Início » ZERO pede que todos os automóveis novos vendidos em Portugal a partir de 2035 sejam 100% elétricos
ZERO divulga estudo europeu que coloca os automóveis 100% elétricos ao mesmo preço que os convencionais a partir de 2025 e 18% mais baratos em 2030.
A queda no preço das baterias e a mudança para plataformas de fabrico dedicadas a veículos eléctricos por parte das construtoras permitirão grandes reduções nos custos de produção
Para a Europa cumprir os seus compromissos climáticos e ambientais de redução das emissões e de zero poluição, a electrificação total dos automóveis, através de automóveis 100% eléctricos a bateria ou a pilha de combustível de hidrogénio, terá de ocorrer rapidamente. Por isso, vários países e cidades na Europa, e mesmo alguns fabricantes de automóveis, têm-se empenhado numa futura mobilidade totalmente eléctrica livre de emissões, estabelecendo metas para o efeito. Neste contexto, em que por exemplo o Reino Unido decretou o fim da comercialização de automóveis novos exclusivamente a motor de combustão já a partir de 2030, e com a importante cimeira das Nações Unidas sobre o clima em Glasgow no próximo mês de Novembro, as atenções viram-se para a União Europeia (UE), presentemente a preparar um extenso pacote de legislação sobre o clima a publicar em Julho.
Do ponto de vista climático, industrial e do comprador, os automóveis ligeiros eléctricos puros, de passageiros e de mercadorias, são a tecnologia do futuro. Mas estão a UE e os Estados Membros dispostos a decretar que estes veículos representarão 100% das vendas até 2035? E as famílias e as micro e pequenas e empresas, nas cidades e província, terão possibilidade de adquirir estes automóveis? A resposta está num estudo da autoria da BloombergNEF feito para a Federação Europeia de Transportes e Ambiente (T&E)[1], que a ZERO integra, e é sim – mas para isso a UE tem de adoptar um pacote de medidas adequado.
O estudo mostra que entre 2025 e 2027 os automóveis eléctricos a bateria atingirão o mesmo preço que os modelos equivalentes a combustível fóssil, e não dependerão de incentivos para isso. Os ligeiros de mercadorias mais pequenos alcançarão a paridade de preço mais cedo, em 2025, e os ligeiros de passageiros em 2027, com os automóveis familiares de gama média e alta e os SUVs a atingir a paridade em 2026. Em 2030, os carros eléctricos serão mesmo no preço base 18% mais baratos que os com motor de combustão.
A descida de preço acontece por dois motivos:
As conclusões a que o estudo chegou são válidas em diversas circunstâncias e partindo de várias premissas, e por isso é seguro afirmar que dentro de entre quatro a seis anos os automóveis eléctricos serão a opção mais barata para os condutores, tornando acessível a transição para a mobilidade eléctrica.
O estudo modelou ainda a viabilidade de alcançar 100% de eléctricos puros nas vendas de novos automóveis não só em toda a Europa mas também em várias sub-regiões continente, como seja o norte da Europa, a Europa ocidental-central, a Europa de leste e a Europa do sul. Os resultados mostram que com um pacote de políticas públicas apropriado os automóveis a combustão podem ser totalmente retirados das vendas em todos os países entre 2030 e 2035. Para isso, ao nível da Europa, a quota de eléctricos puros nas vendas totais tem de atingir os 22% em 2025, os 37% em 2027 e os 67% em 2030.
Assistir-se-á a uma aceleração acentuada nas vendas de eléctricos a partir de 2025, à medida que a paridade for sendo atingida, mas a trajectória será diferente entre países. No caso dos países do norte, que inclui a Escandinávia, a Holanda e Islândia, o mercado 100% eléctrico atinge-se logo em 2030; no caso dos países da Europa ocidental-central (incluindo a França, Alemanha e Reino Unido), isso acontece em 2034 – o que é compatível com o objectivo de o Reino Unido só vender eléctricos a partir de 2030, incluindo plug-ins, e eléctricos puros a partir de 2035.
No caso dos países do sul, em que além de Portugal estão a Espanha e Itália, a trajectória é paralela à dos países ocidentais-centrais, mas com um atraso de um ano, sendo possível o mercado ser inteiramente composto de eléctricos em 2035. Em relação aos países de leste (um conjunto de 12 países, incluindo a Polónia, a Grécia e a Roménia), partem com atraso, pois nestes países o mercado de usados é preponderante, pelo que o grande crescimento de eléctricos nas vendas só acontece a partir do final da década. Nestes países, os eléctricos puros atingem 44% das vendas em 2030, apesar de a paridade de preço ser atingida vários anos antes. Contudo, a partir dessa altura a implantação de eléctricos far-se-á de forma rápida.
Normas actuais das emissões de CO2 ficam aquém do necessário para estimular a indústria de elétricos
Contudo, apenas um incremento atempado na produção de automóveis eléctricos permitirá consubstanciar estas projecções, pois só desta forma se atingirão as economias de escala necessárias para atingir a paridade de preço em 2025-27 e o mercado totalmente composto de eléctricos em meados da década de 2030. Isto tem implicações importantes nos regulamentos ambientais do sector automóvel na UE, nomeadamente nas normas das emissões de CO2, que serão revistas no próximo mês de Julho. Estas normas (curva cinzento-escura na figura acima) estão totalmente desalinhadas com o mercado, e portanto não estão a estimular os investimentos necessários para que a indústria de automóveis eléctricos cresça o suficiente. Um crescimento desta indústria que fique aquém das projecções que o estudo mostra porão em causa a instalação de múltiplas fábricas de baterias de larga escala projectadas para a Europa, pois o mercado poderá não dar vazão à produção.
Na verdade, para ser possível um mercado composto unicamente por automóveis 100% eléctricos em 2035, os novos carros vendidos na Europa em 2025 terão de emitir -30% de CO2, em 2027 -45%, e em 2030 cerca de -80%. Aumentar as exigências nas normas que entrarão em vigor em 2030 não chega, pois as construtoras só farão os investimentos necessários para o seu cumprimento nos últimos anos da presente década, o que é tarde demais. Ou seja, é necessário rever em alta as exigências normativas de curto e médio prazo na UE.
No caso dos ligeiros de mercadorias, sujeitos a normas mais brandas, a situação é mais problemática, já que os objectivos de regulação para 2025 e 2030 são demasiado baixos para estimular o mercado de automóveis eléctricos, e portanto corre-se o risco de as reduções neste segmento de veículos serem alcançadas única e exclusivamente por melhorias de eficiência no motor de combustão, que não são suficientes e não resolvem o problema da poluição urbana.
Procuram-se políticas públicas criativas
Para além da via da regulação, há toda uma panóplia de políticas públicas de estímulo aos automóveis eléctricos que serão necessárias, como os incentivos fiscais criativos, a instalação de uma rede de carregamento ampla e densa, a limitação à circulação de automóveis a combustão no centro das cidades, e as metas nacionais.
No caso da política fiscal, há o risco de os tradicionais benefícios fiscais se começarem a tornar incomportáveis à medida que as vendas de automóveis eléctricos disparam. Uma alternativa melhor é adoptar um sistema fiscal que penaliza os carros poluentes consignando essa receita aos apoios a modelos sem emissões, como já existe em França, Itália e Suécia. No caso dos postos de carregamento, é vital a sua disponibilização nos locais de residência, no trabalho, em superfícies comerciais, nas auto-estradas, e nos parques de estacionamento. A Europa deverá ainda legislar no sentido de todos os Estados Membros terem obrigatoriamente de cumprir mínimos no que toca às redes de carregamento. Os processos de aprovação e licenciamento de instalação de carregadores deverão ser simples e céleres.
Governo português deve colocar uma data limite, o mais tardar 2035, para o fim da comercialização de ligeiros de passageiros e de mercadorias com motor de combustão
A ZERO considera que ainda que o governo português deve colocar uma data limite, o mais tardar 2035, para o fim da comercialização de veículos ligeiros de passageiros e de mercadorias com motor de combustão, incluindo híbridos e híbridos plug-in – em linha com as recomendações da Agência Internacional da Energia, que diz que em 2035 isso tem de acontecer no mundo inteiro –, ficando prevista a possibilidade da sua antecipação conforme o desenvolvimento da mobilidade verde, nomeadamente a nível tecnológico, de preços e de infra-estrutura de suporte.
Por outro lado, as vendas de carros a empresas representam uma grande fatia do mercado de automóveis, sendo que estes carros percorrem cerca de 2,25x mais quilómetros que os privados, poluindo proporcionalmente. No caso de frotas empresariais e frotas e urbanas, os automóveis 100% eléctricos são já em muitos casos a opção mais custo-eficaz, tendo em conta o custo total de propriedade dos veículos, que inclui os custos de aquisição, de combustível, fiscais, manutenção e valor residual, o que quer dizer que, nestes casos, a total electrificação poderá e deverá acontecer mais cedo, o mais tardar em 2030.
Não obstante, os gestores de frotas empresariais continuam esmagadoramente a optar por veículos a combustão, comportamento que importa corrigir. Há ainda a notar que os automóveis empresariais são descomissionados cedo para o mercado de usados, o qual representa uma fatia importante do comércio automóvel, dentro do qual os automóveis eléctricos podem ganhar uma desejável quota por esta via. Por isso, nas frotas de automóveis de empresas, incluindo as de leasing, e na frota de automóveis do Estado Português, faz sentido ficar estabelecido que deixa de ser permitida a inclusão de novos automóveis com motores de combustão a partir de 2030. Este objectivo deverá poder ser antecipado conforme a conjuntura.
A ZERO recomenda ainda a instauração de zonas no interior das cidades, não apenas circunscritas aos centros históricos, com severas restrições à utilização do automóvel privado com emissões, em particular a gasóleo, e reforço geral, e nessas zonas em particular, do serviço de transporte público bem como do apoio a modos suaves de deslocação, pois estes sãos os verdadeiros pilares da mobilidade sustentável no futuro.
Uma transição energética requer zero emissões, sob pena de a Europa e os seus cidadãos serem ambiental e socialmente defraudados
No caso de medidas como estas não serem implementadas na Europa, o risco de que a indústria europeia não acompanhe a tendência e a procura por automóveis eléctricos é real, deixando-se ficar para trás no mercado e cadeia de valor da mobilidade eléctrica, que representa muitos empregos. Quanto mais recursos valiosos a indústria aplicar numa tecnologia condenada como a dos automóveis convencionais, mais anacrónica se tornará, e portanto os vencedores serão os que se converterem mais cedo – nos mercados financeiros as construtoras que não têm estratégias claras de electrificação começam mesmo a ser tidas como geradoras de custos afundados e irrecuperáveis. Uma transição energética requer zero emissões, sob pena de a Europa e os seus cidadãos serem ambiental e socialmente defraudados.
[1] Estudo disponível em https://www.transportenvironment.org/sites/te/files/publications/2021_05_Briefing_BNEF_phase_out.pdf
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