Início » Origem nacional constatada em dois terços dos frescos comercializados e apenas em metade das frutas
ZERO investigou se a produção nacional de hortícolas e frutas chega às prateleiras dos supermercados
É já um hábito entre nós os consumidores serem “sensibilizados” por parte dos grandes grupos distribuidores com mensagens de que se está favorecer a produção nacional e a apoiar os agricultores portugueses, sendo o lema “apoiamos a produção nacional!” algo que se foi interiorizando nos últimos anos. Mas até que ponto é que esta mensagem corresponde à realidade? Foi isso que a ZERO quis saber quando efetuou uma avaliação indicativa quanto à origem de alguns produtos hortícolas – que adiante serão designados por frescos – e de frutas que consumimos diariamente, tendo por base numa iniciativa colaborativa de voluntariado, na qual participaram 46 associados. Foram realizados 49 inquéritos aos frescos no mês de maio e 45 inquéritos à frutas no mês de junho, em superfícies comerciais de Portugal Continental e da Região Autónoma da Madeira, tendo o alvo dos inquéritos sido apontado para produtos cuja produção pode ser satisfeita localmente dentro da época do ano mais adequada, sem que haja necessidade dos mesmos percorrem grandes distâncias até chegarem ao consumidor.
Mais de dois terços dos frescos têm origem nacional
Na avaliação efetuada constatou-se que cerca de 65% dos frescos comercializados tinha origem nacional, havendo mesmo oito exemplos – acelga, coentros, fava, grelos, nabiça, nabo e rabanete – em que a produção era totalmente portuguesa. Abaixo dos 50% de produção nacional podemos encontrar produtos de grande consumo como o tomate, o pimento, a curgete, a cebola e a batata, o que revela que muito há a fazer para favorecer a produção nacional e prevenir impactes ambientais das deslocações no que respeita à horticultura. De salientar que, ao nível dos frescos, e segundo a nossa amostra, 19% dos produtos hortícolas são originários de Espanha e 8% chegam-nos de França.
Cenário preocupante nas frutas
Se nos produtos hortícolas se verifica um esforço de incentivo à produção nacional, os resultados dos inquéritos efetuados à realidade das frutas mostram que o cenário está longe do ideal, já que apenas 50% dos frutos são de produção nacional. Os dois únicos casos em que se atingem os 100% de origem nacional são o dos morangos e o das amoras, sendo que apenas as ameixas (82%), o figo (77%), a cereja (64%) e o pêssego (60%), se encontram com valores acima dos 50% nos diferentes locais amostrados. Mais surpreendente, e pela negativa, foram os casos do limão, com 24% de origem nacional, e da uva, com 23%, algo que certamente não poderá ser facilmente explicado, atendendo a que as principais origens destes produtos são países próximos, com climas similares, como a Espanha e Marrocos. Um outro aspeto que se considerou importante foi saber se as produções insulares de ananás, este com origem na Região Autónoma dos Açores, e a banana, e esta com produção na Região Autónoma da Madeira, seriam beneficiadas pela distribuição nacional, algo que não se verificou nas amostragens efetuadas, já que os números rondam, repetivamente, os 25% e os 27%.
Forte impacte ambiental dos transportes implica maior aposta na produção local
É hoje commumente aceite que a produção de alimentos é o sector económico que mais contribui para as alterações climáticas, representando quase 30% das emissões de gases causadores dos efeito de estufa, os quais estão na origem das alterações climáticas, mas também que está a causar danos significativos na biodiversidade e nos ecossistemas florestais, de água doce e também nos marinhos. É pois um contexto que obrigará, já no curto prazo, a refletir sobre um conjunto de disfunções criadas pela globalização das economias e a regular cada vez mais a distribuição de alimentos e as relações entre produtores, intermediários e consumidores. Só assim será possível promover a agricultura de proximidade, justa e equilibrada, e evitar impactes ambientais significativos criados pelo transporte de alimentos que poderiam ser produzidos localmente. Para tal será também necessário que os consumidores sejam cada vez mais conscientes e informados, que os incentivos financeiros sejam bem direcionados, e que se crie um quadro regulatório adequado.
A ZERO advoga assim um conjunto de medidas de discriminação positiva dos agricultores e uma maior responsabilização dos consumidores pelas escolhas que fazem no dia a dia, designadamente:
Frescos: Abóbora, Acelga, Agrião, Aipo, Alcachofra, Alface, Alho seco, Alho francês, Batata consumo, Batata doce, Beringela, Brócolos, Cebola, Cenoura, Chuchu, Coentros, Curgete, Couve, Endívia, Ervilha, Espargos, Espinafres, Fava, Feijão-verde, Funcho, Gengibre, Grelo-de-nabo, Grelo-de-couve, Inhame, Malagueta, Mandioca, Nabiça, Nabo, Pastinaca, Pepino, Pimento, Rabanete, Rábano, Tomate.
Fruta: Alperce, Ameixa, Amora, Cereja, Figo, Morango, Melancia, Melão, Pêssego, Uva, Limão, Ananás, Banana.
Continente, Lidl, Pingo Doce, Intermarché, Jumbo, Aldi, El Corte inglês, Dia – Mini-preço, E-Leclerc, Miosotis, Supercor, Spar.
Alcochete, Almada, Amadora, Aveiro, Braga, Cascais, Estremoz, Évora, Funchal, Gaia, Lisboa, Mafra, Montijo, Odemira, Oeiras, Ourém, Palmela, Santa Maria da Feira, Seixal, Setúbal, Sintra, Tomar, Torres Novas, Vila Franca de Xira.
Créditos fotografia: Francisco Ferreira
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