Duelo Sustentável: Reciclagem Vs. Reutilização
O desenvolvimento dos produtos disponíveis no mercado e a forma como estes são colocados à disposição do consumidor refletem-se proporcionalmente na quantidade de resíduos que é necessário eliminar.
Esta tendência conduz a vários problemas ambientais associados à insustentabilidade do planeta. Os enormes impactos ambientais da extração de matérias-primas, os elevados consumos de água e energia implicados não só na fase de extração, mas também de transporte, transformação e fabrico dos produtos. A estes problemas podemos acrescentar ainda a fase de descarte, com o aumento da área destinada à instalação de aterros que acumulam os resíduos produzidos, tendo como impactos a produção de águas lixiviadas e de gases com efeito de estufa (como o metano), entre outros.
Uma alternativa ao paradigma dominante de Economia Linear – extrair, produzir, usar e descartar – que se tem provado cada vez mais insustentável, é a Economia Circular que propõe um novo olhar para a nossa forma de produzir, consumir e descartar, com a finalidade de otimizar os recursos do planeta e gerar cada vez menos resíduos.
A reutilização e a reciclagem são dois processos que convergem na direção de uma economia mais circular e sustentável. Apesar de serem processos diferentes, são igualmente importantes na sua contribuição para a gestão de resíduos e sustentabilidade do meio ambiente. Ambos têm objetivos idênticos:
– Combater o desperdício de materiais;
– Reduzir a pressão de exploração sobre os recursos naturais;
– Diminuir a quantidade de resíduos e rejeitados gerados.
Embora bastante conhecidos, os conceitos de reutilização e reciclagem ainda geram algumas dúvidas quanto ao seu papel na economia circular.
Qual a diferença entre reciclar e reutilizar? E qual das duas alternativas é mais sustentável?
Quando falamos em reciclagem de um resíduo, a ideia central é a sua transformação num novo produto. O novo produto pode possuir uma nova utilidade e um valor diferente do apresentado pelo material original. Por exemplo, as garrafas PET são transformadas noutras embalagens ou em fibra de poliéster usada em tecidos, pneus antigos são transformados em composto para asfalto.
Por outro lado, a reutilização não pretende a transformação em novo produto, mas o reaproveitamento do produto original em diversas outras possibilidades de utilização. Assim, papéis usados podem virar blocos de rascunho, garrafas podem tornar-se objetos de decoração, latas podem ser vasos para plantas, etc.
A meta da reciclagem é inserir o material num novo ciclo de produção, reduzindo os impactos da extração e consumo de recursos naturais, muitas vezes não renováveis. No entanto, a reciclagem trata-se de um processo industrial, também requer a utilização de água, energia e pode libertar poluentes para a atmosfera e água.
A reutilização de um material, por outro lado, dispensa um novo ciclo de produção e adia a sua entrada no circuito do lixo, aliviando a pressão nos aterros.
Isso quer dizer que a reutilização é uma prática mais sustentável do que a reciclagem? Sim, mas na verdade são ambos comportamentos desejáveis no cumprimento de uma economia tendencialmente circular. Praticar reutilização e reciclagem são princípios de um consumo consciente, são práticas que se complementam para manter os materiais por mais tempo fora do circuito do lixo. Desta forma, otimiza-se a sua utilização e tira-se um maior proveito da matéria-prima, energia e água gastas na sua produção.
De modo a evitar a produção de resíduos, só quando não existe nenhum tipo de reutilização possível, é que este o resíduo deve ser encaminhado para a reciclagem. Neste cenário, a recolha seletiva doméstica desempenha um papel importante, uma vez que a separação correta dos resíduos aumenta o índice de aproveitamento. Caso não haja possibilidade de reciclagem, o encaminhamento deve ser feito para o lixo indiferenciado.
Concluindo, reciclar é bom, mas melhor ainda é reaproveitar o que tem condições de ser reutilizado. Mas, se falamos de ‘melhor’, devemos ter sempre em mente que, em primeiro lugar, devemos reavaliar e reduzir o nosso consumo e desperdício logo de início e questionar-nos se precisamos mesmo desse novo produto. E porquê? A fim de poupar matérias-primas, reduzir o volume dos aterros sanitários, melhorar a nossa qualidade de vida e a do planeta, do qual tanto dependemos.