cívica estão em contacto com jovens e pretendem contribuir para o seu empoderamento sobre o tema).

No seu conjunto, estes recursos procuram quebrar o silêncio, promover o conhecimento e criar espaços seguros onde a menstruação possa ser discutida com abertura, rigor e empatia.